O ar frio de inverno batia nas bochechas de Lia, as lágrimas há muito secas. A menina estava parada em frente ao lugar que era seu destino mais frequente nas últimas semanas. O cemitério tinha era tão familiar para Camila Santos quanto seu próprio quarto, especialmente a lápide que significava o fim da vida de seu irmão.
A pedra de um tom azulado (a cor favorita dele) estava alguns metros depois do local de descanso de Elise Allen, de vez em quando Lia encontrava Theo e os dois sorriam tristes um para o outro, um entendimento mútuo no ar. Como de costume, a jovem se sentou na grama gelada em frente ao pedaço de pedra, nem se importando com o fato de que seu bumbum provavelmente ficaria molhado, colocou as flores no vasinho de metal e começou a contar tudo novamente para seu irmão.
— Faz alguns dias que eu não venho, desculpa. - O olhar dela baixou para onde suas mãos enluvadas se retorciam. - Nós estávamos ocupados com o fim de ano e papai e mamãe tem tanta coisa para fazer no trabalho, você não acreditaria em quanto eles têm para fazer esses dias, antes eles estavam se afogando em trabalho mas agora tem um pouquinho de tempo para mim.
A rotina dela era assim desde aquele fatídico dia. Após a escola ela saía para tomar um café com seu namorado, ele assistindo enquanto ela finalizava a tarefa de casa. Depois que Jack a deixava em casa, ela pegava o carro que seus pais tinham comprado com o dinheiro do seguro e parava na floricultura (onde tinha se tornado a cliente mais assídua), depois de comprar um pequeno buquê de flores (todo dia uma diferente, já que nunca descobrira a flor favorita de Jasper), a menina estacionava em frente à entrada.
— Ah, o que eu estou esquecendo?? - Lia disse em voz alta. - Roy e Kat foram aceitos na NYU, na verdade todos nós fomos. Kat vai fazer um curso duplo de negócios e antropologia, aparentemente ela vai suceder o pai na presidência da empresa. Você ia adorar Nova York, nós fomos lá para ver apartamentos e ... Enfim, falta muito para isso ainda. O Natal está chegando e vai ser difícil, você era, ainda é, muito importante para nós. Parece meio vazio aqui.
Um vento frio carregou algumas gotas de garoa para cima da adolescente, e ela decidiu finalizar a conversa.
— Acho que o senhor Donnel percebeu como todos estavam tristes porque ele disse que vai preparar a "celebração mais natalina que nossos olhinhos já viram" - A menina pontuou as palavras fazendo aspas com os dedos. - Então semana que vem nós todos, incluindo tia Val, tia Cathy, papai e mamãe, vamos para lá no dia 24 e só sairemos quando Senhor Donnel estiver satisfeito.
A chuva apertou e ela se pôs de pé, dizendo uma oração rápida e correu até seu carro. Em meio às gotas de chuva, ela viu Theo entrando em seu próprio carro.
***
As festa de fim de ano sempre foram algo a ser celebrado. Luzes em cada casa da vizinhança, crianças brincando na neve em seus quintais, a atmosfera de amor, alegria e compreensão, tudo isso contribuía para que o mês de dezembro fosse o mês favorito de Katherine Marie Donnel. Antes era porque esses eram os únicos dias que sua família se assemelhava às outra famílias, passando tempo juntos e se alegrando mas esse ano o motivo era completamente diferente. Claro, ela trocaria tudo para trazer Jasper de volta mas ela sentia que o grupo finalmente seria capaz de seguir em frente.
— Pratos verde ou vermelho escuro, Senhorita Donnel?
— Quantas vezes eu tenho que dizer para me chamar de Kat?
Missy corou e continuou a ajudar a menina, que agora tinha cabelos pretos, a colocar a mesa. Todos os detalhes dos dois dias de celebração tinham sido planejados com muito carinho por Katherine e seu pai. Como nenhum dos dois podia se lembrar da última vez que tinham celebrado o Natal com pessoas que realmente amavam, decidiram não poupar esforços em nenhum aspecto tradicional da data, a árvore no canto, ao lado da lareira, era a prova disso. Quase um monumento com seus dois metros e meio de altura, decorada até dizer chega, o objeto foi a primeira coisa a atrair o olhar de Lia quando entrou pela porta.
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ANÔNIMOS | ✔️
Roman pour Adolescents"Esperamos você às quartas feiras, às 20:00, na sala 5 do bloco B do centro comunitário de Detroit". Era isso que dizia no panfleto que foi entregue para cada um daqueles jovens. Mal sabiam eles que aquele pedaço de papel seria o ingresso...