Jhanny estava com saudade da comida de Natureza, do suco de pêssego azul, estava com saudade de tudo.
Ela, Lúcia e John tinham chegado ao Salão antes de Ton e a garota nova, o que era estranho já que os dois tinham vindo primeiro. Os três estavam sentados juntos numa mesa perto da janela. O Salão era um lugar amplo, retangular, várias mesas pequenas e médias espalhadas e uma mesa maior onde ficavam os anciãos em uma das extremidades, mas eles não estavam lá, quase nunca estavam. As janelas eram de vidraças coloridas, a luz do sol fazia as cores serem refletidas nas mesas perto delas. Enquanto comia e tomava seu suco, Jhanny observava as pessoas, vários rostos conhecidos, mas ela não sabia o nome de pelo menos oitenta porcento deles, só os conhecia de vista.
Logo, Thomas e Sther chegaram e se juntaram a eles. Jhanny queria que Carter estivesse ali, esse era um defeito dele, nunca estava com ela quando ela queria. Jhanny suspirou e sentiu-se um pouco abandonada.
- Quando o Carter e os outros voltam? - Ela perguntou.
- Amanhã, eles vão passar esta noite na floresta. - Thomas respondeu.
- Ah. - Jhanny assentiu.
- Houve algum ataque ou avistamento suspeito nas redondezas? - John perguntou.
- Pior que não, e por isso deduzimos que estão esperando um momento perfeito pra atacarem de vez. - Sther respondeu.
- Isso é estranho. - Lúcia falou.
Jhanny estava preocupada, ela sempre ficava quando Carter saía com o Lincoln e o Erick nessas patrulhas, mas desta vez ela estava com um pressentimento ruim.
- Nenhuma suspeita sobre o espião? - John perguntou.
- Bem, sim, o Erick tem uma suspeita, ele confidenciou a mim, mas pediu pra não contar a ninguém, então vocês não podem saber agora. - Thomas falou.
- O Erick está mais empenhado que todos para descobrir. - Sther falou enquanto comia uma fruta. - Até mais que os anciãos, embora eu suspeite que eles já saibam, porém, querem deixar que a gente descubra por si só.
- Tenho cem porcento de certeza que esse espião é o responsável por ter deixado o portal aberto. - Lúcia falou.
- Todos temos essa certeza. - Jhanny falou.
Ela se lembrou do encontro que tiveram com Naturah e Enimal, na missão do ano passado, eles tinham mencionado o espião, sabiam quem era, mas não quiseram revelar, e se eles sabiam, Sther tinha razão sobre os anciãos também saberem, já que eles eram próximos e, de certa forma, confidentes dos deuses.
- Onde estão os outros dois? Ton e Audrey? - Sther perguntou. - Não deviam estar aqui?
- Devem estar colocando o papo em dia. - Lúcia falou. - Foi um reencontro interessante dos dois, estou curiosa sobre a história deles.
- Todos estamos. - John confirmou.
- Qual a descendência dela? - Jhanny quis saber. - Eu não consegui adivinhar.
Jhanny tinha descoberto uma nova habilidade herdada de Syx. Ela conseguia adivinhar a descendência de um filho da natureza ao sentir sua energia. Uma habilidade considerada rara entre descendentes de Syx. Ela era a única dos últimos três séculos. Essa era a segunda vez que ela não conseguia adivinhar a descendência de alguém, a primeira vez foi com o Ton. Assim que descobriu que tinha essa habilidade, ela tentou com ele, mas não conseguiu. Ton era um caso raro, nem os anciãos sabiam sua descendência, ou se sabiam, não queriam revelar.
- Estranho, o que sabemos até agora, é que ela é descendente de Aroh. - Thomas começou. - Isso ficou claro depois que ela saltou sobre a muralha.
- Ela o que!? - Lúcia arregalou os olhos.
- Saltou sobre a muralha, uma coisa que nunca aconteceu antes. Bem, filhos ou descendentes de Aroh, tem essa habilidade de deixar o corpo leve e conseguir saltar à alturas inimagináveis, ou até mesmo voar. - Thomas respondeu.
- Eu não conseguiria fazer isso por causa da tia Tanna? Vou tentar. - Lúcia falou.
- Eu não sei dizer. - Thomas respondeu rindo.
Nesse momento Ton e Audrey entraram no Salão e se sentaram à mesa.
- Hey, gente. - Audrey falou e sorriu.
- Hey. - Lúcia sorriu pra eles. - Então, como se conhecem? - Ela foi direto ao ponto. Jhanny soltou uma risada.
- Nos conhecemos no Smithsonian, acho que há quase dois anos. - Audrey respondeu.
