Capítulo 3

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Capítulo 03

Enquanto a porta da sala da Sra. Cooper se abriu, Theo foi tomado por uma miríade de sensações e emoções, com o choque sendo a principal delas. Choque com a metamorfose da estudante quieta e comportada da qual ele se lembrava, nesta jovem mulher impetuosa e, sem dúvidas, bela.

Theo ficou consternado ao perceber que não vira sua protegida em mais de um ano. Ele estivera no Taiti com sua namorada, Luna, no Natal, enquanto Gabriela passara os feriados com Amy e sua família, de quem era próxima. Antes disso, ela passara as férias de verão com as famílias de algumas amigas uma das quais sempre o encarava como se quisesse devorá-lo, mas cujo nome ele não se lembrava. Pensando na Páscoa, ele prometera que passariam algum tempo juntos em Londres, mas então o trabalho havia se intrometido e todos os planos se desfizeram quando Gabriela apareceu inesperadamente. Gabriela se desculpara, dizendo que tinha trabalhos de escola para completar antes de voltar às aulas, então ele não havia pensando que fosse nada demais apenas o típico comportamento adolescente.

Tudo isso queria dizer que ele não a via desde o Natal, quando ela tinha dezesseis anos e tudo que podia se lembrar era que Gabriela costumava passar todo o tempo se escondendo no seu quarto. A principal memória que ele tinha era de estar na casa dos pais de Luna, onde Gabriela estava carrancuda e monossilábica, mal falando com qualquer um. Qualquer comunicação entre eles, depois disso, se tornou praticamente restrita a emails e o raro telefonema. Em sua ignorância, Theo falhou completamente em reconhecer a sincronicidade destes eventos e o aumento dos desafios às convenções de Gabriela.

Aliado à sua surpresa diante de sua atitude, porém, estava o choque de Theo com a aparência física de Gabriela. Ele sempre a considerara uma garota bonita, mas sua memória dela era de uma garota um tanto quanto andrógina e desajeitada, usando um aparelho que roubava o brilho do seu sorriso, tão parecido com o de sua bela mãe. Substituindo a criança das suas memórias estava uma beleza deslumbrante, com um corpo que faria até mesmo o Papa pecar. Certamente Theo não tinha defesas preparadas diante de tal tentação, e ficou atônito diante da reação primitiva e visceral que a visão das curvas deliciosas de Gabriela, apertadas dentro de jeans e algodão, causavam nele.

A necessidade de disfarçar sua reação mental e física aos estímulos que o estavam bombardeando fizeram com que Theo, de novo, abandonasse sua cadeira e andasse até a janela, mantendo as costas viradas para a sala e Gabriela, enquanto discretamente fechava seu paletó. Ele estava completamente perplexo com o que estava lhe acontecendo, e mal notava que seu comportamento atual seria interpretado como irritação e rejeição.

Quando Theo se virou, pensou ver algo no olhar de Gabriela, mas o que quer que fosse desapareceu antes que conseguisse identificar, sendo substituído pela indiferença calculada padrão de todos os adolescentes. Ela se deixou cair na cadeira que ele havia abandonado instantes antes, balançando uma perna sobre a outra em um gesto exagerado, cruzando os braços e fixando seu olhar na mesa da Sra. Cooper, parecendo concentrada em algo que apenas ela podia ver.

— Gabriela, seu pai adotivo e eu estávamos dis... — a Sra. Cooper começou, antes de ser interrompida por Gabriela.

— Ele não é meu pai adotivo, é meu guardião legal. Tem uma diferença. — ela exclamou com gosto. — Vai me expulsar? — perguntou sem preâmbulos, finalmente encarando a Diretora.

— Acha que merece ser expulsa, Gabriela? — a Sra. Cooper perguntou, escolhendo ignorar a interrupção rude de Gabriela.

Gabriela a encarou por um momento, antes de fazer um som baixo e bufado e voltar a prestar atenção na mesa.

