Capítulo sem título 27

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CONSEQUÊNCIAS E SEQUELAS


Entraram no carro e aí então apenas Antony parecia manter algum controle.Marisa já não conseguia mais conter o choro e as lágrimas desciam em cascata sobre sua face. Jéssica também chorava mas seu choro era um choro raivoso, repleto de indignação por ter levado consigo a contragosto, parte daquele desaforo para casa. Ela conteve seu ímpeto no restaurante por conta de preservar Antony e Marisa. Além disso,eles não precisavam de um escândalo maior do tipo que envolvesse polícia, coisa e tal. Contudo em seu íntimo nada racional, ela preferia mesmo ter explodido em xingamentos contra aquelas pessoas idiotas e preconceituosas, dizer que aqueles homens invejavam por Antony dar conta delas duas e que suas mulheres tinham inveja por não serem cortejadas e tratadas como ele fazia com elas. Durante todo o caminho de volta trocaram parcas palavras, cada um remoendo e absorvendo tudo aquilo em que haviam se envolvido, analisando a situação deles. Ficaram sim, um pouco atônitos e abalados, pois oque parecia ser apenas um sonho colorido agora se mostrava com uma faceta complicada e com um quê de amargura. Agora entendiam de fato,o quanto seria complicado viver aquele amor diferenciado e único.Eles que decidiram não planejar nada e tinham optado por viver e aproveitar única e exclusivamente o momento, numa versão a três de Carpe diem, agora precisavam encarar de frente as consequências de tudo aquilo, pesar melhor as dificuldades que enfrentariam e que estavam somente começando a se mostrar. Precisavam pensar no preconceito que eles agora sabiam e conheciam na carne que existia e que seria provavelmente ainda maior vindo das pessoas próximas a eles que ainda nada sabiam. Pela primeira vez passou pela cabeça de Marisa oque sua família tão "certinha" iria pensar quando soubesse a verdade, o juízo de valor que fariam dela e toda a barra pesada que viria a seguir daquilo.


Dali foram direto para o apartamento de Antony, todos obviamente frustrados e decepcionados, o clima estava pesado, não propício a nada, a não ser curtirem suas tristezas. Marisa foi direto para o banheiro trancando-se lá num banho demorado de silêncio e solidão.Jéssica que chegou no apartamento bufando, pisando forte e batendo porta, caminhava de um lado para o outro demonstrando clara impaciência, parecia uma fera enjaulada. Antony calado e pensativo limitou-se a parar de pé diante da janela, olhava para além do vidro para a imensidão negra do céu e para os pontos de luz que cintilavam abaixo e ao redor. Mais do que nunca ele buscava discernimento, querendo não ver naufragar o sonho deles, querendo pensar em como eles poderiam enfrentar as coisas a partir dali. Na cabeça dele uma certeza e um pensamento fixo, suas escolhas e suas vontades não podiam ruir no aparecimento do primeiro percalço. Antony não podia supor que em pleno século XXI as pessoas ainda teriam esse tipo de pensamento limitado e antiquado, ao menos uma grande parte delas como esta noite lhe mostrou. De fato, hoje em dias e falava mais em liberdade, em mais espaço e tolerância com as diferenças só que todo aquele discurso parecia ficar mesmo da boca para fora. Se ao menos eles vivessem numa sociedade mais aberta, mais evoluída....E de repente, a partir deste pensamento lhe surgia como em um estalo uma ideia, que se não resolveria o caso em definitivo,ao menos lhes daria tempo para refletirem melhor sobre tudo e principalmente, proporcionaria a eles momentos especiais e de prazer.Passar um tempo juntos fortaleceria e solidificaria a relação deles e eles estariam mais prontos e aptos para enfrentar o que fosse juntos.

Três. Um jeito de amarOnde histórias criam vida. Descubra agora