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Dois dias depois, o humor de Rafael estava péssimo.

Cada vez que aparecia uma enfermeira para furar uma veia, verificar o soro ou dar uma medicação, ele reclamava.

Todas as enfermeiras, que de início tinham brigado para atendê-lo, já não queriam mais nem chegar perto de seu andar.

Era tanta grosseria que elas começaram a pensar que o simpático jogador espanhol do Inter de Milão tinha enlouquecido.

À tarde, assim que chegou, Nicolas tentou falar com ele. Se o mexicano não conseguisse lhe arrancar um sorriso, ninguém conseguiria. E, sim, Nicolas conseguiu.

Quando uma loira entrou no quarto, ele disse em espanhol:

— Olha, cara... uma italiana linda veio te visitar.

Rafael olhou para a mulher de cima a baixo: loira, o cabelo preso num rabo de cavalo meio folgado e coturnos horríveis.

Surpreso pelo comentário do amigo, ele sorriu sem vontade.

— Cara, seu gosto pelo sexo oposto vai de mal a pior.

Nicolas olhou a mulher, que continuava sorrindo sem se abalar com aquele comentário depreciativo. Deduziu que ela não tinha entendido nada e suspirou.

De repente, o celular de Rafael tocou. Ele atendeu ao ver que se tratava de uma de suas garotas. Falou com ela rapidamente e desligou.

— Estefanía mandou lembranças — comentou.

— Oba! Fico feliz em saber! — debochou Nicolas. — Ela está na Itália?

— Não. Disse que leu a notícia da minha lesão num jornal português. Prometeu me visitar quando fizer escala aqui. E você já sabe o que isso quer dizer...

— Como você é sortudo, amigo. Ela é bem gostosa!

Continuaram com a brincadeira até que Rafael reparou, de repente, que a enfermeira ainda continuava ali lendo o relatório médico de sua fratura. Cochichou para o amigo:

— Viu que bunda enorme ela tem, vestida com esse jaleco branco? E isso sem falar dos... mas onde essa mulher deixou os peitos?

— Rafael... cala a boca — recriminou Nicolas.

Estava exagerando. Às vezes os dois eram cruéis com as mulheres e esta era uma dessas ocasiões. Por serem dois jogadores famosos, as mulheres mais espetaculares do planeta se atiravam em seus braços.

Eles só precisavam escolher. Era uma das vantagens da fama de que mais gostavam, se fossem comparar com outros aspectos que não lhes agradavam tanto.

— Mas ela não está entendendo nada — zombou Rafael, passando a mão no seu famoso cabelo. — Está vendo só? Não compreende, não é,Linda?

Ao ouvir aquele elogio tão italiano, a jovem olhou para ele e sorriu com satisfação. Achando graça da situação, Rafael continuou:

— Olha, cara, com exceção das morenas gostosas que encontrei por aí e das que já consegui o telefone, neste hospital estão as mulheres mais feias e assexuadas que vi na minha vida.

Nicolas gargalhou, enquanto a enfermeira continuava olhando a perna de seu amigo e escrevia algo num tablet.

— Sinceramente, Nicolas... esta não é das mais feias, mas deixa muito a desejar. Lembra quando você se machucou na França? Oh là là... naquele país sim é que as mulheres eram bonitas.

— E como eram... — recordou Nicolas.

— Lembra da Guillermine?

— E como. Peitos grandes. Bundinha empinada.

— E fogosa... — suspirou Nicolas.

— Uma deusa na cama e fora dela. É desse jeito que eu gosto das mulheres: arrumadas, femininas, belas, explosivas... Não como essa pobrezinha... Você viu o cabelo dela? — Nicolas fez que sim.

A mulher, com um rabo de cavalo frouxo no alto da cabeça, não era nada do que seu amigo dizia. — E sem falar das botas horrorosas, brochantes.

A moça continuou com seu trabalho enquanto eles criticavam sua aparência sem parar, até que Nicolas cochichou:

— É verdade, mas essa aí tem uma bunda perfeita pra levar um tapa.

— Uma bunda bem gorda, você quer dizer — Rafael ridicularizou, olhando a moça que continuava do mesmo jeito. — O que você acha que ela vai dizer se eu der um tapa?

— Nada. Você é Rafael Vitti, "o touro espanhol", o conquistador, o queridinho do Inter de Milão. Se bater com doçura, ela vai gostar e vai te dar o telefone.

— Deus me livre, espero que não!

Deram uma gargalhada e Rafael olhou com malícia para o traseiro da enfermeira. Ele ia dar o tapa, mas quando ergueu a mão disfarçadamente, ouviu:

— Vai sonhando!

Rafael deixou a mão cair sobre a cama, e a moça de jaleco branco olhou para ele com um sorriso largo, acrescentando em espanhol perfeito:

— Se passar pela sua cabeça me tocar, vou te dar um safanão tão forte que você vai voar longe, entendeu?

Os dois jogadores, surpresos, trocaram um olhar evidente de que tinham sido pegos debochando dela. Ela, apesar de tudo, não deixou de sorrir em nenhum momento.

— Se tocar em minha bunda gorda sem permissão, quando eu tocar sua tíbia dolorida com permissão, juro que vou fazer com muita doçura, porque nem os touros espanhóis nem os gatinhos como você me impressionam, ouviu bem, sr. Rafael Vitti?

Aquela mulher falava espanhol perfeitamente e estava entendendo tudo o tempo todo.

Sem mais, ela deu meia-volta e saiu. Quando ficaram sozinhos, os dois se acabaram de tanto rir.

— Demais, cara! — disse Nicolas, sem conseguir parar de rir.

Os dois continuaram rindo enquanto relembravam da cena.

Vai sonhando!Where stories live. Discover now