Meu (des)amor

XXIV

eu sempre estive a sua disposição para ajudar a te reerguer e remediar as tuas feridas.
sempre te ajudei a se curar, mas o que eu faço quando é você que me machuca? quem me ajuda?

o esforço que eu faço para te levantar me desgasta e enfraquece a minha pele. hoje eu tenho uma superfície frágil devido ao tempo de entrega solitária, trabalhando sozinha para te reerguer enquanto você me vê afundar e assiste imóvel.

em que momento eu deixei isso acontecer?

em que momento eu deixei de me importar com o que eu sinto e passei a priorizar os sentimentos de alguém que me usa como superfície de apoio para os dias difíceis?

como você consegue dormir à noite sabendo que tem alguém como eu ao seu lado e ainda assim acordar no dia seguinte e me tratar como se eu fosse muito menos do que tudo que você mais precisa?

você me diminui e me faz acreditar que o pouco que eu recebo é amor.
que eu tenho que aceitar.
e que é normal doer, porque amar é assim.

mas não é.
não é.

eu cansei de procurar amor onde nem existe empatia.
eu preciso de alguém que me dê as certezas que eu nunca tive. alguém que segure o meu rosto com força e abra os meus olhos e me faça enxergar o tamanho da minha imensidão. que me faça acreditar por mais de alguns minutos que eu sou luz e consigo iluminar uma cidade inteira.

eu sou muito mais do que os seus olhos podem ver. sinto muito se você não é capaz de enxergar.

eu preciso de alguém que segure a minha mão e me tire desse buraco negro. alguém que diga que vai ficar tudo bem. porque eu preciso acreditar que vai.

hoje eu preciso de um remédio que me cure de você.