Capítulo 59

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[Evelyn]

Afastei os cobertores para o final da cama e atirei as pernas para fora da mesma, sentindo o tapeto por baixo dos meus pés. A manhã estava gelada e sentia a humidade gelar-me nos ossos. Embrulhei-me no robe e fui até à casa de banho onde fiz as minhas necessidades e entrei na banheira. A água quente escorreu-me pelos músculos descontraindo-os. Dei por mim a imaginar o que estaria Harry a fazer, será que ainda estaria a dormir em casa? Ou teria saído com aquele rapaz?

Embora tivesse dito que confiava nele, havia muitas perguntas que continuavam a surgir na minha cabeça. Queria saber o que se estava a passar e porque é que Harry estava tão estranho, ele nunca agira desta forma, ele parece sempre tão certo do que faz e do que diz, mas ontem parecia que estava com medo que eu visse algo. Eu sei que ele tem os seus segredos e está constantemente a esconde-los de mim mas, de alguma forma, sempre me pareceu seguro e contornava as situações com perspicácia, mas ontem parecia apenas nervoso e inquieto.

Acabei por terminar o duche, cansada por pensar tanto. Enrolei-me na toalha e saí para o quarto onde me sequei e vesti. Quando terminava de me calçar, o som de um choro doce e infantil captou a minha atenção. Senti o coração palpitar e o nervosismo a remoer-me por dentro. Saltei do colchão e corri para fora da divisão em que estava, descendo as escadas da habitação e entrando de rompante na sala.

O carrinho de bebe permanecia junto ao sofá e a mulher, de cabelos da cor do outro envoltos nuns cachos contínuos e devidamente aprumados, de olhos claros intensos de um gelo acolhedor, permanecia sentada agitando o pequeno ser que outrora estivera no seu ventre.

“Jasmine.” Murmurei com um sorriso, sentindo as lágrimas pintarem-me os olhos, só pelo simples facto de que finalmente encontrara uma cara conhecida. Em ergueu-se, ajeitando o vestido justo e sorriu abertamente, abrindo depois os braços para me receber neles. Sempre me dera bem com ela e sempre nos apoiámos uma à outra. Mas ela tinha de se esconder e permanecermos juntas tornar-nos-ia alvos fáceis.

“Estou tão feliz por estares bem, Evelyn.” Choramingou contra o meu ombro, apertando-me no abraço. Depois de nos afastar-mos pude ver-lhe a alegria florida nos olhos.

“Eu também estou feliz por saber que correu tudo bem.” Olhei para o carrinho que permanecia com as costas voltadas para mim.

“Queres conhece-lo?” Interrogou mantendo seu sorriso amável, pousando a mão no fundo das minhas costas e incitando-me a aproximar do recém-nascido.

“Foi por isso que vim.” Respondi com uma pequena risada e contornei o carrinho onde ele estava pousado, agora adormecido.

Mirei o seu pequeno rosto de anjo, os olhos fechados e a mente mergulhada nos seus sonhos. As cobertas envolviam-lhe o corpo minúsculo, aconchegando-o.

“É tão lindo.” Comentei, sentindo o orgulho preencher-me os sentimentos. Sinceramente, nem sabia o que dizer, estar naquela presença era tão intenso. “Como se chama?” Perguntei curiosa.

“Alexander.” Respondeu com um sorriso – ao qual todos chamamos de babado. “Alexander Host Malik.” Acrescentou. Eu estava feliz, realmente feliz, por ver criatura tão bela e tão próxima de mim, ali.

Um dos meus sonhos sempre foi ser mãe, sempre me imaginei num futuro próspero, rodeada de crianças, adotadas ou biológicas, não importa, desde que o pudesse criar e cuidar. E, de alguma forma, relacionava esse sentimento com a presença do meu sobrinho, filho do meu irmão e da sua esposa. Tenho a certeza que ele também teria muito orgulho assim que o visse.

“O Zayn, ele não vem?” Acabei por deixar a pergunta escapar-me, queria saber se teria oportunidade de finalmente o ver e esclarecer muitas das dúvidas que me arrepiavam só de as ter, que me azucrinavam os sonhos e me destruíam a confiança.

“Ele… ele esteve lá no parto, ele não vem aqui durante este fim de semana. Lamento.” Jasmine respondeu-me, sentando-se ao meu lado no sofá. Parei as carícias que tinha começado a fazer ao pequeno e olhei-a desiludida.

