Capítulo 9

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Eugênio voltou para casa no domingo à tarde. Como Lurdes não sabia dirigir, foi forçado a contratar um motorista que os levasse. Sentado no banco traseiro, com a perna esticada, porque quando a abaixava doía terrivelmente, teve de se conformar em ver Lurdes sentar-se na frente.

Durante o trajeto, pensava no que lhe acontecera.

Realmente, sua vida complicara-se depois da morte de Elisa. Arrependia-se de um dia haver pensado em abandonar a família. Como pudera fazer isso? Essa loucura estava custando-lhe muito caro. Seria um castigo de Deus pelo que havia feito? Nunca fora religioso, mas como explicar tanta infelicidade?

Sentia-se amargurado e infeliz. Seus negócios não iam bem. Suas comissões haviam minguado e, agora, impossibilitado de trabalhar durante um mês ou mais, seria pior. Ainda bem que tinha algumas economias que deveriam garantir o sustento de sua família durante aquele período. O médico dissera-lhe que depois de uma semana, se tudo corresse bem, ele poderia ir ao escritório por algumas horas, desde que conservasse a perna levantada e esticada para facilitar a circulação.

Levou Lurdes até em casa, despedindo-se dela com tristeza.

- Não fique triste. Você vai ficar bom - disse ela tentando encorajá-lo.

- Sinto o gosto do fracasso. Estraguei nosso fim de semana. Havia feito tantos planos!

- Não se lamente, que pode piorar. O que passou passou. Trate de cuidar-se bem. Quando ficar bom, faremos nossa viagem.

- Não vejo a hora. Entre no carro.

Ela entrou, e ele a beijou com carinho.

- Adeus - disse ela acariciando-lhe o rosto com delicadeza. - Tem certeza de que não quer que eu o ajude até em casa?

Ele meneou a cabeça negativamente.

- Por causa das crianças. Não iriam entender. Elas ainda sofrem muito com a morte da mãe. Precisamos dar um tempo para que elas a conheçam e aprendam a gostar de você.

- Tem razão. Em todo caso, se precisar de mim, irei de boa vontade. Preocupa-me saber que em casa não haverá ninguém para ajudá-lo.

- Há as crianças. E minha cunhada ainda está lá. Posso pedir-lhe para dormir esta noite, não por minha causa, eu estou bem e posso cuidar de mim, mas pelas crianças, que podem necessitar de alguma coisa.

- Está bem. Adeus e obrigada por tudo. Apesar do que aconteceu, foi muito bom estar com você.

Beijou-o novamente e desceu. Eugênio acenou em despedida e foram para casa.

O motorista ajudou-o a entrar, e, depois de pagá-lo, Eugênio explicou para os filhos o que havia acontecido. Estirado no sofá da sala, sentia-se arrasado.

Juninho e Nelinha queriam saber tudo, se doía, se o gesso era pesado, se ele havia escorregado em uma casca de banana.

- Mamãe sempre dizia que não era para jogar casca de banana na calçada. Alguém poderia cair e quebrar a perna - disse Juninho.

- Ela estava certa. Só que onde eu caí não havia nada.

- Não? Então por que você caiu? - perguntou Nelinha, admirada. - Estava correndo muito?

- Não. Estava devagar.

- Então não entendo - disse a menina.

- É, não dá mesmo para entender. Até agora ainda não entendi.

Olivia, que os observava calada, perguntou:

- Quantos dias vai ficar com o gesso?

- Trinta dias, ou mais. Depende da recuperação. Juninho, pegue um copo de água. Preciso tomar o remédio. Está doendo muito.

A verdade de cada um - Zibia GasparettoOnde histórias criam vida. Descubra agora