Capítulo 22

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Já se passou uma semana desde o casamento e desde ontem não vejo o Pedro, eu tinha falado pros meus pais pra ele ficar mais essa semana me ajudando a fazer os exercícios, apesar de eu não precisar mais disso. Hoje já é terça e, apesar de eu ter ido pra escola, não consegui prestar atenção em nenhuma aula, estava com um mau pressentimento estranho. Por que o Pedro tinha que mexer tanto comigo? Quando bateu o sinal pra ir embora, sai com uma certa ansiedade no peito, queria correr, mas tinha medo do que podia encontrar, ou melhor, de não encontrar. Assim que sai da escola, meus olhos percorreram a rua em busca do Pedro, qualquer sinal, mas não tinha nada. Talvez ele esteja atrasado, sentei na calçada e coloquei meus fones para espera-lo. 10, 20, 30, 40 ... 1 hora e nada dele aparecer, todos já tinham ido embora e só estava eu ali. Peguei minha bolsa e comecei a andar, respirando fundo para segurar as lágrimas que insistiam em cair. Ele só teve um imprevisto, tá tudo bem, ou pelo menos é nisso que eu quero acreditar. Meu celular tocou diversas vezes no caminho, mas eu não quis atender, então deixava tocar até cair na caixa postal. Quando cheguei em casa minha mãe estava na sala com a Amélia, ambas parecendo preocupadas.

-Filha graças a Deus você apareceu – falou minha mãe vindo me abraçar.

-Ju aonde você tava? – perguntou a Amélia se aproximando.

-Tava voltando da escola – falei – Fiquei esperando o Pedro e, como ele não apareceu, vim andando – acrescentei tentando soar calma.

-Ele não te avisou? – perguntou minha mãe e vi a Amélia engolir em seco.

-Avisou o que? – perguntei já imaginando a resposta.

-O Pedro veio aqui hoje de manhã pedir demissão, ele disse que você já está ótima e que já está liberada dos exercícios – falou minha mãe e, antes mesmo que eu pudesse impedir, lágrimas começaram a cair pelo meu rosto.

-Não, não pode ser – falei e sai correndo pro meu quarto trancando a porta assim que entrei. Encostei nela e sentei no chão, permitindo que todas aquelas lágrimas caíssem, me permitindo chorar pelo menos por um minuto, antes do meu mundo desabar de vez. Como uma pessoa consegue mentir tão bem sobre seus sentimentos? Mas eu deveria saber que eu era só mais uma pra ele, que depois que transassemos ele iria embora. Limpei as lágrimas com raiva e vi que tinha um envelope em cima da minha cama. Fui até ele e abri-o, pegando uma carta.

Ju, sei que quando você ler essa carta, provavelmente já vai saber que eu fui embora, então, antes de mais nada, peço que você me perdoe por isso, me perdoa por tomar essa decisão sozinho e eu realmente espero que você entenda que eu nunca quis te machucar e que eu te amo mais que tudo.

Pedro

Quando terminei de ler rasguei a carta e joguei-a fora, depois de tudo que a gente passou, ele se despede e me pede perdão por uma carta? Eu não consigo acreditar nisso, eu não consigo acreditar que isso realmente está acontecendo, que ele realmente foi embora. Me joguei na cama e deixei que as lágrimas voltassem a cair, minha mãe e a Amélia bateram na porta várias vezes tentando falar comigo, mas não respondi, apenas liguei o som alto e fingi que não estava ouvindo. Assim foi minha tarde inteira, tudo o que a gente passou fica rodando como um filme na minha cabeça, olhei no celular e agora já são 20:45, mas quer saber? Cansei de chorar, então levantei e fui tomar um banho, quando sai coloquei a primeira roupa que vi, que era um short e uma camiseta simples, coloquei meu tênis, arrumei meu cabelo e passei uma maquiagem pra disfarçar a cara de choro e os olhos inchados. Sai pela janela do quarto e fui andando pela rua, até decidir pra onde ir, então chamei um taxi e passei o endereço. Quando cheguei olhei pro prédio em que eu e o Pedro passamos a noite juntos. Irônico não? Eu querendo esquece-lo e indo justo ao lugar que mais me lembra ele, mas eu não estou aqui para lembra-lo, muito pelo contrário, estou aqui para esquece-lo. Como? Ainda não sei, as pessoas sempre falam que você não deve fugir dos seus problemas, mas sim enfrenta-los, elas só não dizem o quão difícil é fazer isso. O fato é que eu não sei exatamente o que vim fazer aqui, só sei que era o único lugar que passava pela minha cabeça pra ir. Comecei a subir as escadas, lembrando cada palavra daquela carta e, quando percebi, já havia chegado ao último andar. Comecei a andar pelo espaço que poderia ter sido um lindo apartamento, grande e espaçoso, mas que estava abandonado sem nem ter sido completado. Em uma das paredes tinham vários grafites, não tinha reparado nisso quando estive aqui com o Pedro. Me assustei ao ouvir risadas e virei, ficando de frente pra um grupo com cinco pessoas, todos com roupas escuras e capuzes.

Um amor pode mudar tudoOnde histórias criam vida. Descubra agora