Reconstruir o mundo a cada aprendizado

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Francisca era uma senhora simples, humilde e engraçada, tão grandiosa que deixava sua marca nos sorrisos diferentes. Era ótimo conversar com ela, mesmo uma conversa descontraída e bem-humorada tornava-se construtiva. Um sorriso bastava, ou melhor, sempre bastou.

Seu sonho era sua vida. Quem iria ligar para a poeira na mobília? Quem se importaria?

Todos aqueles livros empoeirados na estante, nas prateleiras, na mesa de centro e nos sofás só poderiam estar ali por uma causa: construir novos mundos. Aquelas marquinhas pretas e engraçadas não eram simples palavras, eram pura sabedoria! Alegria! Emoção!

Sua casa era simples e solene, o recanto da sabedoria, da paz e da alegria. O telhado era de cerâmica, fogão à lenha, armário de tijolinhos, a casa que sempre sonhou em morar; no nordeste do Brasil, perto da praia e praticamente verão o ano inteiro. Junto de seu marido Maurício viveria o mesmo sonho juntos para sempre.

–Talvez um dia aprenderemos o que está escrito nos livros, o que tentamos falar para nós mesmos. – Disse Francisca.

Era engraçado o modo como encarava a vida: sorrindo e sempre disposta a estar errada. Aprendendo. Mas aquele dia, enquanto fazia o jantar para a visita de seu filho e amigos, despreocupada usando avental e um pano engraçado na cabeça, ela foi séria e explicou com muita sinceridade o que via na realidade:

– Tem sido muito normal fingir aprender com informações curtas e mastigadinhas, em frases diretas e imagens irônicas. Absorver e logo esquecer; acreditar ter aprendido. É muito triste ver as crianças brincar de faz de conta e estudarem sem aprender, obedecendo e acreditando estar fazendo a coisa certa; o que dizem ter aprendido de fato. E mais triste ainda ver que estudam e se esforçam para aprender o que não gostam de fazer para ser quem não querem; ver que o tempo está passando e a felicidade nunca chega.

Depois de uma breve pausa para limpar as lágrimas causadas pela bendita cebola, ela retoma de onde parou:

– E enquanto a felicidade não chega, tentam passar em provas para serem aceitos em algum emprego somente para ganhar muito dinheiro, comprar coisas legais, ganhar status e andar na moda; tudo o que precisam para ser o que querem ser. Personalidade conquistada com dinheiro. O tempo passou e com ele, os sonhos ficaram. –Após essa última frase o telefone toca e ela pede para que, por favor, seu marido, carinhosamente apelidado de "Doca" atenda-o, e então continua com sua grande história – Chega até a ser engraçado a forma como as pessoas têm encarado a vida, mas isso é muito sério! Presos no caos, as pessoas, especialmente as crianças, as nossas crianças, não aprenderão nada, apenas a ser quem não são; desanimo-me muito quando vejo que as pessoas venderam os seus sonhos e a sua vida em troca de papel e de conforto, junto com um bocado de distração. Gostaria muito que todos aprendessem com os livros, com nós mesmos e com nossos corações!

– Nós também gostaríamos! – Responderam em coro, seu filho Maurício e seus amigos Ismael, Guilherme e Karolyn, todos sorrindo.

– Ensinemos nós! – Exclamou Maurício, seu filho, sorrindo divertidíssimo.

Foi então que compartilharam sonhos e jantaram unidos como uma família – e eram –, contando histórias de riscos e de aventuras, romances e dramas engraçados.

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