Desliguei o duche, ouvindo a porta do quarto bater. Saí da banheira e enrolei o corpo numa toalha caminhando até ao exterior da casa de banho. Harry pousou o saco na mesa de cabeceira e desviou os olhos na minha direção. Inspirei fundo aproximando-me e sentei-me na cama, pegando na embalagem que se encontrava dentro do plástico. O rapaz sentou-se ao meu lado.
“Podes ter alguns enjoos ou até mesmo vômitos e sangramento depois de tomares.” Avisou-me com cautela, pousando uma mão na minha perna despida. Assenti, insegura com tudo aquilo. “Evelyn, não precisas de tomar isso, quer dizer… sabes que nós não podem-“
“Harry” Interrompi com um olhar sério. De forma alguma poderia deixar que uma gravidez acontecesse, isso seria mais do que irresponsável, seria pura crueldade trazer uma criança para o mundo em que vivemos, para a situação em que estamos.
“Não sei, quer dizer, podias querer… tu sabes.” Falou atrapalhadamente e tive uma ligeira vontade de rir do rosado que lhe sorriu no rosto.
“Harry eu não quero ter filhos.”
“Porquê?” Perguntou quase chocado e eu mais chocada ainda fiquei pela sua reação. Era quase como se ele estivesse ligeiramente desiludido com a minha resposta.
“Porque... porque cada vez que conheço melhor o mundo, menos vontade tenho de trazer uma criança para ele. Principalmente o nosso mundo que está cheio de maldade.” Expliquei sem saber que palavras usar ao certo, vendo-o assentir pensativo. “Quando era mais nova imaginava-me sempre casada, com os meus filhos e uma vida normal, talvez conseguir ser uma advogada ou juíza de sucesso… mas, com tudo o que tem acontecido, cada vez me parece mais impossível essa visão.” Admiti com um suspiro, abrindo a caixa com a pílula do dia seguinte.
“Mas isso pode fazer-te mal.” Harry apontou para o pequeno comprimido e eu ergui o sobrolho. “Isso praticamente vai destruir muita coisa aí dentro sabes? Não se deve tomar assim, com frequência nem-“
“Harry,” interrompi-o de novo, sem perceber a sua atitude. “isto é uma exceção, é obvio que não vou tomar mais vez nenhuma.” Ele acenou afirmativamente e vi-o respirar mais pesadamente. “Há algo que queiras dizer-me?” Questionei, frustrada com o seu pequeno silêncio.
“Não…” Falou pouco convincente e eu ergui o sobrolho. “É só que… na verdade, eu pensava que nunca iria querer ter filhos, mas agora que estou a pensar nisto… acho que darias uma mãe maravilhosa para os meus filhos” Harry acabou por admitir e vi-lhe o rosto ruborescer imenso e eu fiquei sem palavras.
A sua pequena declaração parecia tão simples, mas era tão mais complexa. Fiquei sem saber como agir em relação a ela, se rir pela sua atrapalhação, se chorar pela emoção que aquilo transmitia.
“Isso…” falei engasgada, sem palavras. Harry revirou os olhos, voltando ao seu estado normal e eu ri. “Não faças isso, o que tu disseste, foi a coisa mais querida que eu já ouvi na minha vida.” Admiti-lhe sentindo também as minhas bochechas aquecerem bastante. Os seus olhos verdes brilharam ligeiramente e parecia impossível ver este lado sensível dele. Já presenciara muitos momentos de fraqueza, já presenciara todas as suas facetas, mas esta parecia tão fora de realidade.
“Talvez um dia tenhamos a nossa chance.” Harry revelou com um sorriso esperançoso, ao qual não consegui retribuir, limitando-me a acena e a tomar o comprimido. Nós nem sabemos se sairemos vivos no final de toda esta história.
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Cruzei as pernas e fitei as pessoas que deambulavam apressadamente de um lado para o outro pela pequena cidade. Uma cidade bonita, banhada em sol e que escorria em cascata ao longo das colinas, desabrochando num rio comprido e digno de si. Lisboa não era tão povoada como as cidades que estou habituada a ver em Inglaterra, mas ainda assim, de uma pressa imensa e de correrias desajustadas. Vê-se de tudo um pouco, mas o principal são os turistas que exploram esta pequena capital plantada à beira-mar. Inalei um pouco daquele ar que iniciava as suas contas primaveris e dei-me conta que o sol não duraria muito mais tempo, pois algumas nuvens negras aproximavam-se em passo largo. Ainda assim, parecia que o oxigénio era mais leve do que aquele a que estou habituada.
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Save Yoυ △ |h.s|
Fanfiction❝ Se os nossos segredos fossem iguais eu dir-te-ia que somos a mesma pessoa. Porque no fundo os nossos segredos distinguem-nos uns dos outros. Mas não se trata apenas de segredos pois não? Trata-se de honra, de fidelidade, confiança, sentimentos. Tr...