Capítulo 4

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Eugênio saiu do escritório às seis e meia. Estava cansado e indisposto. Decididamente as coisas não iam bem para ele. Baixara uma maré de má sorte, e isso o deixava de mau humor. Esteve para fechar duas grandes negociações e, quando as coisas estavam praticamente acertadas, os clientes voltaram atrás. Perdera uma boa comissão, que o deixaria tranquilo pelo resto do mês.

Na rua, parou indeciso. Aonde vai? Eunice estaria esperando-o, com certeza, mas ele não se sentia disposto a conversar. Sabia que, quando lhe contasse que precisava ir para casa todas as noites antes das oitos, ela iria protestar. Ele não estava habituado a ser pressionado. Detestava isso.

Agora, era só o que lhe coubera. De um lado Olivia; de outro, Eunice. E ainda seu chefe, olhando-o preocupado, querendo saber com detalhes por que ele perdera as duas negociações.

Sentia-se sufocar. Sempre fez o que quis, e sua vida até então havia decorrido muito bem. O que mudara? Por que de repente tudo começara a lhe acontecer?

- Pensando na vida?

Eugênio levantou a cabeça e, vendo Amaro, respondeu:

- Ultimamente não tenho feito outra coisa. Feliz de você, que é solteiro. Não sabe do que se livrou.

Amaro era seu colega de trabalho. Alegre, simpático, trabalhador e muito requisitado pelas mulheres, as quais tratava com galanteria, mas aos quarenta e dois anos ainda conservava a liberdade. Nenhuma delas conseguira levá-lo ao casamento.

- Que é isso, Eugênio? Todos nós temos nosso dia de infelicidade, mas tudo passa. E você não precisa ficar ai, com essa cara.

Eugênio não se deu por achado:

- Fala isso porque não aconteceu com você!

Amaro pegou o amigo pelo braço, dizendo:

- Sei que foi difícil, mas, quando uma coisa é irremediável, o que se pode fazer senão conformar-se e tentar esquecer?

Eugênio sentiu que lágrimas lhe vinham aos olhos. A solidariedade do amigo confortava-o e fazia-o sentir ainda mais sua infelicidade.

Amaro perguntou:

- O que estava fazendo aí parado? Para onde vai?

- Era justamente no que eu estava pensando. Em casa tudo está muito triste, Marina revoltada e pensando que eu fui o culpado pela morte de Elisa. A dor deles é difícil de aguentar. Tão pequenos e sem a mãe! Por outro lado, há Olivia. Já lhe falei dela?

- Aquela sua cunhada durona que vivia instigando Elisa contra você?

- Essa mesmo. É outra que me culpa pela morte da irmã, como se eu fosse responsável pelo acidente. Não aguento mais a pressão!

Amaro sorriu e deu uma piscada maliciosa.

- Mas eu sei que você tem um lugar onde as coisas andam melhores. Eunice, que você me disse ser a mulher de sua vida, ainda está lá. Agora você está livre para fazer o que quiser. Pode ser feliz com ela.

Eugênio suspirou triste.

- Não sei o que aconteceu, mas parece que tudo mudou. Até Eunice, que era uma mulher dócil e  amável, agora deu para me pressionar, exigir coisas. Eu estava aqui pensando e não sentia vontade de ir para minha casa nem para a dela.

- Nesse caso, venha comigo. Vamos tomar alguma coisa. Você precisa relaxar.

Eugênio acompanhou o amigo de bom grado. Precisava mesmo desabafar. Conversar com alguém que o pudesse compreender.

Sentados à mesa de um bar, com um copo de cerveja entre as mãos, entre um salgadinho e outro, Eugênio foi desabafando.

Falou de suas esperanças, de sua vontade de ser feliz com Eunice. De seu amor por Elisa. De como ela mudara depois do casamento e ele perdera muito da atração que sentia por ela. Não que tivesse deixado de gostar dela, de apreciar suas qualidades de mulher, isso não! Elisa como esposa era perfeita. Ele sabia que, quanto a isso, nunca encontraria outra igual a ela.

A verdade de cada um - Zibia GasparettoOnde histórias criam vida. Descubra agora