Fangirl

253 dias

Eu estava vestido com o meu pijama do spiderman, que já me ficava curto nas extremidades do meu corpo. A tapar os meus pés estavam calçadas umas meias cinzentas, mal cheirosas e esburacadas num dos dedos dos pés. 

Os meus últimos dias foram passados comigo sentado à borda da cama a jogar na minha antiga, e aparentemente não renovada, playstation 3. Sem ir a redes sociais, e sem aceder à internet, tal como prometera à minha mãe. Sintam o meu mundo infernal! Nem sequer os meus dois amigos me vieram ver, nestes oito dias. Hayley foi numa longa viagem com o namorado, Brad, até Espanha. Recebi por correio algumas fotografias dela junto ao mar e sobre uma caravela antiga, e recebi também uma descrição, demasiado detalhada, na minha opinião, feita pela mesma sobre como a ruiva e o namorado nadaram e penetraram pelos mares quentes espanhóis e como estes fizeram as molas das camas do hotel chiarem ao ritmo dos seus corpos. Está visto que Scott apenas recebera as fotografias de Hayley de biquíni na praia, a carta pornográfica era dispensável. Por falar em Scott! Ele também não me veio visitar. Passou esta semana inteirinha deprimido, aprisionado no seu quarto a chorar e a berrar sobre a rapariga que estava a comer torradas espanholas com outro gajo.

Enfim, como é de esperar os meus dias têm vindo a ser mais longos, mais aborrecidos e agora mais assustadores, já que descobri que daqui a umas semanas o meu pai vinha do Afeganistão, para umas três semanas de férias e eu estava a começar a ficar com medo, já que apesar de a minha mãe ter concordado em permanecer calada, nada a impedia de contar tudo ao meu pai.

Estava quase a passar para a missão seguinte do meu jogo, quando de rompante entrando pela minha porta do quarto a dentro, aparece a figura de um Scott com as bochechas rosadas.

- Sabias que a tua mãe me obrigou a despir as calças para poder entrar cá dentro?

- É provável.

Scott sentou-se ao meu lado.

- Que jogo estás a jogar?

- Assassin's Creed.

- A sério?! Esse jogo não passou de moda, nem nada?

Encolhi os ombros.

- Então e a Anna, falaste com ela a combinar alguma coisa?

- Achas? - Perguntei sem desviar o olhar do ecrã. - Não sei se notaste, mas eu estou aqui em solitária e ela não vai esperar dois meses por mim.

- Na verdade é só um mês e três semanas.

Revirei os olhos e pus o jogo em pausa.

- Além disso, - continuei eu. -  tenho a certeza absoluta de que ela só se quis enrolar comigo porque estava podre de bêbeda.

-AH! Mas isso basta dar-lhe uma garrafa para boca e tens o problema resolvido!

Olhei-o de forma desaprovativa.

- Não meteu piada.

Scott soltou um sorriso ligeiro.

- A mim meteu. - Disse ele.

Mandei-lhe um murro no ombro.

- Sabes... - Disse ele num tom de voz silencioso, quebrando o meu entusiasmo. - Hoje a Hayley volta de Espanha. Aliás.. - Scott olhou para o relógio que trazia preso no pulso. - já devem estar à aterrar.

- Isso é bom, certo? Podemos combinar um jantar aqui na minha cama.

- Por alguma razão não estou a gostar dessa proposta! Não é que sejas feio, meu, mas não te quero ver nu tão cedo. Já chegaram as aulas de educação física do terceiro ciclo!