10.

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No domingo de manhã, o humor de Rafael havia melhorado.

Quando se levantou, desceu para tomar café lendo o jornal em que ele aparecia agarrado a Bimba, na companhia de vários companheiros de time.

Depois foi para a academia e fez alguns alongamentos. Isso lhe faria bem. Quando acabou, colocou música. Coldplay sempre o fazia se sentir melhor.

Entrou no chuveiro e logo em seguida o celular tocou. Ele nem se abalou, pois não queria conversar com ninguém.

Dez minutos depois, enquanto se vestia, o celular voltou a tocar.

Dessa vez ele atendeu: era seu agente, Toni Terón, com quem discutiu algumas cláusulas de um contrato para fazer propaganda de roupa esportiva.

— De verdade, te achei muito bem ontem à noite — Toni disse.

— Sim, estou contente, acho que a fisioterapeuta está fazendo um bom trabalho — reconheceu Rafael, enquanto massageava a perna direita.

— Aliás, falando da fisioterapeuta, não acha que os honorários dela custam caro demais? Sabe... nem que ela revestisse sua perna de ouro a cada sessão.

— O trabalho dela vale. Você mesmo viu como estou bem.

— Eu sei... eu sei... Também queria discutir o assunto dos pagamentos feitos a ela. Acho que você poderia ter abatimento nos impostos por se tratar de algo assim.

— Algo assim? Do que você está falando?

— Os pagamentos que você me pediu para depositar semanalmente são cem por cento destinados à conta de uma instituição chamada Casa della Nonna.

— Casa della Nonna?! — Rafael repetiu, muito surpreso.

— É um abrigo para crianças órfãs. Nossa, cara, essas coisas me comovem.

Rafael ouviu com assombro o que seu agente lhe comunicava e, antes de desligar, pediu a ele o endereço do lugar.

Abalado, ele se pôs a pesquisar no laptop. Leu tudo o que encontrou sobre o abrigo e se deu conta de que Isabella acabava de surpreendê-lo mais uma vez: o dinheiro que ele pagava não era para ela, mas sim integralmente destinado àquelas crianças.

Isabella e seus segredos.

Chamou um táxi e decidiu visitar o centro. Não tinha nada melhor a fazer.

Quando o taxista parou em frente ao chalé nos arredores de Milão, Rafael estremeceu ao ver o aspecto muito decadente do lugar, que precisava de uns bons reparos na fachada. Se estava daquele jeito do lado de fora, ele se perguntava como estaria por dentro.

O taxista, emocionado por fazer uma corrida para Rafael Vitti, não cabia em si de felicidade e propôs esperar por ele. Rafael aceitou e saiu do táxi com a ajuda de sua muleta.

Assim que abriu o portão para entrar no jardim, várias crianças de idades diferentes o olharam; afinal, era um estranho.

Porém, como ocorria na maioria das vezes, saíram correndo até ele no instante em que o reconheceram.

— Você é o Rafael Vitti? — perguntou um menino moreninho de óculos. — O atacante do Inter? — insistiu, alucinado, outro menino um pouco maior.

Com um grande sorriso, o jogador confirmou.

— Sim, amigos, sou eu mesmo, mas cuidado que estou de muleta.

A algazarra instalada naquele momento foi espetacular. As crianças se amontoaram ao redor dele, desejando perguntar um milhão de coisas.

Era tamanho o tumulto, que uma mulher saiu para ver o que estava acontecendo.

Vai sonhando!Where stories live. Discover now