Capítulo 11

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Sentado à sua mesa no escritório, Eugênio examinava atentamente alguns papéis, meneando a cabeça preocupado. Fazia uma semana que voltara ao escritório e mergulhara fundo no trabalho. Havia muito por fazer, e ele começava cedo, só saindo alguns minutos para um almoça rápido ao lado do prédio, e saía pouco antes das oito, a fim de não deixar as crianças sozinhas.

Estava um pouco mais magro e contratara um massagista para ir à sua casa à noite, três por semana, para cuidar de sua perna, mas estava com saúde.

Seu problema era que, impossibilitado de trabalhar, perdera muitos clientes e agora precisava trabalhar duro para recuperar o tempo perdido. Ele era comissionado e, se não fechava negócios, ficava apenas com o salário fixo, que não dava para suas despesas. Vendo suas reservas serem consumidas, Eugênio pensava em como fazer para recuperar o que havia perdido.

Fizera vários planos e tentara colocá-los em prática, porém não conseguira fechar nenhum negócio. Não compreendia o que estava acontecendo. Parecia-lhe que de repente sua sorte o abandonara. Isso não podia continuar. Teria de reagir. Estava reexaminando seus arquivos e tentando estabelecer novos objetivos e metas. Contudo, sua cabeça estava pesada, e ele não conseguia a lucidez que sempre tivera. Sentia-se confuso. A tragédia de sua vida teria a abalado a tal ponto? Precisava recuperar-se. Se continuasse assim, poderia até perder o emprego. Seu chefe já o chamara para dizer o que esperava dele dali para frente, significava que estava no limite de sua tolerância. Ele queria resultados e, infelizmente, Eugênio não estava mais conseguindo.

Passou a mão pela testa, como querendo apagar os pensamentos desagradáveis. Disposto a reagir, respirou fundo e começou tudo de novo.

Elisa, a seu lado, observava atenta. Achava bom que ele não tivesse dinheiro como antes. Lembrou que, quando ele ganhava pouco, era mais atencioso com a família. Assim não teria como gastar fora de casa. De vez em quando, aproximava-se dele e dizia-lhe:

- Agora vai ser assim! Você não precisa de muito dinheiro. Vai fazer pequenos negócios. O suficiente para as despesas de casa. As grandes somas não são para você. É melhor não insistir.

Eugênio não registrava suas palavras, porém sentia um torpor, uma sonolência que o impedia de raciocinar livremente. Seus olhos pesavam, chegavam a lacrimejar, tal o esforço que ele fazia para concentrar a atenção no que estava fazendo.

Vendo-o confuso e perturbado, Elisa, satisfeita, tornava a sentar-se tranquilamente.

- Elisa, você precisa vir comigo.

Jairo dera entrada na sala.

- Não posso. Preciso tomar conta de Geninho.

- Sabino quer ver você. Precisa ir. Voltará quando for liberada.

Elisa fez um gesto de aborrecimento.

- O que ele quer?

- Não sei. Você não tem comparecido às nossas reuniões. Saiba que está comprometida. Precisa obedecer às regras. Deseja ser punida?

- Punida?

- Claro. Quando nos foi procurar, não concordou com nosso regulamento?

- Concordei.

- É preciso cumprir. Vamos embora.

- Vou cumprir. É que tenho tido trabalho aqui. Se eu largar, Eugênio vai fazer besteira. Preciso tomar conta dele;

- Pode fazer isso mesmo a distância. Vamos indo.

- Está bem.

Eles saíram. Eugênio respirou fundo. Precisava sair desse torpor. Havia ficado um mês sem fazer nada e se habituado a dormir demais. Levantou-se e movimentou os braços, de um lado a outro. Depois foi ao banheiro e lavou o rosto, molhou os pulsos com água fria. Sentiu-se aliviado. Voltou a trabalhar disposto a continuar, e desta vez conseguiu concentrar-se melhor.

A verdade de cada um - Zibia GasparettoOnde histórias criam vida. Descubra agora