Audrey estava em seu quarto, arrumando sua mala enquanto Sther e Thomas conversavam com seus pais. Sther havia dito que não era necessário levar muita coisa, então ela estava colocando na mala apenas o básico.
A todo momento Audrey pensava no Ton. Thomas e Sther haviam dito para ela não se preocupar que eles dariam um jeito de trazê-lo de volta, mas ela não conseguia, não queria perdê-lo também, depois de ter ficado tanto tempo sem vê-lo.
Audrey terminou de arrumar a mala e se jogou na cama de braços abertos e ficou contemplando do teto. Alguém bateu na porta, mesmo não havendo necessidade, pois estava aberta. Era o Carl.
- Então você é mesmo uma esquisita? - Ele falou encostando-se no batente e cruzando os braços.
- Eu diria especial. - Audrey se sentou.
- Pra mim é esquisita. - Ele riu.
- Estava ouvindo a conversa dos adultos? - Audrey ergueu as sobrancelhas.
- Acertou. Uma conversa bem estranha para adultos. - Carl disse. - Mas sendo sobre você chega a ser normal.
- Muito engraçado. - Audrey deu uma risada sarcástica. - Veio se despedir da sua maninha?
- Vou sentir falta de fazer da sua vida um inferno. - Ele olhou pra mala dela. - Mas encontrarei outra esquisita pra perturbar.
- Espero que algum dia você mude. - Audrey falou. - E acabe se casando com uma. - Riu.
- Que Deus não te ouça. - Carl descruzou os braços. - Bem, eu preciso ir, até algum dia, maninha.
- Até, Carl. - Audrey sorriu, então Carl saiu.
Ela deitou na cama de novo, fechou os olhos e deu um longo suspiro. Tinha perdido a melhor a amiga, e nem esteve presente para o funeral, que aconteceu no dia anterior segundo Helena. Agora não tinha mais como se despedir dela, pensou Audrey, mas por um lado foi bom não ter ido, não queria que sua última lembrança da Cassie fosse dela em um caixão, mas de todos os momentos felizes delas juntas. Do sorriso contagiante da amiga. Audrey respirou fundo. Em menos de uma semana que perdera a melhor amiga, perdera o Ton também, ela segurou as lágrimas que ameaçaram cair. Se sentia perdida e inútil por não ter conseguido salvar os dois.
***
Audrey levantou num pulo, olhou em volta, ainda estava no quarto. Ela tinha pego no sono e teve um daqueles sonhos, uma visão de uma ilha... Era como se estivesse sobrevoando o lugar, uma ilha de planícies verdes, e azuis em alguns lugares, onde tinham árvores iguais àquela que tinha na colina de Sfixland. O que tinha despertado Audrey era a voz, chamando ela. E, por alguma razão inexplicável, razões inexplicáveis estavam sempre presentes na vida dela, ela sentia que poderia obter respostas para salvar o Ton naquele lugar.
De repente, ela estava parada num lugar em ruínas, uma espécie de templo abandonado. Colunas caídas, outras quase caindo, o lugar não tinha mais teto. Várias ervas daninhas cresciam espalhadas pelo chão e paredes que ainda se mantinham de pé. Numa parte do templo tinha um estrado de mármore escuro que ainda se mantinha intacto, empoeirado, mas intacto. Nesse estrado tinha um daqueles arcos de pedra com símbolos estranhos que Audy via nos sonhos anteriores, um portal, mas diferente dos outros, ele não parecia funcionar, tinha algumas rachaduras, estava em ruínas também, porém, ela sentia algo ali, uma presença.
Você veio. Audrey ouviu uma voz e uma risada. Não... Ainda não, mas virá. Você quer respostas... Quer saber porque perdeu mais alguém... Mais risada. Se vier, obterá as respostas... Salvará o seu amigo... Venha e me liberte, garota...
- Quem é você? - Audrey perguntou.
Tenho a impressão de que você já sabe... Mais risada e logo depois silêncio. Ela acordou.
Audrey não teve certeza, mas teve uma idéia de quem poderia ser. Ela olhou pela janela, era noite, olhou sua mala no chão. Thomas e Sther já deviam ter conversado com Helena e Jonathan. Audrey suspirou, deu uma ajeitada nas madeixas, resolveu sair do quarto e descer.
Helena estava na sala sozinha. Audrey sentou-se ao lado dela no sofá.
- Hey. - Helena disse e a abraçou.
- Onde estão todos? - Audrey perguntou retribuindo o abraço.
