- Capítulo Treze -

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Conselhos de Mãe

— Mãe Verde, eu e a Kiara podemos dormir com a senhora hoje? — perguntou Luiz num tom carinhoso fitando os olhos da Mãe Verde.

Mãe Verde sorriu serenamente e disse:

— Claro, meu filho. Vocês são sempre bem-vindos.

Luiz abraçou forte a Mãe Verde e sentou-se aos pés dela, com Kiara ao seu lado. Mãe Verde envolveu-os com dois de seus robustos e frondosos galhos, fazendo uma espécie de rede, pendurada por alguns cipós. Com duas grandes folhas, ela cobriu-os, protegendo-os do frio.

— Soube que venceram o duelo contra a princesa Valentina — iniciou Anakim saltando da copa da Mãe Verde. — Parabéns. E já que irão descansar por aqui, eu irei buscar lenha, para fazer um fogueira para aquecer vocês — finalizou Anakim saindo à procura de lenha, se embrenhando no meio da mata do bosque.

Mãe Verde embalava Luiz e Kiara até conseguirem adormecer. Em poucos minutos, Anakim chegou carregando gravetos e restos de tronco. Ele juntou todos numa pilha em frente à Mãe Verde e, com um estalar de dedos, fez surgir chamas que consumiram aos poucos a madeira que ele havia recolhido. Após terminar de acender a fogueira, Anakim sentou-se aos pés da Mãe Verde, entre uma raiz e outra, e dormiu.

Mãe Verde observava Luiz e Kiara deitados abraçados com um brilho no olhar e orvalho nos olhos. "Dormem como anjos, acordam como guerreiros e viverão como majestades", pensou Mãe Verde. Luiz se mexeu e se encolheu, parecia estar sentindo frio. A Mãe Verde o cobriu com mais uma camada de folha e cantarolou uma música assim:

"Dorme, minha criança, sonha coisas boas.

Cuida da Mãe Verde, pois ela cuida das pessoas.

Ama os animais como a você mesmo,

pois amor igual ao deles... não há no mundo inteiro."

Enquanto a Mãe verde cantava, Luiz sentia suas energias se renovarem, seu corpo se tornar mais saudável. Mãe Verde foi tomada por uma luz fluorescente de cor verde. Isso significava que ela estava feliz. Luiz e Kiara proporcionavam isso para ela.

Os peixes do lago, as tartarugas marinhas, as sereias e os outros seres que habitavam aquele lago e bosque se aproximaram da margem, para admirar a Mãe Verde e os escolhidos.

— Mãe Verde, você brilha — disse Luiz despertando surpreso e vislumbrado com aquele fenômeno.

— Só quando estou na companhia de seres maravilhosos — falou a Mãe Verde num tom sereno.

Luiz sorriu com as maçãs do rosto coradas, enquanto Kiara olhava admirada para a Mãe Verde.

— Que música gostosa de ouvir. Canta de novo — pediu Luiz. — Estou nervoso, tenso e preocupado com a batalha de amanhã e com o que o povo de Animale vai falar de mim, se eu perder ou vencer, e essa música está me acalmando.

— Por que se preocupar? Não fique ansioso quanto a sua vida, pelo que você vai comer ou beber, nem pelo que vai vestir. Viver é o mais importante disso tudo... — informou a Mãe Verde, fazendo uma pequena pausa para olhar ao redor. — Olhe para os animais, não semeiam como os humanos, nem ceifam, nem se aglomeram em celeiros. E o pai celestial os alimenta e os mantêm vivos. Ninguém vale mais do que ninguém. Todos nós somos um. Portanto, acalme-se e lute com honra e honestidade.

— Não tinha parado para pensar por esse ângulo — Luiz estava com um olhar reflexivo. — A senhora me conforta, Mãe Verde. Boa Noite — desejou Luiz bocejando.

Aquelas palavras tocaram o coração de Luiz e ele refletiu sobre elas, até adormecer, enquanto a Mãe Verde embalava e cantarolava para ele e Kiara.

