25 de abril de 1964

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Algumas semanas depois soubemos que o Marechal Castello Branco havia tomado o poder. Porém, desde o primeiro dia, soubemos de perseguições a professores, estudantes, mandatos políticos que foram caçados... Enfim. Era perseguida toda e qualquer coisa, ou pessoa que fosse contra o novo Regime. E, como se não bastasse isso tudo, eles diziam querer acabar com a ameaça do Comunismo e a corrupção.

— Estamos fazendo isso pelo bem do Estado. — disse meu pai todo orgulhoso, e rindo-se feliz de tudo que acontecia.

— Sim... — meu irmão, Lucas, apenas concorda meneando a cabeça em sinal de respeito ao General Maurício de Lima Tavares, não apenas por ser seu superior de acordo com a hierarquia militar, mas também por ser nosso pai.

— Mas por quê? Para que isso tudo? Não precisa de tanto. — protestamos eu e Aline , enquanto Dª. Carmen da Silva Tavares, mamãe, permanecia calada, sem fazer absolutamente nada para defender as próprias filhas, mesmo tendo opinião forte.

— Deixa disso, menina... — ela disse apenas.

Porém , eu e Aline sabíamos que ela estava se contradizendo, sabíamos que mamãe não concordava com absolutamente nada daquilo. Ela estava apenas dizendo o que papai queria ouvir, para, enfim, olhar seriamente para nós duas de novo, como se quisesse nos mandar calar a boca de uma vez.

— Não era para ser assim. — choramingava Aline, aos suspiros.

— Já chega! — eu gritava, batia na mesa, e saia afim de me trancafiar no meu quarto, acompanhada dos meus livros, meus discos, minha máquina de datilografia, minhas fitas, meu gravadorzinho, minhas composições, minhas revoltas e, por fim, na fiel companhia de meu violão, que passava horas comigo.

Eu só queria tentar entender aquilo tudo, para mim não havia motivo, era tudo uma grandessíssima e bela desculpa esfarrapada inventado por eles. Estava tudo tão bem como era antes, aos meus ouvidos, nada do que me diziam se ancaixava, nada ficava em seu devido e respectivo lugar, como lhe é de costume.

Enfim, acabei por adormecer pensando nisso, e tentando não imaginar no que talvez poderia vir a acontecer nos próximos dias, meses, ou até mesmo nos anos que se seguiriam.

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