- Capítulo Um -

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O Aviso

Num salão iluminado por velas e tochas, um grupo de cães e homens vestidos com túnicas e capas se reunia ao redor de uma mesa de pedra redonda, para discutir sobre o futuro do reino Animale e sobre a preparação para uma possível ameaça. Esse reino era governado pelo rei Crésus, famoso por sua arrogância, bravura e sua imensa fortuna.

— Milorde! Leoni planeja invadir nossas terras para tomar nosso reino. O oráculo tem uma profecia, porém ninguém consegue traduzi-la, e ainda estamos estruturando uma forma de concretizá-la. É sabido que ninguém residente nesta era pode interpretá-la. Receio ser necessário que deixemos o portal do universo paralelo aberto, e o escolhido saberá nos encontrar... — explicou lorde Salazar.

— Este portal aberto trará muitos riscos, lorde Salazar, eu não vou arriscar a vida do meu povo, por causa de um ninguém que ousa me enfrentar. Deixe que ele venha e se bata nos muros do meu castelo — interrompeu um homem com uma voz rouca e num tom ríspido.

— Rei Crésus! Lamento, mas isso não é uma opção. Não temos escolha, o exército de Leoni cresce a cada dia que nasce. Em número de soldados, o nosso reino ainda é o maior, mas se Leoni continuar como está, irá superar nossas tropas em breve... — continuou lorde Salazar num tom preocupado.

— Onde está a profecia de que você tanto fala? Eu quero vê-la — ordenou o rei Crésus alisando a barba longa de cor negra com uma mão e com a outra, alisando um enorme cão de cor negra da raça Terra Nova.

Crésus tinha a pele de cor branca, cobelos e barba longos, ornamentados por tranças. Seus olhos eram amendoados. Ele usava uma capa de cor vermelho-sangue e uma túnica negra. Na cabeça, usava uma coroa com rubis e motivos de cães cravejados em volta e calçava botas com fivelas grandes.

Salazar era um lorde de prestígio em Animale e tinha total confiança do rei, por esse motivo o oráculo decidiu informar a ele antes, para que intermediasse com o rei em uma reunião de cúpula.

O lorde Salazar tinha a pele de cor branca, era um pouco gordo. Seus olhos tinham um tom castanho. Ele vestia uma túnica de cor verde-esmeralda e calçava botas com fivelas grandes.

Ao lado de Salazar estava sentado um cão da raça Golden Retriever de cor caramelo escuro. Era um cão robusto de traços fortes, bastante majestoso, tão majestoso quanto o cão do rei Crésus.

Nessa era, homens e cães eram ligados por uma espécie de elo chamado Animalium, uma coleira de luz dourada que permitia que o cão sentisse tudo o que o dono sentia; permitia ao cão falar e interagir com os humanos de forma igualitária. Porém, este elo era frágil e poderia ser perdido caso fosse cortado. Alguns diziam que o elo poderia ser reconstruído.

Cada humano naquelas terras tinham um elo com um cão ou gato.

Salazar levantou-se da cadeira onde estava sentado, retirou de dentro de sua túnica um pergaminho e o abriu em cima da mesa. O texto estava escrito com letras garranchosas e trazia no seu teor o seguinte:

— São Francisco, eu não consigo interpretar isto, e nem o senhor – exclamou o rei Crésus com um tom de voz mais brando. — O que o senhor sugere? – questionou ao velho calvo que estava sentado ao lado dele.

— Majestade, acredito que seja mais prudente o senhor deixar o portal aberto, pois ninguém nesta era será capaz de interpretar isto. Logo quando os gnomos me entregaram esta profecia, eles me informaram que só um nascido de outra era poderia decifrar o enigma. Misty, uma fada amiga minha, saiu em busca do escolhido em outras eras. Ela me informou que o encontrou e que a era em que ele vive é uma era onde as pessoas não se importam com os animais e pouco se importam com o elo. Ela disse que lá é um caos. Mas disse também que assim que o senhor abrir o portal, o escolhido saberá chegar aqui — explicou São Francisco num tom sereno.

— Então, que assim seja feito. Pode abrir o portal, São Francisco — ordenou o rei.

São Francisco levantou-se da cadeira em que estava sentado, ergueu os braços, balbuciou um encantamento, fez alguns gestos com as mãos, e luzes de cores douradas irromperam delas, criando uma explosão luminosa e ofuscante que fez crescer no salão do trono um enorme livro de pedra, protegido por uma cúpula de cristal, com a profecia talhada nele. As luzes eram tão fortes que todos que estavam no salão reunidos tiveram que proteger os olhos.

— Está feito, majestade — disse São Francisco ao baixar as mãos. – Assim que o protegido adentrar o portal e chegar aqui, o portal se fechará.

Luiz Asaf e o Elo AnimaliumWhere stories live. Discover now