Capítulo 12

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Elisa olhou aborrecida para Sabino. Ele não queria entender seu ponto de vista.

Ele dizia:

- Você não está fazendo sua parte em nosso trato. Estou advertindo, tentando evitar que seja punida, mas, se continuar assim, terei de agir. Não posso de forma alguma deixar passar. O que diriam os que estão se dedicando, cumprindo suas obrigações?

- Garanto que vou cumprir. É que ainda preciso de mais tempo. Do jeito que as coisas estão, não posso deixar Geninho sozinho. Se eu me afastar, ele vai fazer besteira. Depois, há as crianças, preciso ver se estão sendo bem cuidadas.

- Quando pediu, recebeu nossa ajuda. Não precisa ficar o tempo todo com eles. Deve desapegar-se.

- Não quero que Eugênio se case de novo. Preciso tomar conta dele.

- Para isso não precisa ficar lá. Nós temos meios de cuidar dele sem que precise perder tanto tempo lá. Está resolvido. Ou você começa hoje mesmo seu trabalho ou será confinada em uma cela de onde não poderá sair tão cedo. Você é quem sabe.

Elisa estremeceu. Arrependeu-se de haver feito esse trato. Porém, diante da expressão firme de Sabino, não duvidou que ele cumpriria o que estava dizendo. Por isso, decidiu:

- Está bem. Começo agora. O que deverei fazer?

- Jairo já tem as ordens e explicará tudo. Estou contente que tenha resolvido dessa forma. No entanto, quero deixar claro que sei até o que está pensando. Por isso, não tente enganar-me. A punição pode ser pior. Em todo caso, se fizer tudo direito, será recompensada. Sou exigente, porém justo. Sei reconhecer um bom trabalho.

A um sinal de Sabino, Elisa retirou-se. Para encontrar Jairo, dirigiu-se a uma atendente no saguão. Estava em um prédio enorme, sóbrio, decorado com pesadas cortinas cor de terra, móveis escuros exageradamente trabalhados. Pessoas iam e vinham distribuindo-se pelos corredores e salas em intensa atividade. Elisa notou que elas eram sisudas, preocupadas, solenes e formais.  Percebeu-lhe estar em um tribunal. Sentiu um arrepio percorrer-lhe o corpo. Arrependeu-se de haver se metido com eles. Suspirou fundo. Agora só lhe restava obedecer.

Encontrou Jairo e foi logo dizendo:

- Vim para começar a trabalhar. Quero saber o que deverei fazer e quando poderei ter folga para ver os meus.

Ele sorriu irônico:

- Nem começou e já quer descansar?

- Não é isso. Você sabe que o trabalho não me preocupa. O que não quero é deixar Eugênio sozinho.

- Bem se vê que você não sabe de nada. Para isso, não precisa ficar lá o tempo todo. Pode trabalhar a distância.

- Como assim?

- Seria bom tomar algumas aulas de magnetização. Temos gente especializada que poderá ensiná-la. Com a magnetização, você poderá manter contato com os seus sem precisar estar lá. Sempre que acontecer algo que não deseja, você sentirá e poderá tomar providências.

Elisa arregalou os olhos:

- É possível isso?

- Claro. É nossa especialidade. Como acha que mantemos as coisas funcionando na Terra do nosso jeito? Sem isso não poderíamos levar avante nossos projetos de justiça.

- Quando entrei aqui, percebi que estava em um tribunal.

- Isso mesmo. Aqui são analisados todos os casos e, conforme são julgados, tomadas as providências para fazer justiça.

- Eu não sabia que funcionava dessa forma. Tive medo de perder o controle sobre minha família.

- Engano seu. Quanto mais trabalhar aqui, mais terá poder sobre os seus. É aqui que vai aprender a usar sua força. Você vai me dar trabalho, não sabe de nada. Mas, se se esforçar, poderá ir longe, deixar de ser a boba que sempre foi.

A verdade de cada um - Zibia GasparettoOnde histórias criam vida. Descubra agora