11 dias

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Desta vez quem fazia baloiçar a bola do Jake Arrieta, dos chicago cubs, era Izumi. A sua face amarela estava estática a olhar para o teto. E os seus olhos não eram nada a não ser pontos negros no meio de uma superfície oval branca. Não sei exatamente a razão que a levara a vir ter a minha casa, desde o início, porém deixei-a estar ali calada e pávida.

Durante a meia hora que se prolongou entre nós, apenas o silêncio e as vogais vagamente pronunciadas foram soltadas pelos nossos lábios nervosos.

- Recebeste mais alguma carta? - Perguntou-me ela.

- Não. - Respondi.

Ela riu-se frustrada. 

- Eu detesto-a. - Admitiu irada. - E ainda não entendo porque não sentes o mesmo odio que eu.

Encolhi os ombros.

- Não sou capaz. - Acabei por responder. - Ela é a minha miúda. - E sem dar por isso sorri, como já não fazia há algum tempo.

Izumi lançou a bola ao chão, enquanto tentava procurar por alguma coisa, dentro da mala, e quando não a achou murmurou para si:

- Kuso [merda], devia ter trazido uma garrafa de vodka. 

- Tu só pensas nisso! – Comentei, tentando fazer a pianista sorrir.

- Mas eu tenho cigarros! – Informou ela, pegando num maço. Ela tirou de lá nicotina abraçada por um papel esbranquiçado e, metendo-o na boca, acendeu o cigarro com alguma presa. - Os meus melhores amigos. - Esboçou ela num largo sorriso amarelo.

- Sim... - Comentei.

- Sabes Jason. - Uma lufada de ar cinzento saiu-lhe pela boca. - Uma parte de mim quer mandar a Jamie póh caralho, mas outra quer abraçá-la e dizer que sente falta dela. E honestamente não sei qual delas seguir.

- Talvez aquela que seja a verdadeira Izumi. Achas que vale a pena não a veres? - Ela não respondeu. - A tua melhor amiga? - Insisti.

- Se ela quisesse que eu a visse não achas que me teria mandado uma carta também? Aliás até gostava de saber porque raio decidiram ir todos ao auxílio da donzela em apuros, ela saiu das nossas vidas por opção própria, sem consultar ninguém. Acho que ela merecia ter uma tampa de nós os cinco!

Eu calei-me e deixei-a fumar o tabaco em paz. Queria dizer alguma coisa poética, mas nada aparecia na minha mente, suspirei irritado comigo mesmo e fiquei apenas a vê-la matar com prazer os seus pulmões poluídos. Até que lembrando-me de algo que a poderia animar, disse a cantarolar:

How do I live without the ones I love?* [Como vivo sem aqueles que amo]

- A sério? - Perguntou ela, erguendo uma das suas escuras sobrancelhas. - Estás a tentar convencer-me com a minha música preferida?

- Porque não? Por uma vez, que seja deixa essas tuas manias e teimosias para trás. A Jamie ia gostar de saber que tu a vais ver. - Disse mais umas quantas coisas improvisadas, que não ficaram guardadas no meu cérebro de andorinhas. E Izumi apenas olhava, desta vez, para o cigarro que caíra sobre o chão do meu quarto. Os seus olhos estavam sérios e apenas me consegui concentrar em manter-me calado, quando caiu deles uma lágrima.

- Ela era a minha melhor amiga. - Disse ela num sussurro. - E deixou-me. Estou a tentar superar isto da maneira que eu posso. A Jamie é uma egoísta, saiu daqui sem avisar ninguém, sem dar uma explicação e agora pede perdão. Eu não a quero perdoar. EU QUERO... - Ela levantou-se e pisou o cigarro com o pé esquerdo. - EU QUERO QUE ELA SAIA DA MINHA VIDA PARA SEMPRE! Detesto o que estou a sentir por causa dela. - Hesitou. - Nem o Scott me fez sentir assim tão mal. E não entendo porque teve de ser a pessoa que eu mais confiava a fazê-lo. 

- Izumi? - Não sou capaz de explicar o que senti, apenas posso dizer que foi um aglomerado de sentimentos contraditórios.

- Olha, não preciso desse teu olhar de condescendência. - Ela abriu a porta do meu quarto, que até então estava fechada. - Leva-me para casa, Baka[idiota]. - Ordenou ela.

Levantei-me e enquanto descia as escadas até ao rés-do-chão, juntamente com a pianista, gritei para a cozinha.

- Mãe, vou levar a Izumi a casa!

- Volta antes do jantar! - Foi a voz do meu pai que respondeu.

- Tudo bem.

A viagem até à residência Hayashida foi rápida e silenciosa. Nem eu nem a minha amiga nos atrevemos a falar, tanto era o nosso embaraço. Mas quando a japonesa abriu a porta, para sair do carro eu não resisti em perguntar:

- Ao menos podes ponderar ir vê-la? 

A rapariga da pele amarela mirou-me com os olhos em bico. 

- Não. - Respondeu e a porta foi fechada com um estrondo.

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How do I live without the ones I love?*  Referencia ao So far away dos A7x (avenged sevenfold).

Bem este foi um capítulo mais para perceberem o lado de Izumi, do que outra coisa. Não pensem mal dela (a minha personagem preferida), compreendam-na. Ela sente-se traída por aquela que ela mais amava, a Jamie, a trair daquela forma e por a ter deixado sozinha no mundo. Ela não está a ser egoísta. (está um pouco) mas enfim não detestem esta personagem, okay? Para além de que o ultimo dia ainda não chegou.

Votem e comentem, está bem? 

Obrigada a leitura.

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