Capítulo 13

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A tarde estava acabando quando Elisa, após passar parte do dia ao lado das crianças e estado com Eugênio no escritório, sentiu saudade de Olivia e resolveu procurá-la. Encontrou-a em seu escritório ocupada em examinar alguns projetos. Aproximou-se emocionada, abraçando-a com carinho. Embora não a pudesse ver, Olivia parou o que estava fazendo e lembrou-se de Elisa com saudade.

Sentia-se muito só. Lembrou-se de Amaro e pensou que, se tudo que ele lhe contara fosse verdade mesmo, se Elisa estivesse viva no outro mundo, faria tudo para comunicar-se com ela. Pensar nisso era confortante, mas, ao mesmo tempo, como ter certeza de que não estava sendo iludida? As pessoas desejam tanto rever os que partiram que bem podiam estar fantasiando, para fugir ao sofrimento do nunca mais. 

Ela era pessoa instruída, prática, habituada desde cedo a enfrentar os problemas da vida. Não podia deixar-se envolver por falsas esperanças. Temia ser enganada. No entanto, Amaro parecia-lhe honesto e sincero. Afirmava que a vida continuava depois da morte. Ficar impressionada com os livros que lera, escrito por pessoas cultas e sérias, cujas pesquisas haviam comprovado essa teoria. Como saber a verdade?

Se pudesse crer! Falar com Elisa, saber como estava, o que lhe acontecera... Dizer-lhe que as crianças estavam bem, que podia ficar em paz, que ela cuidaria do bem-estar delas e jamais as abandonaria. Seria tão bom!

Elisa, abraçada a ela, sentia as lágrimas correrem pelas faces. Gostaria de dizer-lhe que estava ali, que tudo isso era verdade, que a morte de seu corpo não a havia privado de continuar existindo, que era a mesma de sempre, amando os filhos, a família, entristecida por não poder mais estar cuidando deles como antes, que confiava nela e sabia que cuidaria de seus filhos com amor. Era cruel poder estar ali e não conseguir fazer-se entender.

- Olivia, estou aqui. Acredite! A morte não é o fim. Ah, se eu pudesse fazer alguma coisa para que me visse...

Olivia sentiu-se muito triste. Nunca como naquele instante a lembrança de Elisa se fizera tão forte.

"Preciso saber a verdade!", pensou ela, agoniada.

O telefone tocou, e ela atendeu:

- Amaro! Estava pensando em você!

- E eu pensando em você. Quer jantar comigo esta noite?

- Quero. Precisamos mesmo conversar.

- Ótimo. Estarei esperando.

Elisa olhou-a preocupada. Precisava afastar esse Amaro de Olivia. Não era ele o perigo que Jairo mencionara? Esperou, vendo-a guardar as coisas e arrumar-se cuidadosamente. Ela continuava bonita e elegante, pensou. Sabia viver e não era boba como ela, que aparentava ser muito mais velha do que era. Por que não lhe dera ouvidos?

Quando ela desceu, acompanhou-a. Estava vigilante e afastaria Amaro do caminho dela de uma vez por todas. Ele chegou, e, quando entraram no carro, Elisa acomodou-se no banco traseiro. Aprendera que o primeiro passo era observar, para depois agir.

Eles conversavam e Olivia desabafara falando da saudade que sentia, da falta que Elisa fazia, do amor que sentia por ela e do desejo de poder saber se tudo quanto ele lhe dissera e ela lera nos livros era verdade. 

- A única maneira de saber é experimentando - respondeu ele quando ela se calou. - A verdade não é patrimônio de ninguém. A sobrevivência do espírito após a morte pode ser comprovada. Nossos entes queridos que partiram continuam vivos em outro lugar. A comunicação com eles é possível, já tem acontecido. Contanto que respeitemos as condições naturais do processo, podemos obter o mesmo resultado.

- Desde que me falou isso, não penso em outra coisa. Se isso é verdade, se Elisa está viva em outro mundo, quero falar com ela, saber como está, o que aconteceu no dia de sua morte, se foi acidente mesmo, como eu penso. Sei que, onde ela estiver, deve estar muito preocupada com as crianças que ela deixou sozinhas fechadas em casa, coisa que nunca fizera antes. Acha que poderei falar  com ela?

A verdade de cada um - Zibia GasparettoOnde histórias criam vida. Descubra agora