— Durmam bem, meus queridos — sussurrou Mãe Verde ao observar que todos haviam adormecido com seu cântico.

Aquela noite pareceu a noite mais longa e confortável que Luiz e Kiara haviam tido. Eles sentiam como se estivessem no paraíso. A temperatura estava ideal, e os sonhos eram bons.

O dia amanheceu e Luiz despertou com o som da lira de um fauno que tocava enquanto ninfas da floresta dançavam ao som da sua melodia.

Borboletas voavam muito próximas à face de Luiz. A neve estava cada vez mais fina. Uma fada pousou no rosto de Luiz e apertou o nariz dele com as duas mãos.

— Nossa! Como ele é bonito! — disse ela virando o rosto dele de um lado para o outro.

Luiz abriu os olhos vagarosamente e deu de cara com o rosto da fada sorrindo para ele.

— Que olhos lindos! Ai! Acho que estou apaixonada — disse a fada hipnotizada com os olhos de Luiz.

Kiara despertou com o movimento das asas da fada e como sempre fez, foi lamber o rosto de Luiz. Ao ver Kiara se aproximar, a fada assustou-se com o tamanho dela e alçou voo.

Mãe Verde sorriu e perguntou num tom doce:

— Vocês dormiram bem?

Luiz e Kiara balançaram a cabeça que sim e se puseram a admirar aquele monte de criaturas mágicas se divertindo, comemorando o nascer de um novo dia.

— Não me lembro de ter visto tantos seres mágicos, enquanto eu treinei aqui — comentou Luiz feliz. — E eles são tão animados — continuou ele saltando da rede de folhas que a Mãe Verde havia construído e em seguida puxando uma ninfa da floresta para dançar com ele.

Kiara saltou da rede de folhas também e pulou de um lado a outro se divertindo com os faunos e ninfas que dançavam ali.

— Eles estão animados assim, porque nasceu um novo dia e a primavera chegará ao término dos próximos oito dias, por isso esta festa toda hoje — comemorou a Mãe Verde animada.

Anakim despertou e logo já estava dançando naquela festa matinal. Uma sereia saltou de dentro d'água e puxou Luiz para dentro. Kiara saltou no rio logo em seguida e nadou atrás deles, submergindo alguns metros. Subitamente, um Glaucus Atlanticus nadou em direção a Kiara e a carregou no dorso dele. Kiara estava encharcada, com os olhos quase saltando. Ela olhava aflita de lado a outro do lago, na esperança de que Luiz emergisse logo.

Passadas algumas horas que Luiz havia sido levado, o desespero de Kiara só aumentava. Os olhos dela não tinham mais como ficar esbugalhados, pois o desespero já havia tomado conta do corpo dela por completo.

Na margem contrária a da Mãe Verde, Kiara viu uma enorme ostra emergindo, sendo puxada por tartarugas marinhas e golfinhos. Sobre a grande ostra acolchoada, Kiara viu Luiz sentado com imponência ao lado da sereia de cabelos negros que puxou ele para dentro do lago.

Luiz estava vestido numa armadura diferente da que ele estava usando quando mergulhou. Esta era de ouro, parecia ser mais leve. Kiara acalmou-se ao vê-lo bem e respirou aliviada. Ela saltou animada ao ver Luiz sendo escoltado por belíssimas sereias e criaturas marinhas.

— Ki! Olha o que eu ganhei do povo do lago — disse Luiz ao se aproximar de Kiara. Ele saltou da carruagem marinha e caminhou em direção a Mãe Verde. Abraçou-a e disse: — Obrigado por tudo. Se eu vencer hoje, eu dedicarei esta vitória à senhora.

Kiara cumprimentou a Mãe Verde e lambeu Anakim.

Luiz abraçou Anakim e acenou para o povo do lago e do bosque. Em seguida, saiu caminhando rumo à arena Animale.

Luiz Asaf e o Elo AnimaliumWhere stories live. Discover now