261 dias

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Acordei ao meio dia e como era de esperar não me consegui safar do enorme ralhete da minha mãe, que me alertou vivamente às consequências das drogas e do álcool em excesso. Eu tenho consciência de que isto poderá parecer-vos uma espécie de paródia, mas a minha mãe até criou uma apresentação em PowerPoint para me ilustrar o problema em que me poderia ter metido!

Para começar o PowerPoint não mostrava nada a senão várias fotografias de jovens, que pelos vistos, morreram nos mais estúpidos e irónicos acidentes causados pelo efeito de drogas-barra-álcool e enormes paredes de texto desinteressantes. Durante todo aquele tempo juro-vos o tempo adormeceu, assim como eu próprio. E só depois de ter visto mais de vinte diapositivos repletos com fotografias melancólicas, em tons de preto e branco, e enormes camadas de paredes de texto, é que despertei para a realidade, quando uma música assustadora e repentina começou a penetrar-me pelos ouvidos a dentro. Sem aviso prévio, sobre a parede branca que servia como tela para a projeção daquela rasca apresentação, a minha foto - a cores - apareceu. E à medida que a minha mãe ia enumerando as minhas infinitas qualidades na parede gradualmente a minha cara ia perdendo as suas tonalidades originais até ficar apenas um retângulo em branco no seu lugar e, como que para chamar à minha atenção, a derrapar em camara lenta, apareceu o seguinte título: "Queres ser tu o próximo?" 

A apresentação parou e o ecrã preto, apesar de não parecer, conseguia iluminar o rosto matreiro da minha mãe.

- Eu não morri mãe. É preciso isto tudo? - Perguntei erguendo uma sobrancelha.

- Mas podias ter morrido, Jason.

Resmunguei um "mãe"  aborrecido.

- Não estou a brincar! És o meu único filho, e do teu pai também. E tens de entender que não te queremos ver... partir.

Revirei os meus olhos por escassos segundos, até que me veio à mente algo que me arrepiou a espinha. Um assunto muito mais premente do que qualquer coisa que se podia dizer naquela tarde.

- Tu contaste ao pai, sobre o meu incidente?

- JASON! - Gritou a minha mãe. - É com isso que estás preocupado? - Sim! Era com isso que eu me preocupava nesse momento, é que, caso não saibam, o meu pai, também conhecido como Mr. Fisher, é um militar que detesta faltas de educação e jovens que desperdiçam o seu futuro em coisas imprudentes, como aquilo que eu decidi fazer. Só aqueles que têm pais como o meu conseguem entender o meu desespero naquele momento.

- Mãe, responde-me! - Gritei. - Contas-te ao pai?

- Não, não contei nada.. - Suspirei de alívio. - ..Ainda.

- Não podes...! - Disse desesperado.

-Posso sim, Jason, eu tenho de o fazer. Nunca escondi nada do teu pai, portanto também não vou esconder que o NOSSO filho ia morrendo de overdose.

- Mãe existe uma diferença. 1º Eu não morri! E 2º o pai mata-me se descobrir que andei... - Engoli um seco. - A fumar. - Sussurrei.

- Jason, eu não sei... Sou mulher do teu pai já antes de te segurar na minha barriga, não sei se quero mentir-lhe. Pelo menos não sobre um assunto tão grave.

- Mas não aconteceu nada de grave! Eu estou bem! - Ela cruzou os braços e acendeu as luzes da sala. - Prometo que não volto a repetir esta brincadeira. - Ajoelhei-me sobre os pés da minha mãe.

- Não chega! - Ela pareceu-me inflexível.

- Fico de castigo durante as férias de Verão INTEIRAS! São dois meses em CASA! RESTRITO DE  QUALQUER TIPO DE CONTACTO SOCIAL! POR FAVOR. Salva-me.

A minha mãe olhou para mim, um pouco mais interessada em ceder ao meu pedido. Ergueu uma das suas sobrancelhas negras bem alto e com um sorriso sádico disse-me:

- Muito bem, Jason. Da minha boca o teu pai não vai saber nada sobre o teu.. - Ficou um tempo a saborear as palavras. - Deslize. Agora o castigo é para se cumprir. Dois meses de solitária!

Levantei-me num só gesto e beijei-lhe a cara mil vezes. Talvez apenas duas vezes, eu não sou uma pessoa que goste de carinho.

- Adoro-te! Não te vais arrepender, prometo-te!

Separei-me dela e fui para o meu quarto a passos largos.

- Não te esqueças sem contacto social. -Gritou ela pelo corredor.

- Exceto com a Hayley e o Scott.

- Não há exceções!

- Vá lá...

 -Fogo, Jason! Mas aviso já que só entram de mãos lisas!

- ADORO-TE.- Gritei ainda mais alto.


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