ACERTANDO CONTAS
Marisa deu um longo e aliviado suspiro e em seguida convidou sua ainda amiga para entrar. Jéssica ainda vestia a mesma roupa que usara na noite anterior, os olhos com profundas olheiras e ainda muito vermelhos em razão da falta de sono e das muitas lágrimas derramadas. Seus cabelos desgrenhados, com areia da praia sobre eles. A maquiagem completamente borrada e incompleta, quase nada mais restava. Tudo mostrava que ela havia passado a noite em claro, aos prantos, sem ao menos ter ido para casa. Jéssica parecia entregue e aceitou calada o convite de Marisa, elas entraram. Na sala, a mãe de Marisa olhou-as com ar de censura, sem nada contudo dizer. Elas deram-lhe um "bom dia" seco, sem troca de olhares e foram direto para o quarto de Marisa. Esta remexeu em algumas gavetas tirando delas algumas roupas,entregou-as a Jéssica e disse:
- Conversaremos depois que você tomar um banho.
Jéssica calada olhou as roupas hesitando por um instante mas depois de alguns segundos, não discordou. Estava cansada demais, resignada demais para lutar contra qualquer coisa que fosse. Ela pegou as roupas das mãos de Marisa e foi direto e em silêncio para o banheiro da suíte da amiga. Enquanto Jéssica tomava banho, Marisa foi até a cozinha,tomou um copo de suco de laranja, depois pôs algumas pedras de gelo na jarra de vidro e a trouxe consigo para o quarto junto com um cestode pães de queijo que estava sobre a mesa. Ao chegar lá, Jéssica já havia terminado o banho, seu semblante agora parecia um pouco mais lívido e o ar um pouco menos preocupado, contudo, não conseguia disfarçar a ansiedade e a urgência em falar. Marisa serviu um copo de suco para a amiga que acabou outra vez pegando-o dela sem hesitação. Em seguida dando um longo gole para depois colocar o copo de lado. Recusou contudo os pães de queijo que Marisa estendia em sua direção. Jéssica abaixou a cabeça em silêncio e era nítido que ela buscava e media as palavras antes de dizê-las,tentava se concentrar, buscar foco, dar rédeas e ordem ao turbilhão de sentimentos que os acontecimentos da noite anterior desencadearam.Após alguns segundos assim, ela falou:
- É mesmo verdade que você não sabia de nada, não é?
- É óbvio que sim! Se você buscar se lembrar, poucos nós nos vimos ultimamente, pouco nos falamos.
- Pois é, também pensei nisso.
- Para onde você foi depois que saiu do restaurante? Aonde você dormiu?
- Não dormi. Saí de lá e fui por aí sem rumo. Acabei na praia. Andei, parei, andei novamente. Fiquei pensando e me perdi tentando me encontrar.
Marisa não disse nada, na verdade, não sabia o que dizer, como continuar,ela simplesmente deu um passo na direção de Jéssica e a abraçou apertado. Jéssica lhe retribuiu o abraço, abraçando-a também com força. Houve um longo período de um silêncio tácito entre elas e então, algumas lágrimas de alívio rolaram breves sobre suas faces.Em seguida, desfez-se o abraço e coube a Jéssica prosseguir:
- Você dormiu com ele?
- Sim, dormi.
- Mas como você pode aceitar tudo o que ele disse e nos propôs assim numa boa?
- Para falar a verdade, não sei. Não pensei sobre nada, apenas agi no piloto automático. Ainda não pesei consequências, apenas deixei a coisa fluir, seguir seu curso, ao menos por enquanto.
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Três. Um jeito de amar
RomancePREFÁCIO Existem limites para o ato de amar? Será possível simplesmente demarcar fronteiras em sentimentos e dizer até onde eles podem ou devem ir? Sonhar, amar, desejar, viver. Conjugamos esses verbos sob a forma de atitudes que, no fim, é que...