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Areia

Jennie regava os canteiros em sua janela, vendo as flores que acabara de plantar florescerem. Já não se assustava com isso. Era a segunda mais velha, estando dois anos atrás de Jisoo, por isso imaginava que logo ficaria mais forte.

Era fato que o aumento de idade significava aumento de poder. Jisoo agora controlava o clima frio, podendo fazer nevar e chover granizo. Agora Jennie, além de terremotos, podia levantar pedras no ar e controlar algumas plantas pequenas. Estava ansiosa quando finalmente seria forte o suficiente para fazer um carvalho enorme se mover.

Batidas na porta a tiraram de seus devaneios, deixando as plantinhas com seu crescimento natural a partir dali.

― Sabe, você tem que controlar suas plantas. Acordei com uma rosa branca na minha cômoda. ― disse Rosé em um tom brincalhão após entrar no quarto.

― M-mas... Não fui eu.

O sorriso da ruiva faliu, dando lugar a uma expressão desacreditada. Ela correu até o quarto e buscou a flor, mostrando para a amiga que ainda tinha a mesma face de medo enquanto negava com a cabeça e dava passos pequenos para trás.

― E-eu não fiz isso. ― continuou, sentindo os olhos marejados ― Se fosse minha, ainda estaria com a raiz, ainda teria os e-espinhos.

O abajur ao lado da cama balança atraindo a atenção das duas. A água que continha dentro de um copo de vidro começou a se agitar. Jennie olhou para os próprios pés descalços, contemplando os dedos brancos começarem a ficar sujos por uma leve camada de areia que se parecia com a da praia. Rosé se aproximou e tocou o ombro da amiga, chamando sua atenção para seu rosto.

― Não precisa se preocupar, não deve ser nada... ― respirou fundo perguntando se ela mesma acreditava nas próprias palavras.

Todas as manhãs de treinamento, elas eram acordadas pelo perfume das rosas brancas dos candelabros na porta de entrada que estava sendo aberta, revelando um Chae eufórico. O cheiro era bom, mas causava desespero nas crianças. Se uma delas falhasse, seria punida, e odiavam ter de pensar nisso.

Num ato de fúria, Rosé queimou a flor em suas mãos, derramando a primeira lágrima que, antes mesmo de chegar ao meio de sua bochecha, já tinha evaporado. Encarou por um tempo as cinzas da rosa voarem até a janela e se perderem por aí, foi de encontro a amiga, mas não a tocou, ainda estava quente e temia machucá-la.

― Tudo bem, unnie, ele não está aqui. Se tivermos sorte, seu corpo está afogado no tsunami de Lisa há três meses atrás, junto com a população de Osaka. ― sorriu, finalmente podendo tocar seu rosto e afastar o cabelo que caiu em sua fronte, tampando parte de sua beleza ― Lisa fez bem quando inundou aquela cidade. E em pensar que eles acharam que o tsunami não iria passar de uma simples enchente... ― riu sarcástica ao lembrar de ver a enorme onda passando por baixo de si. Elas já estavam no avião rumo à Tokyo e Lisa tinha se trancado no banheiro com Jisoo depois de receber um beijo quente da mesma. Riu mais uma vez ― Aquela cidade era podre. Aquele homem era podre. E ambos estão mortos. Nós estamos vivas e temos umas às outras. Está tudo certo.

A castanha sorriu, abraçando a mais nova, elas riram audivelmente e passaram o resto da tarde brincando de Deus.

E foi aí que suas puras almas começaram a se corromper.

~ Jennie ~

EVIL - BlackpinkOnde histórias criam vida. Descubra agora