Capítulo Bônus - Oh, Darling!

868 65 9
                                    

(Música: Oh, Darling - The Beatles)

Saí da casa de Victoria decepcionado comigo mesmo. Como pude deixar me levar? Eu sabia que seria assim.
Meu coração estava machucado e a culpa era toda minha. Ela me via apenas como seu grande amigo, mas quem poderia culpá-la se, quando eu tive a oportunidade, pus tudo a perder?
Enfiei as mãos nos bolsos do casaco e segui de cabeça baixa rua a cima. Passei por pubs e salões lotados de gente comemorando o 4 de Julho. Aquele era nosso feriado. Sempre fazíamos algo especial, como entrar num campeonato de “comedores de cachorros quentes” (cujo qual eu sempre ganhava dela ao comer uns dez enquanto ela não passava do segundo), ou então pintar nossos rostos com a bandeira do nosso país, até mesmo participar do Apple Bobbing, aquele jogo em que temos que pegar a maçã de uma bacia com a boca (único jogo que ela conseguia me vencer). Sempre que acabava o dia sentávamos num lugar afastado e víamos os fogos de artifício.
Mas não aquele dia. Não aquela vez.
Eu avancei mais que um sinal vermelho. Avancei umas cinco etapas de uma vez. É, talvez eu soubesse qual fora meu erro. Vicky queria um recomeço na vida e isso não incluía seu melhor amigo completamente apaixonado por ela. Porra, Matthew, como você é burro!

Sentei-me num banco da praça perto de onde eu morava. O céu estava limpo e uma brisa fria soprava meu rosto. Comecei a pensar no que acontecera desde que nos conhecemos. Como deixei que tudo chegasse naquele ponto. Repassei mentalmente tudo o que eu vivi ao lado dela.
Quando nos conhecemos, nos corredores. A primeira vez que nos falamos. A primeira carona e tudo o que eu não imaginava que viria depois. Mas onde foi que eu comecei a me apaixonar por Victoria Louise Belly e por quê?
Ah, o porquê eu sabia muito bem. Ela era diferente de todas as garotas que eu conheci ou namorei. Talvez porque ela não fosse uma garota e sim uma mulher. Madura mas com um Q de menina. Seu sorriso é encantador e contagiante. Ninguém consegue ficar emburrado quando ela sorri, é como se limpasse toda a tristeza do ambiente. Ela é decidida (ou teimosa, como quiser chamar). Quando bota algo na cabeça não há ser no mundo que tire a não ser ela mesma. Ela é tão amorosa e carinhosa com todos a sua volta, talvez cuide mais dos outros do que de si mesma. Acho que é aí que eu entro. Quando ela já não tem forças pra se segurar eu sou o suporte que continua firme pra que ela se apoie e continue. Eu tenho sido um apoio tão ruim...

Continuei enumerando os porquês de amá-la até perceber que não lembrava quando isso aconteceu. Em que momento nesses anos eu me apaixonei por ela?
Definitivamente não havia um momento específico. Fora um conjunto de todos os momentos ao seu lado. Tudo reforçava ainda mais aquele sentimento que insistia em ferir meu coração de tão intenso que se tornara, mas, com certeza, alguns momentos ficaram marcados em minha memória.

O casamento. Ela tava tão linda naquele vestido azul. Quando aqueles babacas começaram a zombar dela, eu nunca havia a visto tão vulnerável. Foi como se uma nuvem escura e densa de chuva escondesse o sol. Mas quando eu a fiz sorrir instantes depois, ah, foi como se o sol do Havaí aquecesse-me por dentro. Uma felicidade preencheu meu peito e eu soube que fazê-la sorrir seria minha meta dali em diante.
O melhor daquele dia ainda estava por vir. Quando How Deep Is Your Love tocou e eu a chamei pra dançar não sabia que aquela seria a decisão mais recompensadora que eu tomara no dia. Suas mãos em meus cabelos, seus olhos castanhos brilhando com as luzes das lanternas penduradas pelo jardim. Como eu queria que aquele momento durasse pra sempre. Talvez, se a música tivesse alguns acordes a mais, talvez, se eu não estivesse tão nervoso, talvez… Talvez aquele fosse o momento certo de beijá-la. Se bem que… Ela se sentiria mal depois já que eu estava namorando a Stacy.
Novamente: Porra, Matthew, como você é burro! Burro e bundão!

Apoiei minha cabeça nas mãos, meus braços nos joelhos e puxei meu cabelo tentando aliviar a frustração crescente em meu peito.

Ao longe ouvi uma música tocar. Talvez ainda houvessem alguns casais ali. Eles sempre ficavam, depois que todos iam embora, pra conversar (ao menos até um deles convencer o outro que precisavam de privacidade para fazerem algo mais divertido). Eu conhecia aquela música e, droga, que péssima hora para ouví-la!

Backstage | Matthew Gray Gubler (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora