EVIL - Blackpink

2.9

Capítulo dedicado à lovelarax15

• Delírio •

A maneira como elas se encaravam tinha mudado. Estavam cientes do que tinha acontecido, possuíam todos os requisitos para dar continuidade ao seu destino, a aquilo que lhes fora traçado sem data de validade. O fim estava próximo, de qualquer maneira, elas estavam cansadas de fugir do inevitável. Eram capazes de tudo.

Sim, de tudo. Cortariam a garganta de quem ficasse entre elas e o horizonte. Se era aquele o motivo de sua dor, iriam cortá-lo fora, arrancar suas entranhas e moê-lo até que nada restasse além da fumaça, do vapor, da poeira, da faísca tímida. Sequer pensavam em suas almas ou na ironia de possuí-las - deuses não deveriam se preocupar com tal imundície, oras - aceitavam o abismo num abraço e em breve mergulhariam nele. A dor seria a única companheira que jamais as deixaria.

― Hyungwon-oppa, você tem certeza de que isso vai funcionar?

O homem suspira, ajeitando o emblema de monge no peito. Lisa, embora muito prestativa, era sagaz demais. Imaginava a catástrofe que seria caso ela tivesse sido a escolhida para o sacrifício invés de sua outra irmã. Não, Jisoo não teria conseguido finalizá-la, os motivos eram óbvios naquele ponto. Havia apenas uma maneira de quebrar a maldição. O caminho escolhido deveria ser rigorosamente traçado, cada erro será fatal.

― Não. ― sorri. ― Contudo, Lalisa, você não deve se preocupar com isso. Seu nêmeses em breve será revelado, sua língua logo saboreará o veneno da vingança.

A loira, ao ouvir as palavras do aliado, respira fundo, tentando acalmar seu próprio coração. Cada movimento que faziam tinha consequências, o carma vinha sempre triplicado para elas, seja em forma de mais sofrimento ou personificado. Matar a pessoa errada abria brechas, buracos no fino cobertor que as separavam da loucura, confiar em outro alguém além de si mesmas equivalia a colocar a cabeça em baixo da guilhotina, trair suas irmãs dava poder ao obscuro de separá-las na próxima vida. Um nêmeses, um anti-deus,  um inimigo astuto e poderoso, alguém que sempre irá tentar lhe matar, o único páreo, o inimigo, o impedimento. O farfalhar das asas da borboleta trazia-lhes a vida. Agora, seus antagonistas caçariam as delas.

― Quem poderia imaginar, não é? ― Chae a encara, prestando atenção em suas palavras. ― Um pequeno erro do passado gerou algo tão complexo quanto outro ser, alguém hábil o suficiente para nos conquistar e, em seguida, trair-nos. ― sorri, erguendo a cabeça e encarando as estrelas da noite escura. ― Anti-Lalisa... anti-Jisoo, anti-Jennie... todos eles ainda em nosso caminho. 

― Agora compreende o porquê de apenas uma ser apta ao sacrifício?

Era inevitável não comparar suas irmãs umas com as outras. Jisoo era uma líder nata, maquiavélica e inteligente, suas estratégias quase nunca possuíam falhas e, mesmo que a inciativa não fosse dela, o plano sempre teria de passar por sua aprovação. Era, acima de tudo, o porto-seguro das irmãs, alguém a quem elas tinham a convicção que poderiam recorrer, chorar, derramar a frustração; Reconheciam, inclusive, que a áurea sombria que encobria os olhos acinzentados refletia proteção. Ai daquele que ousasse tocar em uma das suas! Coitado do homem que resolveu violá-las, este que agora jazia com seu cadáver estilhaçado em mil pedaços, separados enquanto ainda tinha vida, na melhor e mais lenta das torturas. Pobre do homem que se deixasse levar pelo rosto doce e sorriso amável. A fera sempre se escondia por entre os arbustos, ela era uma leoa que comandava os ataques e, contra todas as expectativas da natureza, ainda concedia a mordida final. Ah, Jisoo significava justiça. Ela comandava a si mesma. O vento, por mais tortuoso que parecesse, sempre conhecia todos os caminhos.