20. Waltz

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O tempo ficou mais frio e molhado, e então eu podia falar com Jimin sem me preocupar com todas as palavras.

Um dia, depois das nossas aulas, Jimin disse:

— Então, o que tem no quinto andar?

— An? — Eu tinha escutado o que ele disse, mas eu queria embromar e pensar numa resposta. Eu não tinha ido no quinto andar desde que ele veio. Para mim, o quinto andar significava desesperança, significa sentar na janela lendo O corcunda de Notre Dame e se sentindo tão sozinho quanto Quasimodo. Eu não queria ir para lá.

— O quinto andar — Jimin disse. — Você está no primeiro, a cozinha e a sala de estar estão no segundo, eu estou no terceiro, Taehyung e Jin estão no quarto. Mas quando eu vim aqui, eu vi cinco conjuntos de janelas.

Agora eu estava pronto.

— Ah, nada. Caixas velhas e coisas.

— Uau. Isso parece interessante. Nós podemos ir olhar? — Park começou a ir para as escadas.

— São apenas caixas. O que tem de interessante nisso? Isso vai fazer você espirrar.

— Você sabe o que tem nas caixas? — Quando eu balancei minha cabeça, ele disse: — Isso é o que é interessante. Podem ter enterrado um tesouro lá.

— Em Brooklyn?

— Ok, talvez não um tesouro real, mas outro tesouro, cartas velhas e fotos.

— Você quer dizer velharias.

— Você não tem que vir. Eu posso olhar sozinho, se não são suas coisas.

Mas eu fui. Mesmo que a ideia de ir ao quinto andar trouxe uma sensação de pavor que sentou no meu estomago como carne podre, eu fui porque eu queria passar um tempo com ele.

— Oh, olha. Há um sofá perto da janela.

— Sim, é bem legal sentar lá e assistir as pessoas andarem. Eu quero dizer, devia ser legal para quem quer que morou aqui.

Ele escalou o banco da janela, meu banco de janela. Eu senti uma pontada. Ele deve ter sentido falta sair de casa.

— Ah, você está certo. Você pode ver todo o caminho da estação de metrô até aqui. Qual estação é aquela?

Mas eu estava falando. — Você pode assistir pessoas irem do trem para os seus trabalhos, e voltar a tarde. — Quando ele me olhou, eu disse: — Não que eu já tenha feito isso.

— Eu faria. Eu aposto que pessoas faziam isso todo o tempo. Você pode ver vidas inteiras aqui.

Ele se inclinou, encarando a rua lá em baixo. Eu o encarei, o caminho que seu cachecol vermelho descia grosso pelas costas dele, sua pele dourada no sol da tarde, o sorriso sincero. Passando, eu observei os olhos dele, castanho, rodeado de cílios esbranquiçados. Eles eram olhos gentis, eu pensei, mas podia qualquer olho ser gentil o suficiente para perdoar minha bestialidade?

— E as caixas? — Eu mencionei para as pilhas nos cantos.

— Oh, você está certo. — Mas ele parecia desapontado.

— A janela fica mais interessante por volta das cinco. É essa hora que as pessoas começam a voltar do trabalho. — Ele olhou para mim. — Bem, eu posso ter sentado nesse banco... uma vez ou duas.

— Ah, eu vejo.

A primeira caixa que ele abriu estava cheia de livros, e mesmo que Park tivesse centenas de livros, ele ficou todo excitado.

— Olha! Uma Pequena Princesa! Esse foi o meu favorito na quinta série! — E eu fui para o lado dele para olhar. Como ele ficava excitado com coisas tão estúpidas?

 beastly  ➻  jm + ygOnde histórias criam vida. Descubra agora