1 de abril de 1964

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O dia começou estranho hoje. Quando acordei papai não estava em casa, "já deve ter ido se apresentar no quartel com o Lucas", pensei. Depois de me aprontar para ir para a faculdade, um estágio de jornalismo que fazia mesmo tendo apenas 17 anos, peguei o jornal do lado de fora de casa, e assim que pus os olhos na manchete principal, tomei um susto.

— Mamãe! — chamei — Mamãe! Vem aqui ver isso.

— Que foi, Sofia? — ouvi minha irmã perguntar enquanto se aproximava descendo as escadas com pressa — Para que esse escândalo?

— Lê isso aqui, Aline. — apontei para a manchete do jornal com a mão trêmula.

— Santo Deus! — exclamou empalidecendo rapidamente e começando a suar frio — Mamãe, vem aqui!

— Vocês duas só sabem gritar? — ela reclamou se aproximando — O que foi? Para que toda essa gritaria?

— Lê isso aqui, mãe. — pedimos eu e minha irmã.

Ela correu os olhos pelo jornal rapidamente várias vezes, estava pálida, incrédula, assustada.

— Onde está o pai de vocês? E o Lucas? — perguntou nervosa.

— Papai saiu ontem à noite e ainda não voltou, e o Lucas saiu logo cedo sem avisar nada , mas me lembro de ouvir ele dizendo que ia viajar... Não tenho certeza. — Aline fala já um pouco mais calma.

— Aí meu Deus! Mas calma, vamos nos acalmar. Seu pai é militar, e de acordo com o que diz aqui, é por motivos de "Segurança nacional". — minha mãe aponta o jornal lendo rapidamente mais uma vez.

Até tentei ficar calma, mas não consegui. Então fui disfarçadamente para perto do telefone o tirando do gancho e discando o número da casa do meu namorado.

— Marcelo ... — chamei meio nervosa.

— Quê? Ah .. Oi meu anjo, o que houve? Você parece nervosa. — ele pergunta preocupado.

— Você já leu o jornal de hoje? Sabe o que está acontecendo?

— Ah, então é isso ... Sei sim. Me avisaram que não tem aula na faculdade hoje. Quer sair um pouco para esfriar a cabeça?

— Quero sim.

— Certo, daqui a pouco chego aí.

— Tudo bem, estou esperando.

Ouço ele desligar e volto ao meu quarto. Me arrumei rápido tentando distrair a cabeça e esquecer do choque da notícia da entrada do Regime.

Assim que o Marcelo chegou, saímos depressa e só voltamos pra casa já tarde da noite.

Tentei fazer o máximo para pensar que aquilo era apenas temporário, que acabaria logo, como qualquer outra coisa que parece que vai demorar uma eternidade, mas na verdade não demora.

Mas mal sabia eu que aquilo era só o começo... E que eu ainda passaria por muita coisa.

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