30 dias

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Este fora o primeiro dia em que eu me voltei a sentar sobre o teto da biblioteca. Os meus pés baloiçavam no abismo, o vento batia na minha cara com força e as minhas mãos seguravam o chão com força, tanto era o medo de cair e de bater com a cabeça no chão.

Honestamente, enquanto ali estava sentado sozinho, apercebi-me de que não entendia a obsessão da minha miuda por aquele sitio. Talvez a fangirl gosta-se de ver as pessoas de uma perspectiva diferente e no seu interior deseja-se secretamente tornar-se numa daquelas que via passar, ou apenas simplesmente gosta-se da curta sensação de se poder lançar para baixo quando quisesse, talvez, quem sabe, a rapariga dos cabelos negros gosta-se da sensação de ser a própria causa do seu desaparecimento.

A minha respiração era leve e quase inaudível. E atrás de mim uma figura caminhava, mas eu não me apercebi da sua existência, até esta falar.

- Dizem que a tua namoradinha desapareceu. - Era Anna. Os seus paços eram pesados, mas possuidores de um silêncio constrangedor. - É verdade não é? - Perguntou-me com um toque de felicidade na voz. - Eu sempre tive razão. Vocês não...

- O que queres? - Interrompi, com o intuito de a fazer calar.

Esperava um pouco de tudo da sua voz. Esperava ouvir mágoa, raiva, felicidade. Esperava ouvir qualquer tom sádico, porém nada disso atravessou os meus ouvidos. O que eu ouvi foi o som da piedade.

- Nada. – Respondeu e, pela primeira vez, a sua voz parecia mel sobre o meu espirito. - Apenas dizer-te que... - Parou. E o seu silêncio parecia que me apunhalava lentamente. Virei o meu olhar na direção da chefe de claque e as suas bochechas ganharam um rubor da cor de maçãs. - ...sinto muito. Tu não merecias isto. - Ela deu uma gargalhada frustrante. - Ninguém merece, porra.

- Está bem. - Acabei por soltar, tentando deixa-la sentir-se melhor por ter aparecido e por ter vindo falar comigo, mas sem lhe dar assim tanta confiança. Afinal eu estraguei-lhe a vida.

Do rosto de Anna nasceu uma expressão de pura tristeza e insatisfação, que eu fui capaz de ver através do canto do meu olho, já que voltei a olhar em frente para a paisagem da escola.

- Ela não te merece, Jason. – Pronunciou num murmúrio a moça. - Se te deixou apenas provou que não te merece. Ela é...

- Cala-te. - Gritei. - Vai-te embora, está bem?

E com os seus passos silenciosos ela lá iniciou a sua marcha para fora do teto do edifício da biblioteca, mas antes de descer e de eu deixar de ouvir a sua respiração murmurosa ela disse-me algo que me perscrutou a alma:

- O ser-humano mente muito, Jason. E a expressão "Eu amo-te" é a mais maldosa de todas as mentiras, que possamos dizer.

*****

Quando cheguei a casa, o meu pai estava fora e a minha mãe cozinhava com musica a altos berros. A voz da Whitney Houston não me convenceu a dançar*, nem mesmo com aquele timbre perfeito.

- Jason. - Chamou a minha mãe enquanto cantarolava. - Tens no teu quarto uma carta, que chegou esta manha.

Revirei os olhos.

- É de quem?

Ela encolheu os ombros, enquanto mexia  o tacho gigantesco numa dança frenética. Bufei exasperado com a resposta que não me fora oferecida. A única coisa que eu queria era sossego, porém lá estava eu a ver a minha mãe mexer as ancas como se estas fossem um pendulo.

- I wanna dance with somebody! - Cantava a minha progenitora alegremente. -  I WANNA FEEL THE HEAT WITH SOMEBODYYYYY! - Tapei a cara com as mãos. - Anda Jason! 

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