Audrey não gostava do inverno, era frio (avá), ela não gostava do frio. Sempre gostou do verão e do calor. Ela quase sempre ficava doente nas primeiras semanas do inverno. Neste ela tinha pegado um resfriado forte que durou quase um mês.
Ela estava caminhando devagar até a escola, não ficava longe da casa dela, mas Audrey sempre pegava o caminho mais longo. A calçada tava quase toda coberta de neve, provavelmente tinha nevado de madrugada, ela não gostava de neve, então tentava, o máximo que podia, andar sem pisar na neve. Algumas crianças brincavam na frente de suas casas, jogando bolas de neve umas nas outras, Audrey sorria as olhando, mas passava o mais longe que podia delas, não queria ser atingida por uma bola perdida.
De repente, quando estava chegando na frente da escola, Audrey ouviu uma voz, uma voz que já ouvira em seus sonhos, ela parou e olhou em volta, não havia ninguém. Suspirou e voltou a caminhar. Estou ficando louca? Ela se perguntou. Era a primeira vez que ouvia a voz sem estar sonhando, uma voz bastante sombria, sempre a chamando. Lembrou-se do sonho dessa noite, não ouvira a voz, mas a sensação que teve na frente do portal era a mesma que sempre tinha quando a voz a chamava nos sonhos. De que devia ir a algum lugar.
***
A manhã na escola foi anormalmente chata, estava sendo desde que Cassie tinha ido embora. Na hora do almoço, tinha aquela costumeira panelinha, as garotas populares sentavam-se sempre juntas em um canto, os atletas em outro, os nerds em outro, os garotos que não queriam nada (Carl) em outro, as pessoas normais em outro, e Audrey, que não se encaixava em nenhum desses grupinhos clichês, sozinha em um canto isolado. O grupo dela era a Cassie que não estava ali, as vezes uma ou duas garotas, que faziam algumas aulas com elas, sentavam-se ali também, mas agora, Audrey estava sozinha.
Enquanto comia seu almoço, ela notou o Carl lançando alguns olhares pra ela lá da mesa dos que não queriam nada. Então, ele se levantou e caminhou na direção dela. Ela ficou super confusa, o Carl sempre fingia que não a conhecia, mesmo que algumas pessoas soubessem que eram irmãos adotivos. Ele quase nunca falava com ela na escola, a não ser que fosse para importuná-la, mas agora ele estava indo se sentar com ela. O que ele queria? Ele parou na frente dela e a encarou, ela sustentou seu olhar.
- O que foi? Olha... Se está aqui pra me perturbar, veio na hora errada. - Ela começou. - É hora do almoço, cara, eu tô comendo, comer é uma coisa sagrada, então, por favor, me deixe comer em paz.
- Relaxa, eu só... Vim me sentar com você. - Ele riu e se sentou.
- Quê? - Ela o olhou incrédula.
- Eu vi você sentada aqui sozinha, parecia meio... Deprimida, sei lá, deve tá se sentindo sozinha, então decidi fazer companhia. - Audrey meio que ficou sem palavras.
Carl era a pessoa menos esperada para fazer tal coisa naquela escola, ela podia esperar isso até das garotas populares (mesmo que ela não aguentasse o cheiro forte de perfume e maquiagem). Ela continuou em silêncio o encarando.
- Você por acaso está usando drogas, Carl? - Ela perguntou.
- Não, só estou tentando melhorar o dia da minha Maninha. - Ele sorriu pra ela.
- Engraçado que, desde o dia que eu te conheci, seu passatempo preferido é exatamente o contrário disso.
- Eu sei, mas... Por mais que eu me divertia, isso vai mudar. - Ele falou, e pareceu falar sério, Audrey não notou nenhum tom sarcástico na sua voz.
- Eu não acredito. - Ela balançou a cabeça, voltou a comer sua comida. - Por que isso agora?
- Porque... - Ele suspirou.
- Nossos pais pediram? - Ela se antecipou.
- Também.
- Hum... - Ela notou os amigos dele olhando da mesa dos que não querem nada. - Seus amigos estão sentindo sua falta.
- Você é mais importante.
- Okay... - Audrey continuou sem entender nada, mas resolveu não tentar entender.
Carl ficou com ela até terminar o almoço e a acompanhou até a sala da próxima aula dela.
***
Os pais de Audrey a esperavam na porta da escola, era raro quando isso acontecia, mas aquele dia estava muito estranho, tão estranho quanto... Ela sorrio com o pensamento e caminhou de boa para o carro.
- Seu irmão já saiu? - Perguntou Jonathan.
- Meu...? Ah, não sei. Acho que sim. - Ela respondeu entrando no carro.
- Ele está vindo ali. - Helena falou.
Jonathan acenou para o Carl que saia com os amigos da escola, ele parou de caminhar uns instantes ao ver o pai acenando, então se despediu dos amigos e foi na direção do carro.
- Pai, mãe. - Ele sorrio e entrou no carro. - Maninha. - Ele se sentou ao lado da Audrey.
- Hey... - Ela respondeu.
Jonathan deu a partida e seguiram para casa. Audrey pegou o celular para ver se tinha alguma mensagem da Cassie, mas não tinha nada, mais uma coisa estranha nesse dia estranho. Sempre tinha mensagem da Cassie contando sobre o seu dia na escola nova, isso a fez se sentir sozinha. Audrey então mandou uma mensagem "Hey, cadê você?" Ela suspirou, queria contar a amiga sobre o dia estranho.
Audrey notou que seus pais, vez ou outra, lançavam uns olhares para ela pelo espelho retrovisor, pareciam preocupados, tipo como as pessoas ficam quando estão para falar algo para alguém, mas não sabem como será a reação do outro. Pelo jeito que eles olhavam, seja o que for quisessem contar a ela, não devia ser algo bom. Audrey pensou em perguntar, mas resolveu esperar, talvez fosse só imaginação dela e eles só estivessem preocupados com o trabalho.
-Então, como foi a escola? - Helena perguntou.
- Normal. - Respondeu Carl.
- Audy? - Helena olhou pra Audrey, mas não pelo espelho retrovisor, ela se virou para olhá-la. - E com você, como foi?
- Ah... É, normal também. - Ela respondeu. Olhou o celular de novo, nada da Cassie responder. - Normal...
- Ela disse novamente só que dessa vez bem baixinho para si mesma.Não demorou muito para chegarem em casa. Audrey foi direto pro quarto e tomou um banho. Ela tinha decidido não descer pra jantar, então depois do banho se jogou na cama, olhou o celular novamente, nada de resposta da Cassie. Ficou uns instantes em devaneios, então decidiu ler algum livro, quando estava na metade do capítulo ouviu batidas na porta.
- Audrey? Desça pra jantar, está quase servido. - Era a Helena. Audrey suspirou e fechou os olhos. - Precisamos conversar depois do jantar. - Audrey notou o tom de preocupação na voz dela.
- Okay, já estou indo. - Ela respondeu.
Então as suspeitas dela estavam certas, eles precisavam contar a ela algo que provavelmente não a faria reagir bem. Audrey se levantou e foi se arrumar para o jantar.
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Filhos Da Natureza - A Prisão Das Trevas
FantasyAudrey Jansen "Audrey caminhou lentamente até o portal, e levou a mão até a névoa. Uma corrente gelada atravessou seu braço e percorreu todo o seu corpo quando ela a tocou. O lugar, alguma coisa, alguém que havia do outro lado, a chamava. Então ela...