No dia seguinte, logo após o café da manhã, mama praticamente expulsou Tina, Matthew e eu de casa dizendo que queria começar a preparação do bolo e que seria surpresa.
-Não faz mal. Eu vou buscar Yuri. - Disse minha irmã. - Deveria mostrar um pouco da cidade pro seu amigo, passarinho.
-Seria ótimo. - Matt concordou.
Suspirei. Caminhar por aquele lugar seria reviver momentos ruins. Traumas que eu carrego comigo até hoje e que são complicados de se lidar. Me encolhi e cruzei meus braços num abraço solitário.
-Não sei se é uma boa ideia, Tina.
-Victoria, - Tina me afastou um pouco de Matt e disse baixo - se ele é realmente seu melhor amigo precisa conhecer você por inteiro. De sonhos à traumas. De amores a ódios. Tenho certeza que ele contou muito a você quando foram pra Vegas, agora é sua vez.
-Tem razão. - Sorri fraco.
-Agora vai porque, embora a cara de confuso dele seja uma graça, ele deve estar ansioso. - Sorriu e entrou no carro. - Divirtam-se e cuidado! - Disse mais alto para que Matt também escutasse.
Quando o carro sumiu de vista, senti meu amigo se aproximar.
-Acho que temos muita história por aqui. - Sorriu doce, o que me fez espelhar o ato.
-Vamos. - Abracei seu braço e comecei a caminhar. - Tina disse que você deveria conhecer meus medos e traumas.
-Concordo com ela. - Ele me olhou sério. - Tenho que saber o que você sente também.
-Acha mesmo?
-Amizade é reciprocidade, Vicky. - Piscou.
-Tá bem. - Suspirei vencida. - Quer saber por ordem alfabética, cronológica ou por gravidade?
-Na ordem que achar melhor senhorita. - Fez uma mini reverência.
-OK, vamos. - Sorri fraco e segui caminhando com ele pelas ruas. - Mas só um aviso, eu recuso qualquer olhar de pena da tua parte.
-Agora você tá me assustando. - Replicou sincero.
-Relaxa, é só que eu odeio esse olhar de “oh meu Deus, coitadinha, vamos dar pra ela tudo o que ela quiser!”. - Fiz voz afetada fazendo-o rir. - É sério!
-Tá bom, tá bom! Sem pena. Agora vamos logo que você me deixou curioso.
-Relaxa, é só dobrar a esquina e você vai conhecer o pesadelo em forma de escola.
Ao virarmos a rua, a San Jose Primary School surgiu por entre as casas. Não era uma escola grande, mas por dentro de suas paredes de tijolos trazia pesadelos pra mim que começariam a serem revelados. Sentamos num banco na praça a frente da escola e ficamos em silencio uns instantes até Matt segurar minha mão, me dando força.
-Pode esperar o tempo que precisar. Sem pressa. - Sorriu gentil.
Respirei fundo procurando me acalmar.
-Entrei pra San Jose quando tinha 7 anos. Os primeiros passos da alfabetização eu aprendi com minha avó que era professora particular nas hora vagas. Como Tina é quatro anos mais velha que eu ela foi primeiro, obviamente, e quando eu entrei ela já estava bem mais avançada. - Parei por um segundo ao lembrar de Tina eu pequenas e um pequeno sorriso brotou em meus lábios logo desaparecendo quando continuei a falar. - Umas noites antes do início das aulas eu ouvi mama e Tina conversando. Minha irmã dizia que não sabia se era uma boa ideia que eu fosse pra essa escola. Eu sempre fui muito inocente e as crianças daí eram más. Mas mama disse que não tinha escolha, Victoria Louise Belly iria para a escola por bem ou por mal. - Minha voz embolou e eu senti minha mão gelar um pouco.
-Quer dar uma pausa? - Matthew se virou pra mim e colocou uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.
-Não, tá tudo bem. - Engoli seco e soltei o ar de meus pulmões num sopro. - Eu era quase uma bonequinha. Aquelas garotinhas que a mãe mima e cuida como uma menina de sua boneca, sabe? Então, essa era eu. Mas ninguém mais era assim, e foi aí que começou os problemas. De começo eles apenas pegavam no meu pé, puxavam meus cabelos, derrubavam meu caderno etc. Eu chorava e dizia que iria contar pra minha mãe, e um dia eu realmente contei…
-Deixe eu adivinhar: tudo piorou, não é? - Matt sorriu compreensivo e eu concordei com um aceno de cabeça.
-Minha mãe falou com a diretora que disse que não poderia fazer nada, que era brincadeira de criança, mas que iria conversar com quem fazia isso. E ela conversou, mas eles não levaram muito a sério. - Respirei fundo.
-Eu sei que é doloroso, Vicky. Mexer com essas feridas do passado não é fácil, nunca é. Mas lembra que não vai mais acontecer, não tem como te atingir, e mesmo que tivesse eu estou aqui e não deixaria que nada te machucasse. - Ele soltou minha mão e me abraçou lateralmente fazendo-me deitar em seu ombro.
-Eu sei. Acredite está muito mais fácil ficar nessa cidade infernal com você aqui. - Vi um sorriso brotar no rosto do meu amigo. - Droga, vai ficar se achando agora que eu disse isso.
-Com certeza! - Exclamou me fazendo rir. - Gosto desse sorriso. - Disse fazendo minhas bochechas corarem.
-Enfim… - Cortei-o. - Depois da conversa da diretora com os meus bullys, eles pioraram. Começaram a me agredir fisicamente e sempre falavam “Vai contar pra mamãe, chorona?” e isso me acuava. Eu comecei a me fechar. Da menina doce e delicada eu virei uma menina quieta, arisca e esquiva, e isso fazia com que pegassem mais no meu pé. Quanto mais bullying faziam comigo, mais eu me fechava, e quanto mais eu me fechava... Bem, acho que você entendeu. Isso durou quase um ano até que um dia eu cheguei em casa com parte do meu cabelo cortado e minha mãe deu um ataque e soube de tudo o que estava acontecendo através de alguma professora.
-E enquanto a Valentina? Ela não via nada?
-Eles eram pequenos psicopatas, Matt. Não faziam nada sem a oportunidade perfeita. As poucas vezes que ela viu me protegeu, mas eu raramente via ela fora do recreio. - Expliquei. - Bem, quando minha mãe soube de tudo processou a diretora, que recebia dinheiro dos pais dos meus bullys para que os deixassem em paz. Eu e Tina fomos pra escola do bairro vizinho assim como algumas outras crianças cujos pais descobriram o que acontecia com vista grossa da diretora. Aquela bruxa!
Terminei de falar e me levantei para analisar Matt. Não tinha vestígio de pena ou coisa parecida, parecia mais compreensão e indignação.
-Diz que acabou. - Pediu
-Infelizmente não. - Disse com pesar. - Vem.
Novamente voltamos a andar pelas ruas.
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Backstage | Matthew Gray Gubler (Em Revisão)
FanfictionVictoria Belly vê sua vida mudar quando pega um estágio nos bastidores da série policial Criminal Minds. As chances de encontrar alguém tão maluco quanto você é uma em mil. Afinal, quem não gostaria de ser BF de Matthew Gray Gubler? HISTORIA 100% FI...