Capítulo 51

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As minhas mãos começaram a tremer demais e as lágrimas queimaram nos meus olhos intensamente. Harry ficou tenso atrás de mim e fechou a porta com a brutidão que não precisava. Liam surgiu no topos das escadas e desceu-as em saltos rápidos, quase que numa corrida urgente para apagar o fogo que me escorria no rosto. Abraçou-me, mas eu não me atrevi a mexer se não pelo seu toque. Estava demasiado enterrada na atribulação da minha mente do que a prestar atenção ao que deveria ou não fazer.

“Já? Porquê? Amanhã é véspera de Natal, podias esperar até depois…” A minha voz vacilou-me, num murmúrio de perdição surdida. Queria chorar, gritar-lhe a injustiça cometida, mas eu não podia, resumindo-me a morder a língua com a força exagerada que me levou a sentir o sabor metálico na boca.

“Eu vou… para o meu quarto.” Harry pronunciou desajeitadamente, incomodado por se sentir obrigado a partir. Quis pedir-lhe que ficasse, que me abraçasse, ao invés deste ser diante de mim, e me protegesse de toda a situação, da qual eu não podia fugir. Mas como é que se protege alguém dos seus próprios sentimentos? Simplesmente me podia sentir obrigada a agradecer-lhe internamente pela amabilidade de se esforçar para nos deixar a sós.

Ele subiu e desapareceu no corredor.

“Evelyn…” O mais velho começou hesitante.

“Não,” Interrompi-o, afastando-o suavemente e limpando os olhos. “Tu não podes ir embora assim, devias pelos menos esperar até depois do Natal, e agora? Vou ficar sozinha? Porquê agora?” A minha voz foi aumentando de volume progressivamente – e eu sabia que não precisava de me esforçar muito para que Harry ouvisse, pois provavelmente ele estaria na curva da parede que nos impedia a vista para o corredor. E o choro foi mantido para trás, inutilmente.

“Porque tem de ser, eu já te tinha avisado, eu tenho de ir, é a minha mãe, tenta compreender, quanto mais tempo ficar aqui menos hipóteses tenho de a encontrar.” Pediu suavemente, no seu tom doce e cuidado que me fazia querer abraçá-lo de dizer-lhe que estava tudo bem. Sabia que era isso que ele queria, sabia que estava a tentar acalmar-me e desanuviar o ambiente transtornado. Mas como podemos acalmar-nos quando o fogo nos arde na saudade intensa daqueles que amamos? Quando o interno da solidão parece espreitar nos cantos da nossa vida?

“Eu compreendo, é só que…” solucei sem dar por isso. “porque é que todos têm de ir emboras?” A respiração brotou-me do peito e Liam suspirou, voltando a rodear-me com os seus braços.

Ficámos assim por minutos que pareciam horas. O meu roso humedecido, encostado ao seu peito, e os seus fortes braços rodeando o meu pequeno corpo.

Não me queria separar dele, mas ao mesmo tempo aldo me dizia para me afastar, para o deixar ir, para deixar o futuro se traçar por si próprio e o destino encarregar-se dele. Será que acredito no destino?

Acabei por me soltar e seguir para as escadas, depois para o meu quarto. Deixei o meu corpo cair pesadamente sobre a cama e enterrei a cara na almofada, permitindo que esta se molhasse ao ritmo das minhas lágrimas da perdida saudade antecipada.

As pessoas são assim, vêm e vão repetidamente, desregulando os nossos sentimentos, massacrando a nossa mente e criando memórias que nunca irão voltar. Algumas pessoas nunca voltam. E dou por mim a pensar disso acontecer. Talvez seja um problema meu? Não, isso seria muito melodramático. Será? O Zayn, o meu pai, agora o Liam… toda a minha família sucumbida numa sombra que desconheço e as pessoas que preenchiam a minha vida, aos poucos, foram desaparecendo. Será que o Harry também irá embora? Provavelmente sim, quando não houver mais perigo para mim.

Um batuque na porta fez-me despertar e ergui o rosto na direção da mesma, com um pequeno “sim?” que impulsionou o ser a abri-la e a espreitar para o interior do quarto. Endireitei-me e deixei as costas encostadas na cabeceira, observando a figura masculina entrar. Limpei o rosto e ele sentou-se ao meu lado, puxando a minha mão e fazendo-lhe leves carícias.

Save Yoυ  △ |h.s|Onde histórias criam vida. Descubra agora