- Capítulo Dezoito -

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O segredo revelado

— Luiz Asaf e Kiara, me acompanhem até a mesa de pedra — ordenou o rei saindo do salão, com Luiz e Kiara o acompanhando. Durante todo o caminho, eles não trocaram uma palavra.

O rei abriu uma imponente porta dupla de madeira, revelando um enorme salão com uma mesa grande de pedra, talhada com motivos de cães e gatos. Ele acomodou-se em uma das cadeiras e pediu para que Luiz e Kiara se acomodassem nas outras.

— Há muito tempo atrás, ainda quando eu era um garoto – iniciou o rei com uma voz rouca e um olhar desolado. – Eu e o meu irmão brincávamos no jardim do palácio. Nós brincávamos de gladiadores, com espadas de madeira... Lembro-me que, naquele dia, meu irmão e o protetor dele estavam diferentes, abatidos, desanimados... – continuou ele com um olhar distante, fazendo uma pequena pausa para buscar na memória fatos ocorridos – e entre um golpe e outro, eu terminei cortando sem querer o elo animalium que ligava meu irmão ao protetor dele... Eu até hoje não entendo, pois a espada de madeira jamais poderia cortar aquele elo – disse o rei nervoso e confuso, com os olhos aguados.

— Então quer dizer que você matou o seu irmão? — questionou Luiz assustado, olhando para Kiara e para o rei.

— Não diga besteiras, Luiz. Nós éramos crianças. Depois do acidente, o pai de Crésus jamais o perdoou pelo que fez com o irmão. O irmão de Crésus alegou que ele tinha feito aquilo para matá-lo e ficar com o reino só para ele. Afinal, a diferença de idade era pouca e o irmão de Crésus era o favorito na linha de sucessão — disse Sombra Noturna num tom sério.

— Mas e o protetor dele? — questionou Kiara.

— Logo após o incidente, ele deu uma poção enfeitiçada que simulava uma morte ao protetor dele e depois o jogou no rio que corta animale, para que o animal morresse afogado — explicou Sombra Noturna.

— Quanta crueldade — exprimiu Luiz com a tristeza expressa em sua face.

— No dia da coroação, São Francisco interrompeu a cerimônia e informou o que havia acontecido de verdade no dia do acidente, pois ele havia presenciado uma maldade imperdoável.

— Que homem perverso. Qual foi a outra maldade? — interrompeu Kiara.

— Ele mesmo havia cortado o elo animalium dele com um punhal, depois emendou o elo com uma espécie de gosma. Após terminar a trama, ele foi brincar com Crésus e simulou tudo — contou Sombra Noturna num tom deprimido.

— Meu irmão sempre me invejou, nunca fiz questão do trono. Ele queria que Sombra Noturna o escolhesse. Ele odiava Luz das Manhãs. Sempre que se irritava ou não concordava com a opinião de Luz das Manhãs, ele o chutava e sempre estava insultando o pobre coitado que o havia escolhido, aquele ser podre, para proteger — disse o rei com o semblante completamente abatido.

— Se o Moqueca é o protetor rejeitado pelo seu irmão, quem é o seu irmão? E o que houve com ele? — questionou Luiz tentando matar a charada.

— Ao descobrir o que o meu irmão havia feito, o povo pediu para que eu me tornasse rei, e como rei justo que sou, deixei que o povo de Animale decretasse o castigo dele. O povo decidiu que ele fosse exilado do reino e nunca mais voltasse ao castelo ou aos vilarejos próximos.

— Não pode ser – disse Luiz assustado com os olhos arregalados. – O senhor é irmão de Leoni – finalizou ele baqueado com a notícia.

— Meu Deus, como Moqueca sofreu. É por isso que se tornou um vadio beberrão — exprimiu Kiara num tom triste.

— Sim. Este é o meu segredo — disse o rei sentindo-se mais aliviado.

— Mas e Josephine? E Jane? — questionou Kiara curiosa.

— Ah, sim! Josephine nunca perdoou sua protegida por tê-la abandonado. Josephine tinha seu elo animalium atrelado a uma bruxa terrível que eu tive muito trabalho para expulsar de Animale. Ela era tão má que cortou o elo dela com Josephine, com o argumento de que gatos eram fracos e ela queria um dragão atrelado a ela. Jane foi conselheira do reino e foi ela que orientou meu irmão a fazer a perversidade que ele fez com Luz das Manhãs. Quando foram exilados de Animale, o destino deles três se cruzaram e formou-se essa corja de maldade – concluiu o rei com pesar.

— Eu sinto muito, majestade — disse Luiz tentando acalmar o rei.

— Não sinta, pois já passou. Preciso que você e Kiara juntem-se a mim na liderança do meu exército contra o exército de Leoni. Ele virá com os carrapatos monstros. Não sei como matar esses bichos.

— Eu sei. Odeio estes bichos — disse Luiz com repulsa. – Majestade, precisaremos de piche e muito fogo. Vamos fritar estes monstros. Usaremos flechas em chamas, catapultas com bolas de fogo. Tudo isso após termos espalhado o piche neles. Além disso, vamos nos blindar, incendiando o lago do castelo – disse Luiz esperançoso.

— Luiz, você será um excelente rei. Você é muito sábio, garoto. Orgulho-me de você – elogiou o rei sorrindo. – Corra, você e Kiara precisam descansar e se preparar para a guerra que se aproxima, em três dias. Deixe que eu darei as coordenadas com suas estratégias ao restante dos membros do exército – orientou o rei Crésus abraçando Luiz com tapinhas nas costas.

Luiz e Kiara se retiraram do salão, chocados com as perversidades cometidas contra Moqueca.

— Então! O que houve? – questionou Valentina nervosa, aguardando Luiz ao lado de fora do salão. — Estava preocupada com vocês.

— O rei Crésus nos contou a história do irmão dele e do protetor dele — falou Luiz ainda em choque.

— Sintam-se felizes por isso. O rei Crésus proibiu todo o reino de mencionar qualquer coisa sobre o acontecido naquele dia, ou criticar o irmão dele. Se ele contou isso, é porque confia em vocês — explicou Snow.

— Claro que tem que confiar. Arriscamos nossas vidas numa busca a uma suposta solução para o problema dele – replicou Kiara. – Eu quase perdi Luiz e quase morri.

— É isso aí! A femme fatale está de volta — disse Snow.

— Precisamos nos preparar para o jantar especial que o rei fez em comemoração ao nosso retorno — disse Valentina.

Em seguida, Luiz e Kiara seguiram em direção a um lado oposto ao de Valentina e Snow.

Luiz Asaf e o Elo AnimaliumWhere stories live. Discover now