183 dias

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O primeiro dia de escola era hoje! E todos nós sabemos como são os primeiros dias de aulas. Temos um individuo à nossa frente, ao qual a partir desse momento o teremos de tratar por Sr. Professor, que nos diz o quão severo ele é e nos dá a entender que está casado com a pontualidade e o respeito. No entanto hoje, não foi um primeiro dia de aulas como todos os outros. Em vez do típico cenário onde os alunos se apresentam à turma e ao professor, todos os estudantes da nossa escola foram postos na sala de convívio, para ver uma espécie de apresentação, ou lá o que era.

Eu fiquei ao lado de Scott, a minha turma este ano era uma verdadeira porcaria: primeiro só haviam seis raparigas e eram todas elas umas convencidas; Segundo os restantes rapazes eram uns cromos e nenhum deles sabia sequer o que era Jack Daniels!

O diretor entra na sala de convívio. O nosso Diretor da escola era um homem de peles escuras, careca e possuía uma expressão um pouco paternal nas suas feições. Ele era fan de fatos completos, como aqueles que os advogados usam, e de gravatas verdes. Ao contrário do que se possa pensar, este não era daqueles homens severos e austeros que nos põem de castigo para sempre assim que fazemos uma asneirazinha insignificante. Ele era alguém amável, transbordava simpatia pelo olhar e falava connosco como se ele próprio fosse nosso amigo. O facto de ele nos tratar quase como filhos, para alguns de nós era entranho, mas para mim era algo bestial, já que foi ele que me safou dos vários sarilhos em que me poderia ter metido. Enfim, o homem abre a boca e numa expressão de alegria diz:

- Bom dia, estudantes! - Ninguém responde ao bom dia. - Primeiramente deixem-me que seja eu a contar-vos que irei ser pai dentro em breve. E quando receber a minha licença de paternidade a Professora Ronan irá substituir-me. - Todos uivaram, ninguém gostava da Professora Ronan, também chamada de "couve-flor", por causa do seu penteado dos anos setenta. O diretor pediu que nos calássemos e quando o ruido se dissipou, o homem continuou no tom de voz mais triste. - No entanto nós hoje estamos todos aqui reunidos, como a grande família que somos, para honrar alguém.

Eu e Scott olhamo-nos de forma curiosa. E de repente um videoprojector é ligado, as luzes são apagadas em simultâneo e na parede em branco aparece a cara pálida de Hayley.

- Ora merda! - Disse Scott, já amuado.

O Diretor diz umas palavras sobre Hayley. Mas umas palavras bonitas, não foi como o resto das pessoas que ali entraram para falar da minha amiga Cenoura! Aliás de todos aqueles que estavam presentes na sala de convívio apenas o diretor conhecia Hayley, quase tão bem quanto eu e Scott. Não me perguntem agora quais foram as palavras do Diretor, porque eu não me lembro delas, apenas sei que foram profundas e belas. Houve uma altura em que o diretor até chorava à medida que falava. Como é óbvio, Scott não foi capaz de aguentar e decidiu ir-se embora da sala de convívio. 

Pobre do Scott! Caso não saibam, ele fez uns grandes progressos estas férias. Saiu de casa uma semana depois de ter recebido o baixo da sua amada, e com a ajuda do seu primo, que por conveniência também sabia tocar aquele instrumento, aprendeu umas coisitas muito básicas sobre como tocar baixo e agora tinha uma banda chamada "Hayley". Ainda não têm nenhuma música oficialmente deles, mas acreditem em mim quando digo que eles são mesmo bons!

Depois do Diretor falar veio uma rapariga do clube de xadrez, que eu nunca tinha visto na minha vida, um cromo da minha turma, que nem o último nome da minha falecida amiga sabia pronunciar, uma professora de Filosofia mal vestida e por último apareceu Anna. A Anna? Era o que eu me perguntava vezes sem conta. Sim, a Anna que vocês estão provavelmente a pensar. A rapariga chefe de claque, com a qual eu quase ia tendo sexo na última festa de Scott. Por mais triste que fosse aquela cerimónia toda, esta situação não deixava de ser irónica, e um pouco hilariante, já que Anna e Hayley detestavam-se mutuamente, mesmo sem nenhuma delas se conhecer verdadeiramente. E se bem me lembro da última vez que se viram, que foi num cafezinho antes de Hayley ter ido para Espanha com Brad, Anna disse, e passo a citar, que a minha melhor amiga era uma lambisgoia, nem sequer sei qual é o raio do significado desta palavra!

*****

Depois de toda aquela cena estupida ter terminado, fui à procura de Scott, que estava sentado numa mesa de pedra acompanhado por uma rapariga de cabelos negros. Aproximei-me deles e perguntei se Scott estava bem.

- Achas mesmo que estou bem? - Perguntou-me irritado.

- Bem... - Começou a rapariga dos olhos azuis e cabelos negros. - Já vi que tens companhia, vou me embora. Xau, Scott. 

Scott acenou-lhe em resposta. 

- Não te preocupes comigo, eu vou estar bem. - Lá estava o seu famoso orgulho masculino. 

Eu queria comentar e gozar com os discursos da treta que foram ditos lá em cima, naquela espécie de palco feito com mesas de madeira, na sala do convívio, mas percebi que Scott não estava para isso. Portanto mudei o assunto para algo mais virado para mim.

- Quem era a miúda?

- Quem? A que estava aqui, comigo?

- Tinhas outra ao teu lado? - Perguntei ironicamente.

Scott empurrou-me de forma amigável.

- Chama-se Jamie, é uma aluna nova cá na escola, bem porreira se queres saber a minha opinião.

- Não consigo deixar de pensar que a conheço de algum lado.

- UI! - Disse Scott a rir-se. - Vejam só! Já a queres papar, não é?

- Não! Apenas estou a dizer que ela é me familiar.

- Sim, como se eu não te conhece-se. Mas deixa-me que te diga, ela é bastante parecida contigo. Vocês iam-se dar bem.

- Desculpa Scott, mas não. É que sabes, o meu pénis está totalmente reservado à Anna. - Disse eu com uma gargalhada estridente.

- Porco de um raio!

*****

Depois de ter passado todas as férias em casa sem nada para fazer, ir para a escola e ter de aturar com aquela treta de cerimónia para Hayley, era algo doloroso e estupido. Ainda não acredito que o meu Diretor preferido escolheu fazer isto no primeiro dia de aulas. Ele próprio quando descobriu da morte de Hayley deve ter ficado devastado, no mínimo.

Quando cheguei a casa a minha mãe beijou-me a cara de forma afável, e perguntou-me como tinha sido o meu primeiro dia de aulas. Eu respondi com o meu normal bem, não entrei em muitos detalhes, e fui para o meu quarto. E devo confessar-vos que passei toda a noite a ouvir a mesma música vezes e vezes sem conta, sem me sair da cabeça o olhar transparente de Jamie e o seu cabelo cor da noite. Estava completamente vidrado na sua imagem, e na sua voz. Até ser interrompido pelo vibrar do meu telemóvel.

De: número desconhecido.

Espero que a nossa noite juntos ainda esteja de pé, Jason. Anna"

 Sorri ao mesmo tempo que lia a mensagem.

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