Ela foi surpreendida pelo que pareceu ser um resmungo de escárnio vindo de trás dela, fazendo com que se virasse na cadeira para encarar Theo.

— Pode nos esclarecer, Gabriela, sobre o que considera uma punição adequada para o seu recente comportamento terrível? — a voz de Theodore pingava sarcasmo, enquanto ele lutava para manter a compostura.

A resposta que ele recebeu foi um murmúrio que mal era audível vindo de Gabriela, mas que fez os olhos da Diretora se estreitarem.

— O que foi, Gabriela? Vamos lá, não seja tímida. — Theo insistiu.

Gabriela pulou da cadeira, girando para encontrar o olhar de Theo, seu rosto corado com raiva e frustração.

— Eu disse "vai se foder, Theo".

A Sra. Cooper saltou da sua cadeira, com uma expressão horrorizada.

— Gabriela! Eu não vou tolerar este tipo de linguagem, está me ouvindo? O que deu em você?

Gabriela a ignorou, com o olhar fixo em Theo, enquanto ele finalmente deixava de controlar sua raiva. Fechando os punhos ao lado do corpo, ele respirou fundo. Quando ele finalmente falou, sua voz estava artificialmente calma, e ainda mais aterrorizante por isso.

— Você tem dez minutos para ir para seu quarto, fazer as malas e descer o traseiro de volta para cá e para o carro. Não provoque, não importa o que faça, Gabriela. Não teste mais minha paciência do que já testou.

AGORA, GABRIELA! — a ordem gritada de Theo fez Gabriela saltar como se ele houvesse estalado um chicote, finalmente a tirando do seu devaneio. Se afastando da mesa onde estivera se apoiando, Gabriela se jogou através da sala e abriu a porta com tanta fúria que ela bateu contra a mesinha posicionada atrás dela, fazendo com que os porta-retratos sobre o móvel balançassem e um deles caísse. Nesse meio tempo, Gabriela havia fugido, sem ver nada ao seu redor, para o andar superior.

Uma vez de volta na calma e segurança relativas de seu quarto, Gabriela puxou uma mala que estava debaixo de sua cama e começou a pegar as roupas no seu guarda-roupas e na sua cômoda. Ela jogou tudo de qualquer maneira dentro da mala, acrescentando livros da sua mesa e das estantes ao redor, o tempo todo lutando contra as lágrimas que ameaçavam cair pelo seu rosto, porque se ela começasse a chorar, Gabriela tinha certeza de que não pararia.

Doze minutos depois de fugir do escritório da Sra. Cooper, Gabriela puxou sua mala ao longo do corredor e escada abaixo, deixando que a mala pesada batesse barulhentamente em cada degrau da pequena escadaria. Ao fim dela, Gabriela mal pausou e continuou através do vestíbulo, passando pelo escritório da Sra. Foster e saindo pelas portas duplas. Ela viu o carro de Theo imediatamente, e foi em sua direção. Deixando sua mala e a bolsa que jogara sobre o ombro no chão, atrás do carro, ela deu a volta ao redor do veículo e se sentou no banco do passageiro. Uma vez acomodada, ela cruzou os braços e fechou os olhos, esperando que Theo se juntasse a ela.

Ela não teve que esperar muito. Gabriela ouviu o porta-malas ser aberto e o carro vibrar levemente enquanto Theo guardava suas coisas de qualquer jeito antes de se sentar no banco do motorista, fechando a porta com um pouco mais de força do que era necessário.

— Coloque o cinto de segurança. — Theo falou em voz baixa, mas com uma autoridade que não dava margem para argumentos.

Enquanto Gabriela obedecia, Theo estendeu a mão e ligou o iPod na sua base, enchendo o interior do carro com Kings of Leon, e Gabriela percebeu que era improvável que ele falasse com ela de novo antes de chegarem a Londres.

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