OPÓS-JANTAR
Alta noite já se ia na casa de Antony, a madrugada avançava. Marisa dormia como uma gatinha dengosa já vencida enfim pelo vinho.Enquanto isso, Jéssica rolava de um lado para outro na cama do amigo. A adrenalina estava alta, uma excitação além do habitual,um súbito furor lhe subia pelo corpo e tomava conta do seu ser. Ela inclusive já se livrara das roupas tentando escapar daquele calor. O alcool ao contrário do que fizera com Marisa contagiou-a com uma lucidez que a fazia pensar insistentemente naquela noite e no seu reencontro com Antony. Definitivamente ela não conseguiria dormir,não era mulher de deixar seus assuntos para depois ou mal explicados. Jéssica precisava e muito, resolver tudo o que lhe vinha a mente e precisava fazê-lo agora.
Jéssica decidiu sair do quarto sem medir por um segundo sequer a consequência do seu ato, era como se uma ressaca a puxasse para dentro do mar revolto e no meio daquela perdição ela pudesse encontrar sua salvação. Ela parou em frente a porta do escritório que estava entreaberta, bateu nela de leve, quase sem fazer ruído. Não houve resposta, então ela decidiu-se por empurrar a porta. A mesma escancarou-se com facilidade revelando um ambiente de pouca luz diante dela. Antony ao perceber a porta abrindo-se, girou a cadeira em que estava sentado para sua direção. Tranquilo, ele não demonstrava qualquer surpresa ao vê-la ali. Jéssica paralisou e não esboçou intenção de entrar no escritório, parou sob o portal apoiou uma das mãos na lateral e permaneceu dali tentando mirar nos olhos dele, como se tentasse adivinhar o que se passava também por sua cabeça. Antony também não esboçou reação, permaneceu em silêncio, recostado confortavelmente em sua cadeira. Trazia em uma das mãos uma taça de vinho, levando-a até a boca e degustando tanto seu líquido quanto a visão que tinha ali sob suas vistas. Era nítido que ele aguardava uma iniciativa por parte dela, esperava que Jéssica lhe dissesse algo, que viesse ela ao seu encontro. A luz um pouco mais forte que vinha do corredor atrás de Jéssica revelava para ele a silhueta do corpo nú dela. Ah, como ele apreciava a visão de uma mulher nua! Indubitavelmente estava além das suas forças resistir à um corpo como aquele. Jéssica era uma mulher voluptuosa,os seios grandes com a auréolas grandes e rosadas. As coxas grossas e a bunda bem "à brasileira". Não era sarada, era tachada de "plus size" para os padrões atuais de beleza. Tinha apele alva tal qual o brilho do luar sob a escuridão da noite e as tatuagens que possuía espalhadas pelo corpo lhe conferiam um quê amais de sensualidade e de mulher provocante. Contudo, nada acontecia,pois fazia parte do jogo de sedução de Antony, deixar com que ela viesse até ele. Ele olhava para ela de cima a baixo e ela ainda ali estática, exposta, entregue diante dele, aguardando qualquer gesto que lhe soasse como um convite, um consentimento que teimava em não lhe ser dado. Antony apesar de muito tentando ia ao limite do seu autocontrole, apenas ergueu a taça, tomou outro gole do seu vinho e sorriu, um riso tão discreto que na meia luz em que se encontrava o escritório, possivelmente lhe tivesse sido imperceptível. Jéssica o queria muito, o desejava com cada poro da sua derme, sua respiração ofegava e ela se deu conta que durante todo o jantar ela imaginou e desejou aquele momento. Os dois arrancando com pressa suas roupas e fazendo amor com vigor. Ela passara de fato a noite inteira imaginando-se nos braços daquele homem, a cada relato das suas viagens, a cada frase engraçada e espirituosa que ele dizia, a cada observação inteligente e sagaz, ela o admirava, depois de cada sorriso ou cada olhar que ele dava em sua direção. Ela fôra seduzida sem prestar contas disso a si mesma e agora precisava desesperadamente ser possuída por Antony, ser beijada por aqueles lábios carnudos, olhada de perto por aqueles olhos verdes e ser envolvida por seus braços rijos. E então, não podendo mais se conter daquele turbilhão de sensações que tomara conta dela, ela enfim, deu um passo à frente adentrando para aquela alcova, caindo naquela armadilha de desejo e sedução. Conforme ela caminhava na direção dele, Jéssica pôde enfim, avistar seus olhos, eram olhos de cobiça e deleite e pareciam brilhar tanto que, como um farol aos navegantes, eles a guiavam cada vez mais para perto dele. Jéssica ainda não sabia, mas estava de uma vez por todas se perdendo naquele instante.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Três. Um jeito de amar
RomansaPREFÁCIO Existem limites para o ato de amar? Será possível simplesmente demarcar fronteiras em sentimentos e dizer até onde eles podem ou devem ir? Sonhar, amar, desejar, viver. Conjugamos esses verbos sob a forma de atitudes que, no fim, é que...