By your side

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POV Bryana

Puta que pariu! Eu estava extasiada, pulando de alegria, mas tudo continuava a latejar, meus braços, minha cabeça, e eu não conseguia nem pensar direito. Sorri, ao encarar seus olhos que brilhavam. Ela me observava com amor, e eu não podia acreditar que aquilo estava acontecendo de verdade. Eu sempre sonhei em arranjar alguém que me amasse, mas nunca acreditei que pudesse se realizar. Tipo, quem amaria alguém como eu? Uma pessoa tão complicada, cheia de problemas, e aliás, quem amaria alguém que não ama a si mesma? Mas eu tinha achado alguém. Pelo menos, eu achava que tinha.

Durante aqueles segundos, uma parte do meu cérebro ainda tentava raciocinar o que tinha acabado de acontecer, enquanto a outra já estava viajando de novo. Em outro planeta. Talvez, ela tivesse me beijado só por pena, por me ver nesse estado. Talvez, ela não quisesse nem ser minha amiga. Talvez, aquela fosse sua despedida. Ela iria embora e nunca mais me ligaria, mandaria mensagens ou viria me salvar quando eu estivesse prestes à cometer mais uma grande merda. Eu sabia que era extremamente errado pensar assim dela, afinal, Demi Lovato, eu a conhecia perfeitamente. Fofa, carinhosa, que se preocupava com todos. Mas eu sempre fui diferente de todos. E se ela também não gostasse de mim? E se ela fosse... igual à todo mundo? Fechei meus olhos, respirei fundo, mesmo sabendo que ela estava sentada à minha frente, me observando fixamente. Vendo a minha reação.

Naquela altura, eu já me sentia prestes a morrer. Meu peito ardia em chamas, e todas as dores externas já eram bobeira para mim. Soltei o ar dos pulmões, ainda de olhos fechados, e senti uma lágrima escorrer. Outra. Eu ia começar a chorar novamente.

"Bebê chorão" - lembrei de como a minha tia me chamou quando abriu a porta do meu quarto, uma vez, e eu estava com a lâmina nas mãos. A primeira vez em que me cortei. Senti as lágrimas escorrerem mais uma vez, dessa vez, sem parar. Eu lembrava claramente de tudo. Ela abriu a porta e andou na minha direção, eu ainda não havia feito. Eu estava indecisa. Ela entrou rapidamente no quarto e eu corri para guardar meu "melhor amigo" embaixo do travesseiro. A observei, e não pude esconder o fato de que eu estava chorando, quase desistindo. Ela nunca havia dado tanta atenção à mim, nunca fui a favorita de ninguém. Mas, naquele momento, eu esperava que como uma pessoa boa, que eu sempre pensei que ela fosse, apesar de tudo, eu pensei que ela fosse me abraçar, me consolar. Ela me olhou, com desprezo. Eu lembrava cada detalhe daquele olhar, e de como me feriu. Continuou de pé, acima de mim. Com aquele maldito olhar. Ela estava me julgando, eu sentia seus pensamentos me atingindo.

"- Você vai continuar deitada aí, bebê chorão? Vai ser que nem sua bendita avózinha? Uma medíocre que finge ser toda boazinha enquanto todos sabemos a verdade? Chorando e fingindo que tá magoada? Vai ser assim, falsa? Pensei que sua mãe tivesse te educado melhor" - eu lembrava de cada palavra que ela havia me dito. Cada uma. Não tinha como esquecer. Me lembro de quando ela virou as costas e foi embora, e eu ouvi sua risada alta quando desceu as escadas, ela ecoou pelo corredor. Assim que ela fechou a porta, eu me apressei em fazer 3 cortes em cima do músculo do braço esquerdo. Profundos. Nem pensei se eu queria ou não. Apenas fiz. Cortei várias vezes em cima, até que o sangue escorria sem parar. Não aguentei olhar, eu sempre tinha pesquisado sobre isso, visto as imagens, mas era uma situação completamente diferente. A partir daquele dia, eu não me senti mais viva. Quer dizer, eu não me sentia viva há muito tempo, mas, eu queria mesmo morrer por dentro, eu não ligava, eu não me amava, eu me odiava. Tudo me atingiu, e eu já chorava compulsivamente, mais uma vez.

