24. Hopeless

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O próximo dia era um sábado, o dia que a gente geralmente estudava juntos. Mas ao invés, foi o dia que Jimin foi embora. Depois que eu chamei um taxi para ele e chequei o horário do ônibus, eu voltei para o meu quarto para assistir ele no espelho. Eu tinha pensado em dar para ele o espelho, para me ver e lembrar de mim. Meu eu decidi que eu não podia ficar sem ele. Se eu não pudesse o ter, eu queria ser capaz de assistir ele. Se eu desse para ele o espelho, ele poderia não me olhar depois de tudo. Ele deve preferir esquecer de mim. Eu não podia lidar com isso.

Então eu assisti ele arrumar as coisas dele. Ele pegou os livros que a gente tinha lido juntos e uma foto do nosso primeiro homem das neves. Ele não tinha nenhuma foto minha. Finalmente, eu parei de assistir ele e fui tomar café da manhã. Quando eu voltei, Taehyung estava lá.

Ele estava segurando o livro que a gente estava lendo, mas ele disse:

— Eu acabei de ir no quarto da Jimin, e ele disse a coisa mais estranha.

— Que ele está indo embora?

— Sim. — Taehyung me deu um olhar de interrogação.

— Eu disse para ele ir. Agora nós podemos mudar o assunto para algo mais animador? Que Les Miserables com certeza foi um livro engraçado.

— Mas, Yeongi, estava indo tão bem. Eu pensei-

— Ele queria ir embora. Eu o amava muito para fazer ele ficar. Ele disse que vai voltar na primavera.

Jimin parecia como se ele quisesse dizer algo mais, mas finalmente ele levantou o livro.

— Então, o que você achou do Inspetor Javert?

— Eu acho que ele seria ótimo como um personagem em um musical da Broadway — eu disse, rindo mesmo que eu não me sentia rindo.

Eu chequei o relógio. O taxi de Jimin estaria aqui em qualquer minuto. O ônibus dele sairia em mais ou menos uma hora. Se isso fosse um filme, uma daquela comedias românticas, haveria uma cena dramática onde eu correria para a rodoviária e imploraria para ele ficar, e Jimin, finalmente percebendo como ele se sentia sobre mim, me beijaria. Eu seria transformado. A gente viveria feliz para sempre.

Na vida real, Taehyung me perguntou o que eu pensava sobre a visão política de Victor Hugo em Les Miserables, e eu responderia ele, apesar que eu não lembro o que eu disse. Mas eu sabia o minuto (9:42) que o taxi estacionou na entrada e o pegou. Eu senti a chegada dele na rodoviária (10:27) e eu saberia a hora (11:05) que o ônibus dele deixou a rodoviária. Eu não assisti essas coisas no espelho. Eu apenas sabia. Não havia nenhum final de filme. Havia apenas um final.

Eu não voltei para a cidade naquele inverno. Ao invés, eu fiquei no campo, dando longas caminhadas todos os dias, onde apenas as bestas, as selvagens, poderiam me ver. Comecei a memorizar o padrão de voo de cada pássaro do inverno, o esconderijo de cada esquilo e coelho, e eu pensei que eu poderia fazer isso todos os invernos. Foi muito bom estar fora. Gostaria de saber se esta foi a forma como o Abominável Homem das Neves teve o seu início. Eu nunca acreditei em coisas assim antes. Agora eu tinha certeza que era real.

Eu admito que eu usei o espelho para espiar Jimin. Sem as rosas lá, isso se tornou o que as rosas tinham sido — minha vida, minha obsessão.

Em minha defesa, eu apenas me permitia assistir ele uma hora por dia. Fazendo isso, eu aprendi que ele achou o pai dele, que eles se mudaram para um apartamento ainda mais miserável em um bairro ainda pior em Brownsville, que ele estava indo para uma escola de aparência rude. Eu sabia que isso era minha culpa, que ele estava preso naquela escola porque ele tinha perdido a bolsa em Tuttle por causa de mim arrancando ele da escola para ficar comigo. Eu assisti ele andar para a escola, passando por edifícios destruídos cheios de pichação, passando por carros em ruínas e crianças sem esperança. Eu assisti ele nos corredores da escola, corredores apertados lotados com armários estragados e cartazes nas paredes que diziam coisas como você pode ter sucesso! Eu pensei em como ele deve ter me odiado.

 beastly  ➻  jm + ygOnde histórias criam vida. Descubra agora