90 dias

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Acordei com o meu telemóvel que começou a vibrar incessantemente e que fez o chão de madeira criar um som ensurdecedor, e incrivelmente altíssimo. 

 - Desliga essa merda, puto! - Disse Arthur enraivecido, por uns momentos tinha-me esquecido que estava no quarto dele, deitado no colchão de ar desconfortável.

 Como já é costume acontecer todos os natais. Quando a uma da manhã dava a sua única badalada, apareceu, em casa dos meus avós, Justin e apesar de eu ter sido o primeiro a chegar ao quarto de hóspedes, o mesmo tinha de ser usado pelo Futuro-advogado-de-sucesso-da-família!

 Adiante...Assim que o meu amado primo mais velho apareceu todas as luzes do meu quarto acenderam-se e Anthony irrompeu pela divisão com a sua bengala nas mãos. Deu-me umas dez bengaladas seguidas e eu acordei por fim gemendo de dor. O meu avô olhou-me com aquela sua cara rabugenta, marcada pelas rugas pesadas e numa voz grossa ordenou: "Saí daí Jason! Não vês que o teu primo chegou!

 E lá estava ele. Justin Malloy, o meu detestável primo. O Futuro Advogado De Sucesso De Família. O convencido. O traidor.

 Levantei-me chateado e enquanto saia do quarto de hóspedes, apenas com as minhas cuecas, e ia passando pela figura altiva do meu primo, levantei-lhe uma sobrancelha atrevida. Ele repetiu o gesto. Constance, que estava na sala a encher o meu colchão, sorriu-me gentilmente e disse: "Já sabes como é o teu avô e o teu primo." Eu sorri em resposta e depois de ter enchido todo o colchão, a velhota arrumou a bomba de ar e foi ter com o primo prodígio, que ainda estava a ouvir o meu avô a contar a piada do Natal. E foi quando me movi para o sótão, ou melhor, para o quarto do meu primo Arthur, onde adormeci até ser acordado pela mensagem do panhonha que acordou o meu primo maldisposto!

 - Desculpa. - Disse envergonhado e cheio de sono enquanto tentava cessar com as sucessivas vibrações do telemóvel.

 Olhei para o visor cintilante e li a mensagem.

 "De: Scott

 heyyyyyyyyy! Bom dia, meu! Olha eu comprei umas prendas para todos vocês e queria perguntar se nos podíamos encontrar amanha cá em casa para as abrirem."

 Suspirei irado! Eu queria mesmo ir a casa de Scott, mas amanha ainda estava em casa dos meus avós, a aturar o Justin e o meu Tio Seamus sobre a universidade. A rir-me das piadas sem graça do meu avô e a ouvir o Arthur a fazer uma competição de arrotos com o nosso outro primo de cinco anos. Fiquei mesmo chateado por ter de ficar aqui, mas de repente senti-me melhor por estar na casa dos meus avós, já que não tinha prendas para nenhum deles. E isso seria embaraçoso.

 Nota mental: Não me posso esquecer de comprar prendas para quando me encontrar com o gangue.

Despertei dos meus pensamentos, de repente. Arthur continuava a dormir e a ressonar com a cabeça mesmo virada para o meu lado. Suspirei da minha sorte. E comecei a teclar com força uma mensagem para o meu amigo.

"Para: Scott

 Nope. Tens de combinar outro dia, amanha vou continuar em casa dos meus avós."

 Fechei os olhos e tentei adormecer até que recebi outra mensagem, que fez estremecer o chão debaixo do meu telemóvel. O meu primo gritou, como um ogre ou como um monstro, e eu assustei-me.

 - CALA-ME A PUTA DO TELEMOVEL OU EU DESTRU-O COM A MINHA BARBA! - Reclamou ele, com a sua habitual boa disposição matinal.

 - Desculpa, acho que ele vibra um bocado alto. - Desculpei-me.

 Arthur virou-se na cama e eu li a mensagem.

 "De: Scott

 Tudo bem. Combinamos noutro dia."

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