- O Carl saiu com os amigos, seu pai teve que voltar pro trabalho e vai chegar um pouco tarde hoje. - Ela disse.
- Thomas e Sther? - Audrey quis saber.
- Ah, eles estão dando uma volta, disseram que voltam a tempo para jantar conosco. - Helena disse.
- Ah, sim. - Audrey assentiu.
- Então... Eles parecem ótimos. - Helena começou. - Nos contaram tudo... Uma loucura acreditar em tudo isso, mas... - Ela pareceu confusa. - Tudo bem. Só promete que não vai nos esquecer... Nos abandonar... - Helena disse meio triste sem olhar diretamente pra Audrey.
- Mas é claro que não vou. Virei visitar sempre que puder, sempre. - Audrey falou.
- Mesmo? - Helena a olhou.
- Sim... Mãe. - Audrey falou.
- Okay... Filha. - Helena disse, com os olhos brilhando e a abraçou novamente. - Como você tá? Sinto muito que tenha perdido o funeral da Cassie, eu disse a July que você gostaria de estar lá, mas que estava muito mal pra ir.
- Eu... - Ela suspirou meio trêmula, estava se segurando pra não chorar. - Eu não sei. - Disse por fim.
- Entendo, espero que você fique bem, com seus novos amigos nesse novo lugar. - Ela ainda a abraçava. - Ainda estou processando tudo, é muita coisa... Estranha pra acreditar. - Ela riu um pouco e Audrey concordou.
Elas ficaram conversando sobre várias coisas. Audrey contou as experiências dela em Natureza. Como se sentiu quando entrou lá, como o lugar a fazia se sentir especial, como era tudo tão... Natural e lindo.
Thomas e Sther chegaram pouco depois e os quatro foram jantar.
***
A noite, antes de dormir, Audrey estava na varanda do seu quarto. Era uma noite fria de inverno, ela não gostava, mas não se incomodou. A neve caia lentamente, no jardim, o gramado estava coberto dos cristais de gelo. Audrey ainda pensava em Cassie, ela teria adorado saber sobre Natureza, o lugar mais maravilhoso no qual Audy já pisou os pés.
Ela fechou os olhos lembrando da sensação que teve no primeiro momento depois de ter atravessado o portal. A floresta estava escura, mas ela sentia tudo, a energia, o ar puro, o cheiro das flores. Ficou uns instantes parada sentindo tudo aquilo, jamais havia sentido algo assim, jamais havia se sentido tão... Feliz, tão em casa.
Audrey abriu os olhos e sorriu, estava empolgada para sentir aquilo de novo, mas logo perdeu essa empolgação ao lembrar do Ton. Ele não estaria lá quando ela voltasse. Nem no lugar mais maravilhoso do Universo a vida era legal com a Audrey. Perdera a melhor amiga, reencontrou o Ton em Natureza só para perdê-lo de novo.
Se ela gostava dele? Bem... Audrey nunca se interessou muito por garotos, talvez só pelos personagens de seus livros preferidos, mas como dizia a Cassie, na vida real não existia garotos perfeitos. Mas Ton era diferente de uma forma que ela não sabia explicar.
Depois de não suportar mais ficar no frio, Audrey resolveu entrar, fechou a porta da varanda e foi para cama, se cobriu com seus cobertores mais quentes e tentou dormir.
Mas ela sonhou.
Estava novamente no templo com aquele portal. Ela olhou em volta, deu alguns passos na direção da saída e parou. Era noite, o céu estava limpo, dava para ver as estrelas melhor que em qualquer lugar que Audrey já estivera. O templo ficava numa clareira, uma floresta com árvores altas cercava o lugar. Não dava para ver nada além delas, apenas pequenos pontos luminosos coloridos que flutuavam entre as árvores. Dava para ouvir sons e rugidos estranhos de animais noturnos, e o cheiro... Era o mesmo cheiro doce das flores e da fruta daquela árvore de folhas azuis que tinha em Sfixland.
Onde estou? Audrey se perguntou, mas antes que pudesse obter alguma resposta, ela acordou. Já era de manhã.
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Filhos Da Natureza - A Prisão Das Trevas
FantasiAudrey Jansen "Audrey caminhou lentamente até o portal, e levou a mão até a névoa. Uma corrente gelada atravessou seu braço e percorreu todo o seu corpo quando ela a tocou. O lugar, alguma coisa, alguém que havia do outro lado, a chamava. Então ela...