I'm okay

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POV Bryana

- pare de chorar - sussurrei para mim mesma, sentada no chão gelado do banheiro abraçando minhas pernas enquanto aquelas malditas lágrimas não paravam de escorrer. Uma raiva que eu já conhecia foi subindo à minha cabeça, e eu encarei meus braços expostos. Marcas antigas de cortes na região de meu pulso ainda estavam ali, eu havia cortado tão fundo que provavelmente nunca conseguiria escondê-las.

- droga! - bati minha nuca na parede e fechei meus olhos novamente, o que eu estava fazendo? Eu queria mesmo voltar ao passado? Eu queria mesmo voltar a ser aquela menina frágil, idiota, que acredita em romances e novelas pitorescas, que escrevia em seu diário frases do tipo "um dia ainda vou encontrar o meu príncipe"? Definitivamente, não. É, eu já tive fases como essa. Com 12 anos, comecei à me machucar, exausta brigas familiares, eu era burra demais e quando soube que aquilo "aliviava", tentei. Eu não gostei, não mesmo: por isso que eu parei. Eu tinha prometido pra mim mesma, que nunca faria novamente. Aos 14 anos, eu comecei a perder  amigos e meus pais se afastaram de mim.. não suportei a dor. Eu precisava de uma válvula de escape, sim, eu voltei a me cortar. Quando fiz 15 anos, eu decidi parar com essa doentia mania. Sempre fui masoquista, viciada na realidade de que eu era sim, uma pessoa vulnerável e triste, de que eu sempre seria assim.

E agora, com 16 anos, eu estou de novo comprovando uma horrível verdade: eu preciso de ajuda. Não sou normal, não mesmo. Bati minha cabeça de novo na parede, dessa vez com mais força. Faziam 3 meses que eu não me cortava, e eu pretendia continuar assim, mas toda a pressão que eu estava sofrendo... aquilo era demais pra minha cabeça. Todos meus amigos, se foram de novo, eu revivia um trailer de suspense e drama na minha cabeça. Eu perdi minha melhor amiga. Eu perdi à mim mesma, como Jessie J diz numa música.

"Don't lose who you are

in the blur of the stars
Seeing is deceiving,

dreaming is believing
It's okay not to be okay"

GRANDE MERDA! Não, eu não acho que tudo está bem por não estar bem! Por quê isso só acontece comigo? Foda-se. Foda-se, já liguei o foda-se há tanto tempo, que esqueci quem sou. Eu não tenho personalidade, só tenho sorrisos. É, tenho sorrisos fingidos. Cada máscara que eu coloco é diferente. Mas todas elas escondem uma mesma coisa:

Eu não sou feliz.

Eu nunca fui.

Eu sofro, sofro por ser eu, sofro por ninguém se importar, sofro por sofrer.

Eu nasci para ser assim.

No meio dos meus pensamentos, percebi que as lágrimas haviam parado de cair, ótimo. Levantei e me apoiei na pia enquanto sorria falsamente para o meu reflexo, meus cabelos aloirados caíam como cachoeiras em meus ombros e meus olhos marrons refletiam toda minha dor, e o fato de que eu havia acabado de sair de mais uma crise.

Porém, quando estava me sentindo preparada para ir, uma maldita lágrima levou as outras para o mesmo lugar. Limpei com a manga da blusa, mas não aguentei. A dor não havia parado.

Me virei como se aquilo fosse minha última esperança e peguei a pequena lâmina que meu amigo havia me emprestado. Ele nunca iria pensar que eu a usaria para isso. Deixei-a deslizar, com cuidado, em 3 linhas grandes, uma ao lado da outra. O sangue saía aos poucos, e eu esperava a sensação. Aquela sensação. Fiz um grande corte no meio dos que eu havia acabado de fazer, e com isso, o que eu queria veio mais rápido: uma grande tontura, mas algo como alívio. A dor passara por 15 minutos, e nesses 15 minutos, eu cortei insistentemente o mesmo machucado.

Fodam-se meus músculos, fodam-se meus nervos, se eu tivesse cortado algo, eu realmente não me importava.

Consegui sorrir enquanto assistia a minha própria cena de terror utópica. Enfaixei meu braço antes de limpar tudo e guardar no devido lugar.

Três meses limpa haviam ido pro ralo.

Eu sabia que não conseguiria mais parar.

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