- Vocês estiveram no Smithsonian? Legal. - John falou.
- Sim, foi uma viagem da escola. - Ton falou.
- Mas como foi que se encontraram? - Lúcia quis saber, ela parecia realmente curiosa sobre os dois.
- Ah... Bem, eu estava entediada, então resolvi sair do grupo da minha escola e dar uma volta sozinha, então eu o vi todo estranho e senti que devia me aproximar e falar com ele. - Audrey contou.
- Sentiu? - Lúcia ergueu uma sobrancelha e olhou de um para o outro. - Que lindo, shippo.
- Na verdade, isso é interessante. Filhos da natureza sempre são atraídos por outros filhos da natureza quando estão na terra. - Sther falou. - Não há muitas explicações pra isso, mas inconscientemente sentem que o outro é filho da natureza e sempre acabam se aproximando.
- Como aconteceu comigo e com a Lúcia? - Jhanny perguntou.
- Exatamente. - Thomas continuou. - Geralmente isso ajuda a aumentar a energia natural um do outro e despertar os poderes. Deixa eu adivinhar, você começou a ter sonhos estranhos depois que o conheceu? - Ele perguntou pra Audrey.
- Sim. - Ela respondeu.
- Eu também comecei a ter sonhos estranhos depois disso. - Ton falou.
- Legal. - Lúcia falou.
- Isso é legal, mas... Como faço pra comer aqui? Estou faminta. - Audrey falou.
Thomas sorriu e chamou a moça que sempre os servia, então ele deixou Audrey escolher o que comer, ela quis o mesmo que o Ton. Porém, ela optou por tomar suco de pêssego azul, enquanto Ton escolheu suco de uva. Ele era a única pessoa em Sfixland que não gostava do suco de pêssego azul. A garota tinha razão, ele realmente era estranho.
Depois que todos comeram, ficaram uns instantes conversando sobre coisas aleatórias. John e Lúcia foram os primeiros a sair, foram caminhar, logo depois Ton resolveu mostrar o centro de treinamento pra Audrey, por últimos, Thomas e Sther foram ver como estavam indo as coisas nas salas de aula. Jhanny ficou mais um pouco, então decidiu ir para os estábulos ver como estava Lua, uma égua que pertencera a mãe dela e que agora era dela.
Quando chegou lá e viu Lua, que tinha uma pelagem branca que parecia brilhar, Jhanny sentiu vontade de cavalgar. Ela e o Carter sempre cavalgavam juntos, ele a levava sempre ao mesmo lugar, o mesmo que a levou na primeira vez que cavalgaram juntos. Ela pegou as rédeas e os outros acessórios, preparou Lua e saiu do estábulo. Então montou à égua e partiu.
Ela adorava sentir o vento no rosto, senti-lo levantar seu cabelo, que estava solto, ela sorriu, uma sensação de liberdade sempre tomava conta dela quando estava cavalgando. Não demorou muito pra ela chegar onde queria. Então desmontou Lua e deixou-a solta para pastar pela área, respirou fundo, sentindo o cheiro das plantas, das flores e de maçãs.
O local era perto de um pequeno lago cercado por pequenas plantas, tinha uma macieira à beira do lago. Ela e Carter sentavam-se ali e conversavam sobre a vida. Jhanny deitou na grama ao lado da macieira e ficou olhando pra cima, fitando o céu através das folhas da árvore. Uma maçã caiu quase perto da sua cabeça e ela se assustou, se sentou rápido olhando em volta, lembrou que não tinha trazido nenhuma arma, mas aparentemente estava sozinha, não sentia nenhuma presença ali.
Ela pegou a maçã e notou que tinha algo amarrado em volta dela com uma corda de cipó fino, um bilhete. Ela desenrolou o cipó e abriu o bilhete, tinha o desenho de um símbolo estranho e uma mensagem, o desenho era a folha de uma árvore com duas faces, a face esquerda era normal, mas a direta estava envolta por chamas, no centro havia algo parecido com a íris de um olho humano, mas a pupila era uma fenda, igual os olhos dos gatos. Jhanny nunca tinha visto tal símbolo. A mensagem Estava escrita numa letra elegante: Ótimo trabalho, Sr. Falcão.
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Filhos Da Natureza - A Prisão Das Trevas
FantasíaAudrey Jansen "Audrey caminhou lentamente até o portal, e levou a mão até a névoa. Uma corrente gelada atravessou seu braço e percorreu todo o seu corpo quando ela a tocou. O lugar, alguma coisa, alguém que havia do outro lado, a chamava. Então ela...