Capítulo 18

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Eugênio chegou em casa apressado. Passava das oitos, mas felizmente Elvira não havia ido embora ainda. - Atrasei-me um pouco - explicou ele. - Estava preocupado. Nelinha está bem, mas por enquanto não quero que ela fique sozinha. Ainda bem que esperou.

- Meu namorado também se atrasou hoje. Posso ir agora? As crianças já comeram e a mesa está posta para o senhor.

- Obrigado. Pode ir, claro.

Depois que ela se foi, ele foi ver as crianças, tomou um banho e desceu para o jantar. Marina estava na cozinha.

- Você já jantou? - indagou ele.

- Já.

Ele notou que ela estava esquentando o jantar e não disse nada. Se ela já havia comido, estava fazendo isso para ele. Emocionou-se. Havia notado que nas últimas semanas ela estava menos agressiva. Com o tempo, ela haveria de compreender e perdoar. Ele sentia que não devia pressionar. Por isso, fez de conta que não notara nada. Apanhou o prato, serviu-se, e, quando ele se sentou para comer, ela subiu para o quarto.

O que estava acontecendo com ele era estranho. As palavras de Lurdes ainda estavam vivas em sua memória. Ela teria mesmo visto Elisa?

Nelinha dissera a mesma coisa. Claro que ela poderia ter imaginado; estava com febre, poderia ter sido uma alucinação. A febre alta pode provocar alucinações. Mas como ela poderia saber que Elisa ficara com um ferimento na testa? Ela não vira a mãe depois do acidente e ninguém lhe contara esse detalhe. Olivia afirmava nunca ter mencionado isso.

Com Lurdes o fato era ainda mais impressionante. Ela não conhecia Elisa. Poderia tê-la visto com ele em algum encontro casual, mas como poderia descrever o vestido com o qual ela fora enterrada e o ferimento? Ele não se lembrava de ter mencionado isso a ela.

Amaro afirmava que a vida continua depois da morte. Seria verdade mesmo? Até Olivia dissera que estava estudando esses fenômenos e que eram verdadeiros. Passou a mão pelos cabelos, suspirou fundo. Se ele pudesse descobrir a verdade! Lurdes garantira que Elisa estava lá, vendo e ouvindo tudo que eles diziam. E se fosse verdade mesmo? Claro que seria muito doloroso, para ela, vê-lo ao lado de outra mulher.

Isso não podia ser. Ele estava delirando, imaginando, deixando-se levar pelas aparências. Precisava reagir. Acreditar nisso seria loucura. Terminou o jantar, apanhou o jornal e subiu para ver se as crianças haviam feito as lições para o dia seguinte. Mas, por mais esforço que fizesse para esquecer, as palavras de Lurdes voltaram-lhe à mente a todo instante.

Apesar de mais calma, Elisa continuava na casa de Inês sem poder sair. Depois daquela tarde, Carlos ficara mais deprimido. Seus companheiros tentavam animá-lo:

- Não se deixe abater! Vamos precisar de toda a nossa força quando eles vierem atrás de nós - disse um deles.

- Eu não quero voltar mais àquela prisão horrorosa! - considerou outro com ar ameaçador. - Se você afrouxar, eu posso assumir o comando. Se eles vierem aqui, vão se arrepender!

- Isso mesmo! - concordou o terceiro.

- Quem manda aqui sou eu! - disse Carlos, readquirindo um pouco da antiga energia. - Nós não vamos voltar mais àquele lugar. Eles que não tentem nos pegar.

Elisa ouvia calada. Em vão, implorava a Carlos que a deixasse ir embora. Falava dos filhos, tentara comovê-lo dizendo que a filha estava doente, mas ele estava irredutível.

- Preciso de você para tomar conta de Inês. Não disse que essa era sua função? Então!

- Eu posso continuar ajudando Inês, mas preciso ir até em casa ver meus filhos. Deixe-me ir e prometo voltar e ficar aqui, mas preciso saber o que está acontecendo lá. Faz dias que estou aqui sem sair. Quase uma semana. Nunca fiquei tanto tempo longe deles.

A verdade de cada um - Zibia GasparettoOnde histórias criam vida. Descubra agora