Os seus braços vieram ao redor do meu corpo impedindo-me de passar as mãos pelos meus olhos e bochechas, para limpar as pérolas cristalinas e salgadas que me escorriam pela pele. O silêncio que deveria ter-se seguido foi travado pelos soluços que brotaram do meu peito teimoso. Foi o momento em que deixei tudo cair, as máscaras, os muros, as cortinas. O meu mundo abriu-se por largos minutos para aquele ser que tanto tem mexido com ele, mas do qual tão pouco conheço. Fechei os olhos e deixei-me estar, de rosto encostado no seu peito acolhedor, sentindo o calor do seu corpo encostado ao meu, o seu cheiro amoroso preencher-me as narinas suavemente e o bater do seu coração acompanhar-me na respiração abrupta. Chorei.
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Os meus olhos pareciam colados pela forma pesada com que se fecharam. O salgado das lágrimas queimava no sítio por onde elas passaram e demorei alguns minutos a perceber onde estava. A dor aguda que atingiu as minhas costas e pescoço deu-me logo a entender que não teria sido a minha cama e quanto olhei para o lado, um Harry adormecido e de boca entreaberta, permanecia com os seus fortes braços em volta do meu pequeno corpo. Estava exactamente no mesmo sítio que na noite anterior, sentada entre a pequena mesa da sala e o sofá, de cabeça apoiada no peito do rapaz que deixou a cabeça cair para trás, apoiando-se nas almofadas do assento. Não o censurei por não me ter levado para cima ou por não me ter acordado, pois eu sabia que (tal como eu) ele deveria estar cansado. Abanei-o ligeiramente e a sua cabeça ergueu-se de repente com o susto podendo ouvir-se o seu osso estalar.
De imediato, levou a mão à zona dorida e fez uma expressão de sofrimento. Ri-me um pouco e ele revirou os olhos.
“Bom dia.” Desejei enquanto me levantava sentindo também os meus ossos estalarem com os meus movimentos. Ele seguiu-me, retribuindo ao cumprimento, mas sem retirar a mão do pescoço. “Talvez seja melhor colocares um pano quente aí.” Sugeri retirando a sua mão para analisar se não havia nenhuma marca na zona do queixume. Ele encolheu os ombros não dando grande importância e aí foi a minha vez de revirar os olhos. “Bem vou vestir-me, podíamos ir tomar o pequeno almoço no Starbucks?” Propus enquanto seguíamos caminho para os quartos.
Harry pareceu ponderar um pouco no assunto mas acabou por concordar dizendo que precisava de um bom café. Ri-me da sua expressão e vi-o entrar no seu quarto que ficava primeiro do que o meu. Depois de tomar o meu banho matinal vesti-me e arranjei-me em pouco tempo. Foi quando me preparava para fazer a cama e arrumar um pouco o meu quarto que o barulho surgiu para lá das minhas janelas. Um arrepio percorreu a minha espinha quando me apercebi que não se tratava de nenhum dos meus seguranças pois eu não reconhecia as vozes. Depressa me aproximei do vidro e empurrei-o de forma a abrir a passagem para a varanda. Os meus pés descalços colidiram com o frio da pedra branca mas eu não me importei muito, pois estava demasiado concentrada no que poderia encontrar. As minhas mãos estavam a tremer imenso e as possibilidades passavam na minha cabeça a demasiada velocidade para conseguir processá-las direito. Tomei uma lufada de ar antes de encostar as minhas palmas no corrimão e mirar além da vedação da casa. Dois homens permaneciam, enclausurados nos seus fatos pretos e gravatas apertadas, perto do muro. Conversavam entre si enquanto um carro permanecia ligado mas estacionado ao seu lado.
Deixei de sentir a ponta dos dedos assim que os reconheci do centro comercial no dia anterior. O meu coração saltou demasiado depressa e podia jurar que o sentia fora do sítio com tanta impulsão que tomou. Não sabia se haveria de gritar ou de me esconder, mas qualquer que fosse a melhor das hipóteses eu não a conseguiria cumprir pois estava imóvel. O barulho do motor foi-se distanciando e as vozes tornaram-se meros ruídos mudos. A ansiedade assaltou-me os pulmões enquanto eu procurava pela respiração que não existia. A pouca consciência que tinha permitiu-me pensar que deveria pelo menos entrar no quarto para que os desconhecidos não notassem a minha presença.
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Save Yoυ △ |h.s|
Fanfic❝ Se os nossos segredos fossem iguais eu dir-te-ia que somos a mesma pessoa. Porque no fundo os nossos segredos distinguem-nos uns dos outros. Mas não se trata apenas de segredos pois não? Trata-se de honra, de fidelidade, confiança, sentimentos. Tr...