Capítulo 15

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Eugênio entrou em casa preocupado. Elvira chamara-o dizendo que Nelinha estava com muita febre. Subiu para o quarto da filha e, vendo Elvira sentada ao lado da cama, perguntando:

- E então? Baixou a febre?

- Não. Já dei o remédio que o senhor mandou, mas a febre continua alta.

- Quanto tempo faz?

- Uns vinte minutos.

- Hum... Já deveria ter feito efeito.

Nelinha, corada, olhos lagrimejantes, tossia de vez em quando.

- Será gripe? - disse Eugênio.

- Parece. Só que gripe não dá febre tão alta. Ela tem trinta e nove graus.

- Vou chamar o médico. Isso pode complicar.

Eugênio foi telefonar, e Nelinha reclamava choramingando:

- Papai, fique comigo. Está doendo minha cabeça.

- Seu pai já volta - prometeu Elvira. - Não chore.

- Quero minha mãe!

- Ela não pode vir. Acalma-se. Seu pai volta logo.

Nelinha pareceu não ouvir e continuou:

- Mamãe! Onde você está? Por que me abandonou?

Elvira, penalizada, tentava confortá-la, mas ela chorava e continuava chamando pela mãe.

Elisa, que estava no escritório com Eugênio, acompanhara-o e, emocionada, abraçava Nelinha, dizendo:

- Estou aqui, filha. Nunca a abandonei. Não chore.

Vendo que ela não registrava sua presença, resolveu experimentar o que havia aprendido. Concentrou-se e envolveu Nelinha com amor, repetindo com firmeza:

- Estou aqui. Sou eu. Veja. Você pode me ver e sentir. Vim para ajudar. Não chore.

Nelinha parou de chorar e esboçou um sorriso dizendo contente:

- Mamãe! Você veio! Eu sabia que você não iria me abandonar. Fique comigo! Estou me sentindo tão mal!

Elisa abraçava-a com amor, e com pensamento firme dizia:

- Você vai ficar bem. Eu estou aqui.

Elvira, ouvindo as palavras de Nelinha, assustou-se. Ela estava delirando. A febre teria subido? Colocou o termômetro novamente e esperou. A menina adormecera, mas pela respiração agitada ela percebera que a febre não baixa. Eugênio voltou em seguida.

- Falei com o médico. Dentro de pouco estará aqui. 

- É bom mesmo. Ela está delirando.

- Delirando?

- Chamava pela mãe. Depois disse que ela estava aqui. Olhe o termômetro. A febre não subiu. Será que a alma de dona Elisa veio mesmo?

- Não diga besteira, Elvira. Quem morre não volta.

- Ela disse que a mãe veio e que sabia que ela nunca a abandonara. Precisava ver a cara de felicidade dela. Parecia que estava vendo mesmo. Estou ficando com medo.

- Só me faltava esta! Não percebe que ela chama pela mãe porque está se sentindo mal? Toda criança quer a mãe nessa hora. Ela está fantasiando. É uma maneira de satisfazer sua vontade de ter a mãe de volta. É só alucinação. Quando a febre passar, ela nem se lembrará disso.

Elvira olhou desconfiada. Seu irmão contava sempre histórias de assombração, e ela sentia muito medo. Ele costumava brincar com ela dizendo:

- Tome cuidado. Trate bem das crianças. A alma da mãe delas está vigiando. Se judiar delas, vai aparecer e pedir contas.

A verdade de cada um - Zibia GasparettoOnde histórias criam vida. Descubra agora