Sonhar-me

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Eu criei um mundo distante
no qual eu tive a ilusão de poder ir,
no qual eu sonhei ser possível.

Esse mundo
eu criei sonhando.
E a cada sonho que eu tinha,
mais eu queria dormir. Mais eu queria sonhar,
de novo e de novo. Para todo o sempre.

Mas eu tive que acordar
"Você precisa parar de sonhar", diziam.
Nunca consegui entender o motivo das pessoas não me deixarem sonhar.
Se minha vida é o meu sonho.
Ninguém pode sonhar por mim. Ninguém ganha nada em me tirar um sonho.

Sempre que eu era obrigado a fazer o que eu não queria
meu sonho morria. Parte de mim também morria.
Eu me notei, mas não vivi.
Meu universo e a minha vida
desapareciam.

Mas por teimosia ou por capricho
mesmo diante de tantas mortes e desaparecimentos
eu pude sentir-me novamente.

Sentia-me música,
sentia-me arte,
sentia-me transbordar vida e alegria.

E mais uma vez, mesmo diante de tantas mortes e desaparecimentos,
eu pude sonhar-me novamente.
Pude sentir meu corpo e minha consciência transbordar.
A vida explode dentro de mim.

Sonhei-me música,
sonhei-me arte,
sonhei-me vivo, aqui e agora.

Quando notei que sentia-me sonho,
simultaneamente, senti-me vivo no agora.


E, mesmo diante da violência, da dor e da ignorância,
senti que por pura teimosia eu me livrei do pessimismo da realidade.
Decidi continuar a sonhar.
Não dormindo, mas acordado.
Consciente do que sou e do que quero no agora.
Nessa pequena e imperceptível linha perdida
no meio desse todo poderoso e inexorável passado
e desse depois de importância absoluta.
Por pura teimosia,
eu decidi sentir o agora.

Depois de tudo isso, agora eu sei o que aprendi com o impossível:
as pessoas podem brincar com o destino.

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