Eugênio voltou para casa no domingo à tarde. Como Lurdes não sabia dirigir, foi forçado a contratar um motorista que os levasse. Sentado no banco traseiro, com a perna esticada, porque quando a abaixava doía terrivelmente, teve de se conformar em ver Lurdes sentar-se na frente.
Durante o trajeto, pensava no que lhe acontecera.
Realmente, sua vida complicara-se depois da morte de Elisa. Arrependia-se de um dia haver pensado em abandonar a família. Como pudera fazer isso? Essa loucura estava custando-lhe muito caro. Seria um castigo de Deus pelo que havia feito? Nunca fora religioso, mas como explicar tanta infelicidade?
Sentia-se amargurado e infeliz. Seus negócios não iam bem. Suas comissões haviam minguado e, agora, impossibilitado de trabalhar durante um mês ou mais, seria pior. Ainda bem que tinha algumas economias que deveriam garantir o sustento de sua família durante aquele período. O médico dissera-lhe que depois de uma semana, se tudo corresse bem, ele poderia ir ao escritório por algumas horas, desde que conservasse a perna levantada e esticada para facilitar a circulação.
Levou Lurdes até em casa, despedindo-se dela com tristeza.
- Não fique triste. Você vai ficar bom - disse ela tentando encorajá-lo.
- Sinto o gosto do fracasso. Estraguei nosso fim de semana. Havia feito tantos planos!
- Não se lamente, que pode piorar. O que passou passou. Trate de cuidar-se bem. Quando ficar bom, faremos nossa viagem.
- Não vejo a hora. Entre no carro.
Ela entrou, e ele a beijou com carinho.
- Adeus - disse ela acariciando-lhe o rosto com delicadeza. - Tem certeza de que não quer que eu o ajude até em casa?
Ele meneou a cabeça negativamente.
- Por causa das crianças. Não iriam entender. Elas ainda sofrem muito com a morte da mãe. Precisamos dar um tempo para que elas a conheçam e aprendam a gostar de você.
- Tem razão. Em todo caso, se precisar de mim, irei de boa vontade. Preocupa-me saber que em casa não haverá ninguém para ajudá-lo.
- Há as crianças. E minha cunhada ainda está lá. Posso pedir-lhe para dormir esta noite, não por minha causa, eu estou bem e posso cuidar de mim, mas pelas crianças, que podem necessitar de alguma coisa.
- Está bem. Adeus e obrigada por tudo. Apesar do que aconteceu, foi muito bom estar com você.
Beijou-o novamente e desceu. Eugênio acenou em despedida e foram para casa.
O motorista ajudou-o a entrar, e, depois de pagá-lo, Eugênio explicou para os filhos o que havia acontecido. Estirado no sofá da sala, sentia-se arrasado.
Juninho e Nelinha queriam saber tudo, se doía, se o gesso era pesado, se ele havia escorregado em uma casca de banana.
- Mamãe sempre dizia que não era para jogar casca de banana na calçada. Alguém poderia cair e quebrar a perna - disse Juninho.
- Ela estava certa. Só que onde eu caí não havia nada.
- Não? Então por que você caiu? - perguntou Nelinha, admirada. - Estava correndo muito?
- Não. Estava devagar.
- Então não entendo - disse a menina.
- É, não dá mesmo para entender. Até agora ainda não entendi.
Olivia, que os observava calada, perguntou:
- Quantos dias vai ficar com o gesso?
- Trinta dias, ou mais. Depende da recuperação. Juninho, pegue um copo de água. Preciso tomar o remédio. Está doendo muito.
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A verdade de cada um - Zibia Gasparetto
SpiritualMuitas vezes, embalados pela ilusão, tomamos atitudes precipitadas sem pensar em como elas afetam as pessoas ao nosso redor. Julgamos que sempre a intimidade alheia e acreditamos que sempre sabemos a melhor resposta Foi assim com Elisa, uma mulher d...