Sabem aquela pontada no coração que temos quando a nossa esperança nos é arrancada e tratada como mero lixo? Aquele aperto no peito que quase me deixou sem respirar, tive vontade de vomitar só pelo murro que jurei sentir no estômago. Acenei, indicando que compreendia. Mas eu não compreendia, eu não compreendia absolutamente nada. Todas as perguntas que fazia no início continuam na minha cabeça, ninguém me quer esclarecer de nada e outras questões vão surgindo, deixando-me mais louca do que já estava.

“E tu, como tens passado? Deve ser difícil estares sozinha.” A sua pergunta deixou-me pensativa por alguns minutos. Fixei o rosto do meu sobrinho ponderando no quão difícil tinham sido aqueles dias.

Os meus dias têm sido uma tremenda confusão mas provavelmente já não estaria entre os vivos caso Harry não tivesse aparecido. Lembro-me de algumas noites pensar em como poderia agradecer ao meu pai essa pequena preocupação. Mas depois recordava-me de tudo o resto e não sabia se deveria mesmo agradecer-lhe. Lá está, a minha vida resumiu-se a isto: nunca saber como reagir ou o que fazer. Parece que tudo fugiu ao meu controle, tudo aquilo em que acreditava escapou-se e tornou-se numa mentira, as ilusões e os espelhos partiram-se aos pedaços revelando o outro lado das coisas, aquele que nunca fora capaz de ver.

“Tem sido mais fácil ultimamente, as coisas estão calmas e com o Harry tudo se tornou mais fácil.” Acabei por suspirar, obrigando um sorriso nos meus lábios.

“Com o Harry?” Jasmine questionou confusa e aproximando-se de mim. Será que ela também não sabia?

“Sim, o rapaz que o meu pai contratou para me, supostamente, proteger.” Esclareci, tentando ver se ela se recordava de algo.

“Esse nome não me e estranho, mas o teu irmão nunca me disse nada.” Acabou por revelar, pensativa. Achava um pouco impossível Zayn nunca ter falado disso com a sua própria mulher, mas talvez nem ele próprio o soubesse. Harry nunca me disse, na verdade, se mantinha contacto com o meu irmão e se calhar ele nunca soube de nada.

Talvez.

-:-:-:-

Deixei-me cair sobre o colchão e fixei o teto. Tinha a cabeça a girar bastante depressa e queria que passasse, mas era simplesmente impossível. Estava esgotada, com tudo o que tem acontecido, com toda a porcaria que a minha mente cria. Estive acordada toda à noite e o sol já deveria ameaçar levantar-se por aquela altura.

Na verdade, sentia o corpo um pouco dorido devido a tudo o que tinha feito por ali, mas faltava algo. A cama parecia um poço enorme de tão vazia que estava. Habituei-me à sua presença e ao seu calor que agora seria um inferno para me voltar a habituar à solidão. Achava horrenda aquela sensação de que uma parte de nós está errada, que se nos voltarmos demasiado depressa, vamos cair dentro de um buraco, negro, frio e sem fundo.

A porta abriu-se de repente e eu saltei pelo susto, olhando para onde o vulto inquieto surgira. Começou a correr até mim e agarrou-me o braço, obrigando-me a sair da cama.

“G-george? O que se passa? Que fazes aqui?” Questionei aturdida, sem compreender o que estava a acontecer.

“Faça as suas malas, rápido, temos de ir embora.” Sussurrou-me enquanto se dirigia para o armário e começou a tirar as minhas roupas, atirando-as para cima da cama. Demorei a reagir e por largos minutos fiquei a olhá-lo, confusa. “Rápido menina, não temos muito tempo.”

“Diz-me o que se passa” Exigi enquanto pegava nas malas e coloquei os objetos no seu interior, depressa.

“Alguém invadiu a mansão, Mrs. Malik já se encontra a caminho de Manchester com o pequeno Alexander.”

O quê?

Eu não era para vir postar, mas estava ansiosa para pôr isto.
Espero que as coisas não estejam a acontecer muito de repente :s
Mas esta cena era mesmo para ser assim "repentina" mesmo para vocês ficarem tão "atordidas" como a Evelyn ficou (:
Obrigada por tudo meus amores, 
votem e comentem 
xx

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