AS REAÇÕES
Estupefatas,de queixo caído. As duas permaneceram mudas diante de Antony mesmo depois dele nitidamente terminar de dizer o que queria. Não sabiam o que pensar, o que dizer ou mesmo se deveriam dizer algo. Pareciam aguardar que ele dissesse mais alguma coisa, algo que lhes clareasse a mente. Era difícil para elas saberem se aquela era uma declaração pura e bruta de amor ou uma proposta indecorosa e detestável, a mais cafajeste que já haviam ouvido. Esperaram em vão por alguns minutos em um silêncio sepulcral, talvez também esperando o momento em que ele diria que tudo não passava de uma brincadeira de gosto duvidoso,um escárnio de sua parte. Entretanto, nada mais foi dito por ele durante aquela sucessão de segundos quase eternos.
Depois deste tempo, como era de se esperar devido à sua personalidade, foi Jéssica quem primeiro quebrou o silêncio e num ato intempestivo,pegou o copo de saquê diante dela atirando todo conteúdo que havia dentro dele em cheio no rosto de Antony. Em seguida, as lágrimas cansadas de serem represadas por seus olhos, brotaram deles em avalanche, tornando-se rapidamente um choro compulsivo. Jéssica levou ambas as mãos até o seu rosto apertando-o com força deixando marcas vermelhas em sua face. Ela se pôs de pé depressa, enquanto Marisa permanecia sentada, calada e de cabeça baixa, também parecendo chorar, todavia, não esboçava reação alguma. Já com os olhos bem vermelhos e inchados e com a maquiagem totalmente desfigurada devido ao choro copioso, Jéssica encarou Antony face a face, seu rosto que a pouco demonstrava confusão e incredulidade,agora era o retrato de uma face que transparecia raiva e frustração.Noutro acesso de ódio, ela deu um passo na direção dele e lhe estapeou a face. Antony não reagiu resignando-se a baixar o olhar para o chão, baixando também os braços ao longo do corpo, a guarda baixa e sem reação, como se ele merecesse por aquilo. Jéssica então inconformada atitou-se sobre o corpo dele, socando-lhe repetidamente o peito sem encontrar qualquer resistência e isto talvez tenha aumentado ainda mais a raiva que sentia. Antony inerte e mudo tal qual um saco de areia que simplesmente está lá para cumprir tal objetivo, apanhar sem reagir. Ela o socou até que suas forças foram parecendo terminar, a frequência entre os socos foram diminuindo, as lágrimas pareciam querer secar, foi só então que Antony fez menção em lhe tocar, envolvê-la num abraço acolhedor,porém sua atitude foi em vão. Jéssica refutou seu toque com veemência demonstrando certo ar de repugnância e afastou-se dele de pronto dizendo:
Não toque em mim! Não ouse nunca mais tocar em mim! Você é um perfeito idiota, um cafajeste como outro qualquer! Ainda por cima não vê que estragou tudo. Quando eu enfim decidi me entregar pois achei que tinha encontrado o homem da minha vida, o cara certo para ter um relacionamento sério, aí vem você como qualquer idiota da sua espécie, ignora meus sentimentos e parte meu coração dessa forma. Você é um imbecil!
Os três se entreolharam com Antony e Marisa ainda em silêncio. Era a deixa para Jéssica continuar descarregando sua raiva.
Como puderam fazer isto comigo? Você e "essazinha" aí que se dizia minha amiga, que sabia mais do que qualquer outra pessoa o quanto uma situação dessas poderia me magoar....
Nesse ponto antony interrompeu Jéssica para defender Marisa.
Ela sabia tanto quanto você Jéssica, ou seja, nada. Deixe-a fora disto, se há um vilão na história, este sou eu! - Disse em tom mais elevado.
O choro de Jéssica pareceu cessar de vez, ela enxugou as últimas lágrimas que lhe escorriam a face com as costas do braço, todavia,foram suas palavras que não cessaram.
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Três. Um jeito de amar
Roman d'amourPREFÁCIO Existem limites para o ato de amar? Será possível simplesmente demarcar fronteiras em sentimentos e dizer até onde eles podem ou devem ir? Sonhar, amar, desejar, viver. Conjugamos esses verbos sob a forma de atitudes que, no fim, é que...