Capítulo sem título 7

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ENFRENTANDOA REALIDADE


Antes de saírem eles conversaram sobre o problema de Marisa, então Antony ofereceu-se para ir junto com ela conversar com sua família. Ela agradeceu mas acabou por não aceitar, dizia que aquilo seria parte de um problema antigo que ela precisava enfim resolver, ela sentia que precisava passar por aquilo sozinha, transpor aquela barreira,era para ser parte do seu crescimento pessoal e de sua libertação daqueles velhos grilhões. Marisa pediu para que Antony não a levasse até a porta de casa, fazia questão de descer dois quarteirões antes de chegarem pois além de não querer envolvê-lo,queria caminhar e refletir bem sobre o que iria fazer e dizer,principalmente para sua mãe. Afinal, se não queria mais passar por aquilo tudo, também não queria estar contra sua própria mãe. Antony ainda tentou demovê-la da ideia, disse que ela não precisava passar por aquilo tudo sozinha, que o peso não precisava estar todo sobre seus ombros e que ele estaria ali para o que ela precisasse dele. Marisa agradeceu-lhe colando demoradamente seus lábios no dele antes que ele sequer terminasse sua fala, Antony entendeu e aquiesceu. Eles saíram de carro e Antony colocou um DVD da banda Scorpions para tocar, Marisa estava muito mais relaxada, centrada e segura de si. Trocavam poucas palavras mas dividiam muitos sorrisos. No ar um clima de cumplicidade. Antony atendeu ao pedido de Marisa deixando-a na verdade numa esquina a três quarteirões de sua casa, antes contudo, eles se despediram com um beijo carregado de paixão e com ele segurando firme as mãos dela antes dela sair do carro.

Por favor, fique bem! - Disse ele.


Já estou bem, graças a você. - Devolveu-lhe Marisa.


Assim que se sentir a vontade para conversar, me liga. Se precisar de qualquer coisa, pense em mim e estarei lá.


Marisa sorriu outra vez e enfim saiu do carro. Ele ainda a acompanhou lentamente de carro por alguns segundos antes de deixa-la sozinha imersa em seus pensamentos. Ela jogou um beijo no ar na direção dele e Antony enfim conseguiu partir. No caminho de casa ela tinha uma única certeza, diria tudo de forma simples e sem rodeios, não permitiria interferências até que tivesse dito tudo o que estava  engasgado em sua garganta, colocaria um fim naquela história de uma vez por todas, sem brigas, sem gritos ou histeria. Se tinha uma pedra no meio do seu caminho, pediria licença a Drummond e a tiraria de lá.

Ao abrir a porta de casa, Marisa foi quase de imediato cercada por todos. Seu pai, sua mãe, tia. Falavam todos ao mesmo tempo e sem pausa, enchiam-na de perguntas que ela mal parecia ouvir. Indagações como: Quem? Onde? O que? Passavam por seus ouvidos mas não eram processadas pelo seu cérebro que parecia imune a toda aquela enxurrada de perguntas. Todos falavam sem parar tocando nela para chamar sua atenção. Marisa sentiu-se confortavelmente calma e tranquila diante daquilo tudo, talvez sua mente ainda estivesse distante, nos braços seguros e gentis de Antony. Protegida, querida,amada. Ela sentou-se no sofá relaxada e bastou abrir de leve a boca fazendo menção em dizer algo para que todos calassem para ouvir oque ela tinha a dizer. Então, ela contou a todos, tudo o que passara e que sabia a respeito do seu ex-noivo. Falou do porquê de terem rompido, de suas falhas de caráter e de todas as histórias que lhe contaram depois. Deixou bem claro afirmando categoricamente que nunca até o fim dos seus dias, aceitaria voltar a se relacionar com ele,nem sequer sob a forma de amiga. Dona Teresa, sua mãe, ouvia a tudo incrédula e com um sorriso de desdém nos lábios, parecia não acreditar em nada do que sua filha dizia. Os demais ouvintes apenasse calaram ante a tudo o que fora dito ali. Apenas sua mãe fazia questão de demonstrar que desacreditava, Dona Teresa levantou-se e disse para quem quisesse ouvir que sua filha não merecia a consideração e a preocupação que tinham para com ela, disse que ela era uma perdida que preferia ficar por aí tendo "casinhos"na rua do que assumir um compromisso sério com uma pessoa de boa criação e de boa "família". Em função disso, ela lavava suas mãos, a filha que fizesse o que bem entendesse, mas que a partir dali estariam de relações cortadas. Marisa pareceu não se abalar por ouvir aquilo, talvez por já esperar essa reação por parte de sua mãe. Deixaria que o tempo, o melhor e imparcial conselheiro de todos, cuidasse do pensamento dela. Ela então levantou-se sem responder às perguntas que principiaram a brotar novamente, pediu licença a todos mais por uma questão de protocolo e saiu deixando sem resposta perguntas como: "Onde estivera?""Com quem passara a noite e onde?" Marisa foi para o seu quarto, trancou a porta atrás de si deixando lá fora todo aquele fardo que teimava em lhe pesar nos ombros. Sentiu-se leve e livre depois de muito tempo. Ela escolheu uma sequencia musical no estilo rock romântico no seu celular e deitou-se tranquila em sua cama a olhar de forma fixa e demoradamente para o teto que lhe parecia transparente. Seus olhos pareciam perpassá-lo e alcançar as estrelas e ela outra vez sorria ante a mesma sensação ímpar de estar flutuando no céu entre elas, entre as nuvens, guiada simplesmente pelas mãos de um anjo.


Após deixar Marisa, Antony foi para a casa feliz ainda que preocupado com ela. Em sua cabeça ele repassava "flash's" da noite que passaram juntos. De como tudo tinha sido mágico, tudo num encaixe perfeito. Lembrava de como fizeram amor de modo tão delicado sem  contudo deixar de ser intenso. Mais uma vez um turbilhão de contradições e dúvidas tomava forma em sua cabeça, tal qual uma tempestade de verão nos trópicos. Sua mente já confusa e indecisa buscava em vão entender. Mas como buscar entender sentimentos tão antagônicos? Como buscar compreensão sobre algo que escapa a razão? Apesar de feliz, sentia-se um ser amoral, afinal de contas,em tão pouco tempo tinha levado as duas grandes amigas para a cama.Sentiu-se mal por seduzir e por se deixar seduzir-se. Ele já tinha transado com Jéssica e ela e Marisa eram muito próximas, eram também suas amigas. Antony ficou mal por imaginar-se quebrando o coração de qualquer uma das duas que fosse. No fundo ele sentia que havia perdido o controle, estava se deixando levar pelos instintos,ou talvez pelos sentimentos, ou mesmo um misto dos dois. Ele tinha que resistir ao calor do momento, não podia ser como um animal que só obedece a um cio ou como um marionete controlado por um fio tênue. Será que era possível para ele se permitir estar de verdade apaixonado pelas duas? Cada qual ao seu modo, com seus encantos individuais, suas particularidades. Poderiam as duas juntas ter preenchido o espaço vazio, frio e árido que era o seu peito desde que praticamente perdera seu coração? Ele precisava pensar bem e rápido sobre tudo aquilo, precisava pesar que decisão tomaria, caso contrário, tinha grandes chances de perder tudo, a amizade delas, o respeito e quem sabe perder também a possibilidade que se vislumbrava ao longe de voltar a ser feliz. Pensando assim,ele adormeceu.

Três. Um jeito de amarOnde histórias criam vida. Descubra agora