Meu braço estava apoiado nas minha coxa que não estava machucada e eu reparei que já havia parado de sangrar, mas as marcas seriam definitivas. Lembrei de como eu me senti quando comecei a me machucar, e palavras de uma música vieram à minha cabeça...

"I'm staring my reflection in the mirror (estou encarando meu reflexo no espelho)

Why am I doing this to myself? (por quê estou fazendo isso comigo mesmo?)"

Senti um olhar sobre mim. Já não me importava mais se eu estava sozinha ou não, eu só queria deixar sair. Por quê eu tinha que ser assim? Eu podia ter me impedido. Eu não queria continuar, eu só queria ser feliz. Por quê todos me odeiam? E se ela não me amasse de verdade?

Vi Demi se movimentar na minha frente, eu estava com a cabeça abaixada e por isso não consegui enxergar o que ela fazia. Ela estava indo embora, provavelmente. Como todos tinham feito. Solucei, e nesse momento, encarei a parede na minha frente. Demetria. Tinha ido. Mesmo.

POV Demi

Eu saí do banheiro, não aguentava mais vê-la daquele jeito. O que estava acontecendo? Ela não tinha gostado do beijo? Não precisava ter chorado tanto. E ainda estava chorando.

O que eu fiz?

Essa pergunta se repetia na minha cabeça, e eu tive que engolir fundo o gosto ruim que subiu na minha garganta. Não, eu não podia enfraquecer, eu tinha que continuar em pé, firme e forte.

Suspirei e entrei na cozinha, eu tinha que pensar. Eu sabia que isso podia acontecer.

Observei cada centímetro do lugar.. as paredes, o armário, os copos, a pia. Tudo. E então, senti uma vontade enorme de tomar chocolate quente.

É isso! Chocolate quente, melhora tudo, sempre.

Esquentei a água e coloquei o pó em duas xícaras, logo depois, enchendo as duas até o topo com a água fervendo. Aquilo tinha que fazer bem à ela, e com certeza, ia me deixar melhor. Peguei uma bandeja e tomei cuidado para não derrubar tudo. Respira, se acalma. Ela já deve estar melhor. Imagens de Bryana chorando e de cabeça baixa vieram na minha mente, com as mãos ensaguentadas, o corpo frágil, a conhecida posição de derrota. Droga, eu não poderia deixá-la perder.

Mesmo que ela não quisesse nada comigo.

Me vi, então, já no corredor. Parei em frente à um buraco que parecia ser a porta para encarar a mesma cena de antes. Merda. Engoli em seco.

Andei com passos largos até o meio do banheiro, e apoiei a bandeja no chão, me sentando do lado dela. Peguei a xícara, com cuidado, assoprei, e me aproximei de Bryana. Ela me encarou, seu olhar me cortou o coração, mas eu continuei sorrindo e oferecendo o copo.

- vamos, você tem que beber algo - eu disse, minha voz falhou enquanto me debruçava sobre a banheira para me aproximar dela, que não me encarava mais. Mas que droga.

- não quero - ela disse, balançando a cabeça negativamente, enquanto ainda soluçava um pouco. "Não vou te deixar assim, você vai ter que tomar" pensei. Fiz a cara mais pidona que eu consegui, e vi seus olhos observarem os meus, agora com um sorriso maroto no rosto. Eu a tinha feito sorrir. Um enorme sorriso surgiu no meu rosto também, e eu falei, de novo:

- por favor, você tem que beber algo 

Ela pegou a xícara das minhas mãos, com delicadeza, e fazendo uma cara feia, pois provavelmente o movimento doía. A ajudei à levar até os lábios, e observei enquanto ela dava uma boa golada.

- está gostoso - ela soltou, entre suspiros, enquanto continuava a beber.

Me afastei um pouco, a deixando sozinha, bebendo. Vi seu corpo parar de tremer e sua fisionomia melhorar um pouco. Sorri, feliz comigo mesma por ter tido essa idéia brilhante, e peguei a outra xícara, bebendo também.

Ficamos assim, nos esquentando, um tanto distantes, esperando o tempo passar. E ele passou, mas eu não quis olhar o relógio. Eu só queria ver aquele sorriso que eu tanto amava e vê-la com aquela felicidade de novo, eu só queria ficar com a minha Bryana. Não importava quantas horas, ou minutos. Eu estaria ao lado dela, para sempre.

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