9. Prom Boy

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As vezes, quando você caminha por Nova York — provavelmente, em qualquer parte, mas especialmente em Nova York porque é super populoso — você vê essas pessoas, pessoas em cadeiras de rodas com as pernas decepadas que apenas passam da borda, ou pessoas com queimaduras no rosto.

Talvez suas pernas voaram em mil pedaços em uma guerra, ou alguém atirou ácido em cima delas. Na realidade, nunca tinha pensado neles. E se tivesse, o que pensei foi em como passar ao lados deles sem que me tocassem. Me davam nojo. Mas agora eu pensava neles o tempo todo, como em um minuto se pode ser normal — até lindo — e então podia acontecer algo no minuto seguinte que mudava isso. Você pode ser lesionado além da reparação. Um monstro. Eu era um monstro, e se eu tivesse cinqüenta, sessenta, setenta anos, eu estaria como um monstro porque do minuto em que Hoseok me lançou o feitiço depois do que eu fiz.

Algo engraçado sobre esse espelho. Desde que olhei nele, fiquei obcecado. Primeiro, observei cada um dos meus amigos — antigos amigos, como Hoseok tinha dito,— os pegando em momentos estranhos — pegos por seus pais, limpando o nariz, nus, ou geralmente sem se lembrar de mim. Observei Jungkook e Namjoon outra vez. Estavam juntos, sim, mas Jungkook tinha outro namorado, um cara que não era de Tuttle. Me perguntei se ele tinha me enganado também.

Então comecei a observar outras pessoas. O apartamento estava vazio nessas longas semanas de agosto. Seokjin fazia minhas comidas e as deixava para mim, mas eu só saia se ouvisse o som de seu aspirador em outra parte da casa, ou se tinha saído. Lembrei de seu comentário de que temia por mim.Provavelmente, ele pensava que eu merecia. O odiei por pensar isso.

Comecei uma brincadeira em que pegava meu anuário e escolhia uma pagina, então sinalava alguma pessoa ao acaso — geralmente era algum perdedor que eu tinha enchido quando estava na escola. Lia seu nome, então olhava no índice para ver que atividades realizavam. Eu achava que conhecia todo mundo naquela escola. Mas agora via que não conhecia a maioria. Agora eu sabia todos os seus nomes.

A brincadeira era escolher uma pessoa, então tentar decidir onde estariam como espelho. As vezes era fácil. Os tecno-gênios estavam sempre em frente do computador.

Os esportistas estavam geralmente fora, dando voltas por aí.

Domingo pela manhã, a foto escolhida era Park Jimin. Ele me parecia familiar. Então compreendi que era o garoto do baile, o que eu tinha dado a rosa, o que tinha se emocionado, o que tinha me feito ganhar minha segunda chance. Nunca tinha reparado nele na escola antes desse dia. Agora folheei suas paginas no anuário, parecia um curriculum vitae: Matricula de Honra Nacional da Sociedade, Honra da Sociedade Francesa, Honra da Sociedade Inglesa... bom, tudo com honra das sociedades.

Devia estar na biblioteca.

— Quero ver Jimin — disse ao espelho.

Esperei a biblioteca. O espelho geralmente mostrava a localização, como em um filme. Então esperei uma imagem dos leões de cimento, depois de Jimin estudando, mesmo sendo agosto.

Em vez disso, o espelho mostrou uma vizinhança que eu nunca tinha visto — e não era o que eu desejava ver. Na rua, duas mulheres com tops tomara-que-caia muito desgastados, discutiam. Um drogado caiu sobre sua porta, totalmente drogado. O espelho recorreu a entrada, atravessou a porta, subiu uma escada com um degrau quebrado e um bocal sem lâmpada com cabos pendurados, para então aterrissar em um apartamento.

O apartamento tinha a pintura descascadas e o chão de linóleo. Havia caixas no lugar de estantes. Mas tudo o que via estava limpo, e Jimin estava sentado no meio disso, lendo; Ao menos tinha acertado isso.

Ele passou uma página, depois outra, e outra. Devo ter ficado olhando o ler uns dez minutos. Sim, era entediante. Mas era mais que isso. De certo modo era incrível que ele pudesse ficar lendo assim, e não prestar atenção ao que estava ao redor.

 beastly  ➻  jm + ygOnde histórias criam vida. Descubra agora