Olivia chegou em casa apresada. Ficara trabalhando até mais tarde e dali a meia hora Amaro passaria para apanhá-la. Estava suada, cansada, e resolveu tomar uma chuveirada. Apesar da rapidez com que tomou banho, sentiu-se aliviada. Se não desse tempo para comer alguma coisa, poderia fazê-lo mais tarde.
Sabia que a porta do centro se fecharia às oito da noite, e quem chegasse depois ficaria de fora. Ela estava muito interessada naquelas sessões, nas quais experimentava novas emoções e aprendia coisas novas. Ficava motivada com o fato de qualquer pessoa poder experimentar suas faculdades mediúnicas, e a curiosidade de saber onde se situava nesse processo entusiasmava-a.
Ela gostava de entender como as coisas aconteciam e nunca se dedicara à religião por achar que tudo era hipotético e não havia como saber até que ponto o que eles diziam era verdade. Ler as pesquisas cientificas sobre os fenômenos da mediunidade era interessante, mas a possibilidade de testar até que ponto eles eram verdadeiros fascinava-a ainda mais. Amaro dissera-lhe que ela poderia experimentar.
Desde a primeira noite que fora ao centro espírita, Olivia começara a sentir diversas sensações que não entendia, mas que Amaro esclarecia, apontando as possibilidades, pedindo-lhe que ficasse atenta, observando melhor o que sentia nesses momentos.
Descobrira coisas interessantes nas quais nunca pensara, e a cada dia motivava-se mais.
Eugênio ouvia-a conversando com Amaro e não entendia como sua cunhada, sempre tão materialista, tão "durona", se deixara envolver. Ela agora tinha como certo que Elisa estava "viva" em algum lugar e tentava comunicar-se. Quando ele discordava, ela citava alguns fatos como provas, que ele julgava apenas "coincidência"
Advertia-o de que deveria ir ao centro espírita e que sua descrença estava interferindo nos problemas do dia a dia. Ele não concordava. Pensava até que ela, agora, como não tinha mais nada para implicar com ele, tomara isso como desculpa para criticá-lo.
Olivia acabou de arrumar-se e ainda teve tempo de tomar um copo de leite para poder aguentar até o jantar, que seria depois da reunião. Desceu para esperar Amaro no saguão. Ele era pontual e chegou logo depois.
Chegaram ao centro dez minutos antes da hora. Olivia acomodou-se nas cadeiras, enquanto Amaro, como sempre, dirigia-se à mesa. Pouco depois, Marilda chegou acompanhada por Inês e, vendo Olivia, cumprimentou-a amável.
- Sente-se aí, Inês. Como eu lhe disse, não posso ficar ao seu lado, preciso sentar-me à mesa - olhando para Olivia, disse com um sorriso: - Você ficará em boa companhia.
Olivia olhou para Inês e, notando seu abatimento, interessou-se. Sempre quando estava sentada lá, ficava pensando nos dramas que levam as pessoas a procurar o conforto espiritual. Ela mesma fora em busca de alívio para sua dor. A perda de Elisa chocara-a e a orfandade dos sobrinhos sensibilizava-a muito. Por isso, quando Marilda se afastou, ela procurou conversar com Inês:
- Meu nome é Olivia - disse. - Você está doente?
- Estou triste. Meu marido foi assassinado e não consigo aceitar. Tenho sofrido muito! Ele era tudo para mim. Não posso viver sem ele. Tenho vontade de morrer.
- Sinto muito... Como é seu nome?
- Inês.
- Pois é, Inês, avalio o que está passando. Perdi minha irmã em um acidente. Ela deixou três filhos pequenos... Uma tristeza! Você tem filhos?
- Dois meninos. É o que me segura, porque, se não fosse por eles, acabaria com tudo de uma vez.
- Não diga isso! Seus filhos precisam de você. A mãe faz mais falta do que o pai.
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A verdade de cada um - Zibia Gasparetto
EspiritualMuitas vezes, embalados pela ilusão, tomamos atitudes precipitadas sem pensar em como elas afetam as pessoas ao nosso redor. Julgamos que sempre a intimidade alheia e acreditamos que sempre sabemos a melhor resposta Foi assim com Elisa, uma mulher d...