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Capítulo 90

“Foi por isto que mudaste de ideias em relação a ajudar-me, não foi?” Acabei por perguntar, tentando escapar àquele assunto. Era demasiado confuso pensar nele, queria empurra-lo para fora da minha cabeça porque não me levaria a lado nenhum. Marcel fitou-me por uns minutos mas depois retornou a encarar o teto.

“Um pouco, sim.” Respondeu pensativo e depois suspirou, erguendo-se e empuleirando os cotovelos nas pernas. “Achas que ele pode ser…?”

“Não” Falei de imediato, sem sequer pensar na resposta. Pensando melhor, haveria grandes hipóteses de ser verdade, mas, a ideia simplesmente me chocava demais para me atrever a pensar nisso, ou a arriscar tomá-la como possível. “Não existe ligação nenhuma, pode ser apenas coincidência, Marcel”

“Sabes, quando eramos pequenos, todos diziam que eramos parecidos e-“

“Marcel, por favor, eu sei que queres que seja verdade, mas não pode ser.” Interrompi-o. Não queria, sequer colocar essa hipótese, por muito que quisesse ajudar a família dele eu sabia que isso era impossível e só traria mais sofrimento para todos.

Antes que o rapaz pudesse protestar, um batuque na porta interrompeu-o. Jasmine abriu com cuidado e colocou a sua cabeça no interior do quarto, os cabelos louros a caírem em cascatas ao lado do seu rosto e os olhos azuis, muito mais claros que os meus, percorreram a divisão até me encontrarem. Sorriu meigamente e eu pedi-lhe que entrasse.

“Era só para dizer que o Niall está lá em baixo, acho que ele quer falar contigo.” Anunciou no seu tom calmo e sereno, típico seu. Na verdade, acho que Jasmine deveria ser a pessoa mais calma e pacata que eu conhecia, algo que admirava nela visto que era o meu oposto.

“Diz para ele subir, por favor.” Pedi retribuindo um sorriso educadamente. Senti os olhos de Marcel divagarem entre nós as duas antes da mulher do meu irmão assentir e abandonar o quarto deixando a porta entreaberta. Nem dois minutos haviam passado quando o rapaz louro entrou pela divisão a dentro e fechou a porta atrás de si. Preparava-se para falar, mas calou-se assim que o seu olhar alcançou o Marcel.

“Oh, hey Marcel” Cumprimentou educadamente, adotando uma postura tensa, como se não esperasse aquela presença e eu ergui o sobrolho, confusa com tudo aquilo. O moreno respondeu-lhe da mesma forma e ergueu-se, sacudindo as calças de ganga.

“Eu vou deixar-vos a sós.” Ele acabou por dizer antes de depositar um beijo na minha testa e sair. Niall tomou o seu lugar à minha frente e pousou uma mão no meu joelho.

“Porque é que voltaste? Aconteceu alguma coisa?” Perguntei um pouco inquieta. O louro saíra dali de casa à menos de três dias e não era natural regressar tão depressa. No entanto, ele demorou algum tempo a responder, suspirando algumas vezes e fitando o teto.

“Evelyn, eu… bem, como é que eu vou explicar isto?” O meu melhor amigo começou esfregando as mãos uma na outra, como que procurando a sua forma de falar. Tinha a pequena sensação de que, provavelmente, iria ficar assustada com o que se seguiria, ou então não iria gostar nada, o que me estava a colocar ainda mais nervosa.

“Niall, o que aconteceu?” Acabei por perguntar ajeitando-me na cama e aproximando-me dele. Os seus azuis sobressaltaram-se um pouco, mas depressa suavizaram e ele sorriu.

“Não é nada de grave,” falou com calma colocando a mão no meu ombro e eu suspirei, frustrada. “Bem, resumidamente vais fugir.” Falou rapidamente nem me dando a chance de processar a sua frase. Quase que me engasguei na minha própria saliva e os meus olhos esbugalharam-se de tal maneira que pareciam querer saltar das órbitas. O seu sorriso desfez-se ao notar a minha reação.

“Como assim?” Acabei por questionar tendo, quase, uma vontade de rir. Aquilo parecia apenas mais uma das suas piadas criança, mas a sua mudança de semblante fez-me entender que não. “Estás a falar a sério?” o seu acenar de cabeça foi suficiente para sentir o coração apertar-me com muita força e, de um momento para o outro, sentia uma revolta brutal no estômago que me fez dar graças a deus por ainda não ter comido nada. “Fugir para onde? Como? De onde tiraste essa ideia?”