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Naquela tarde, quando colocaram Rafael numa cadeira de rodas para levá-lo até a sala de reabilitação, a dor em sua perna o fez xingar.

As enfermeiras que estavam em volta dele admirando-o saíram apavoradas. Rafael ficou agradecido.

Não estava com disposição para sorrisinhos bobos, nem nada do que costumava receber de muitas mulheres.

Era um símbolo sexual em Milão, um homem desejado por sua aparência e seu sucesso. No fim, foi um enfermeiro quem o levou de elevador até a sala de reabilitação. Quando chegaram lá, ele o deixou sozinho e saiu para chamar o fisioterapeuta.

O humor de Rafael era sombrio, na verdade era negro. Ainda não tinha assimilado a má sorte de sua fratura e muito menos todo o tempo que ficaria afastado dos campos.

Aquela lesão era considerada uma das piores para um jogador de futebol e tinha que acontecer justo com ele.

Poderia ter tido um azar maior? Claro que sim, pensou quando viu chegar a moça que estava no seu quarto no dia anterior. Rafael resmungou ao vê-la.

Por que ela?

O enfermeiro entregou uns relatórios à fisioterapeuta e, antes de sair, disse olhando para Rafael:

— Te deixo em excelentes mãos.

— Vou ter que duvidar de você — respondeu Rafael sem esconder a irritação.

A fisioterapeuta, sem se abalar nem deixar de sorrir, segurou a cadeira de rodas e a empurrou até uma lateral da sala.

Tranquilamente, ela se sentou perto dele e começou a ler os boletins médicos. Rafael não falou; ela também não. Até que, por fim, com a melhor disposição, ela decidiu se apresentar:

— Meu nome é Isabella...

— Olha só, é o nome da minha cadela.

Ela o fitou, perplexa. Aquilo ia ser insuportável. Estava claro que, quanto mais longe ele estivesse, melhor. Mas ela era uma profissional e só tinha duas opções: se irritar ou ignorar. Acabou optando pela segunda.

— Hum... fico feliz em saber que o senhor teve o bom gosto de colocar meu lindo nome na sua cachorra.

Rafael a olhou. Tinha certeza de que ela o mandaria à merda, mas não. Isabella continuou falando, tão sorridente quanto antes.

— Como eu dizia, sou Isabella e vou ser a sua fisioterapeuta da manhã. Dividimos seu processo de reabilitação em dois blocos. Seu técnico me pediu para atendê-lo de manhã. À tarde o senhor vai trabalhar com meu colega pedro, um profissional excelente.

— Meu técnico?

— Sim, o senhor Roberto Norton. Ele conhece meu trabalho e sabe que posso ajudá-lo.

Rafael balançou a cabeça. Mordeu a língua e, pelo menos uma vez, não disse nada enquanto ela prosseguia.

— Não se preocupe, juntos nós vamos conseguir que sua perna volte a ser o que era. — E, olhando o relatório que o médico tinha lhe entregado, acrescentou: — Pelo que estou vendo, seu médico vai tirar os pinos num prazo de quatro semanas se não apresentar complicações e...

— Está bem, gata — interrompeu ele mal humorado. — Deixa de enrolação e vamos começar.

O tom grosseiro e depreciativo conseguiu fazer Isabella desviar sua atenção do relatório médico e lançar um olhar fulminante para ele.

Vai sonhando!Where stories live. Discover now